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‘Assumi o compromisso de dar continuidade a sua luta. Está no meu DNA’, diz filha de Chico Mendes à REVISTA CENARIUM
A vida no seringal moldou no jovem seringueiro um sentimento de revolta contra a injustiça, mesmo sentido por Ângela Mendes (Reprodução/ Internet)
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16 de dezembro de 2020
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
MANAUS – “Ao longo desses últimos anos, eu tenho sentido cada vez mais a necessidade de estar diante de tudo aquilo que o meu pai deixou de legado, como uma das filhas dele, assumi esse compromisso de dar continuidade a sua luta. Está no meu DNA”, afirmou Ângela Mendes, filha de Chico Mendes em entrevista exclusiva à REVISTA CENARIUM. Na semana que a morte do pai completa 32 anos, Ângela Mendes relatou sobre a infância longe do pai e o legado deixado por ele que, atualmente, tem sofrido retrocesso por causa das políticas públicas do governo Bolsonaro.
Ângela Mendes é um dos três filhos do seringueiro. Ela conta que cresceu longe do pai, por conta de tratamentos de saúde que precisou fazer na época, mas que sempre que encontrou o pai quando criança, recebia carinho e afeto do líder assassinado em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos.
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“Meu pai sempre foi uma pessoa íntegra, de um pai muito carinhoso. Eu não fui criada pelos meus pais. Eu saí da companhia deles ainda criança para fazer um tratamento de saúde, porque era muito difícil no seringal, naquela época. Como no seringal não tinha médicos, o diagnóstico de doenças era difícil. Fui criada pela irmã da minha mãe e o companheiro dela. Para estudar, precisei ser registrada por eles e passei um bom tempo sem falar com o meu pai”, falou Ângela.
Dois anos antes do pai ser morto, Ângela compartilhou que passou a conviver um pouco mais com Mendes e que foi a partir desses encontros que conheceu a história de resistência e luta pelos seringueiros.
“Eu sempre digo que tudo o que eu sei do meu pai hoje foi por meio dos depoimentos, de falas dos seus companheiros e de suas companheiras e de algumas pessoas da família. Tudo que eu leio sobre ele [Chico Mendes] é uma constante descoberta, porque eu sempre descubro comportamentos e pensamentos. Então, para mim, é tudo diferente, mas é bacana ao mesmo tempo, porque ele tá vivo e toda sua história, toda fala, todo depoimento que eu ouço dele, é como se ele estivesse ali, presente”, relatou a filha.
Assassinato
Ângela descreveu que o assassinato do pai mexeu muito com ela e com a sociedade. O assassinato tirou da minha zona de conforto, ignorante sobre tudo que a cercava um mundo que não era dela e que foi muito difícil para absorver tudo o que aconteceu.
“O assassinato do meu pai mexeu com todo mundo, mexeu com as pessoas mais próximas e até com as mais distantes dele, imagina comigo. Então, eu levei muito tempo para me recuperar de tudo isso. Para mim passar, contribuir e entender a luta dele, passar a entender sobre a sua incessante justiça, socioambiental, pela busca de igualdade, isso pra mim, como eu te falei, eu fui aprendendo aos poucos com os amigos, com os companheiros e aí chegando à luta”, contou a filha.
História
Chico Mendes nasceu no dia 15 de dezembro de 1944 no seringal Porto Rico, próximo à fronteira do Acre com a Bolívia, em Xapuri, Estado do Acre. Filho de seringueiro, passou sua infância e juventude ao lado do pai cortando seringa.
A vida no seringal moldou no jovem seringueiro um sentimento de revolta contra a injustiça. A atividade econômica de extração da borracha, na Amazônia, foi sempre pautada por relações de grande exploração. O aviamento, sistema de troca de mercadorias industriais pelo produto extrativo, criou uma sociedade em permanente miséria e endividamento. Rebeliões eram sufocadas pela violência de forças policiais. E um rígido regulamento de subordinação aos seringalistas, os donos dos seringais, punia com castigos físicos aqueles que ousavam desrespeitar.
O principal legado de Chico Mendes são as Reservas Extrativistas, que representam a primeira iniciativa de conciliação entre proteção do meio ambiente e justiça social, antecipando o conceito de desenvolvimento sustentável que surgiu com a Rio 92.
Morte
Ao longo da sua luta pela preservação do meio ambiente e melhores condições de trabalho para os seringueiros, Chico Mendes foi alvo de ameaças de morte por sua militância, principalmente ao ganhar notoriedade na política e respeito internacional. O sindicalista chegou a contar com escolta policial para garantir sua segurança.
Em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, quando saía para tomar banho, disparados por Darci Alves, o qual cumpria ordens de seu pai, Darly Alves, grileiro de terras da região.
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