Ataque aéreo, na Etiópia, deixa ao menos 56 civis mortos, incluindo crianças

Homens em fila aguardam doação de comida em uma escola primária na cidade de Shire, no Tigré, transformada em acampamento de deslocados pelo conflito - Baz Ratner - 15.mar.2021/Reuters

Com informações da Folhapress

ADIS ABEBA – Ao menos 56 pessoas morreram e outras 30 ficaram feridas, neste sábado (8), após ataque aéreo em um acampamento de deslocados, na região do Tigré, no norte da Etiópia, numa demonstração de que mesmo o diálogo proposto pelo governo, na véspera, ainda trará duras consequências para a população.

A informação foi confirmada por dois trabalhadores humanitários à agência de notícias Reuters. Por medo de represálias, não quiseram se identificar, mas relataram que o local atacado era abrigo de muitas crianças e idosos, que estão entre mortos e feridos. O governo já teria confirmado o número de vítimas.

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O conflito no Tigré, que opõe o governo e a TPLF (Frente de Libertação do Povo do Tigré), teve início há mais de um ano e desencadeou uma onda de deslocados internos, além da deterioração das crises econômica e social. Calcula-se que 2 milhões de pessoas deixaram suas casas e 400 mil passam fome.

O porta-voz militar do país, Getnet Adane, e o porta-voz do governo, Legesse Tulu, não responderam a pedidos de comentários feitos pela Reuters, assim como o porta-voz do primeiro-ministro Abiy Ahmed, Billene Seyoum. O premiê está no campo de batalha, há cerca de um mês, ao lado dos soldados do país.

A TPLF acusa o governo de ser o autor dos ataques. O porta-voz do grupo, Getachew Reda, escreveu em uma rede social que o ataque com drones é insensível. “A parte mais triste dessa história é que as vítimas são pessoas deslocadas pela campanha genocida promovida pelo regime”, concluiu.

Um dos trabalhadores humanitários, que visitou o hospital geral Shire Suhul, para onde foram levados os feridos no ataque, relatou à Reuters conversas que teve com alguns dos deslocados. Asefa Gebrehaworia, 75, disse ao funcionário que perdeu amigos no episódio. Os combates o obrigaram a deixar sua casa, e o ataque recente destruiu o acampamento onde, embora enfrentasse fome, possuía abrigo.

Antes do último ataque, pelo menos 146 pessoas haviam sido mortas, e 213, feridas, em ataques aéreos na região do Tigré, desde 18 de outubro, de acordo com um levantamento feito por agências humanitárias.

O governo etíope havia anunciado, na sexta-feira (7), o início de um diálogo com a oposição. Também libertou presos políticos, os quais eles, Sebhat Nega, cofundador da TPLF, e Abay Weldu, ex-presidente da região do Tigré, principal reduto da oposição. O governo dos Estados Unidos disse que o premiê Ahmed está pavimentando o caminho para a reconciliação nacional. “Saudamos a libertação de prisioneiros como um movimento positivo neste contexto”, disse um porta-voz do Departamento de Estado americano.

Já a União Europeia (UE) disse que, embora a libertação dos líderes da oposição tenha sido uma medida positiva, o conflito no Tigré, a exemplo do mais recente ataque aéreo, ainda preocupa. “Todas as partes devem aproveitar o momento para encerrar, rapidamente, o conflito e entrar no diálogo”, afirmou o bloco.

A TPLF, por sua vez, reagiu com ceticismo. “A rotina diária, de Ahmed, de negar medicamentos a crianças indefesas e de enviar drones contra civis vai de encontro com suas alegações hipócritas”, disse o porta-voz Getachew, no Twitter. A TPLF acusa as autoridades de imporem um bloqueio à região, levando à fome e à falta de combustível e remédios. O governo nega ter bloqueado a passagem de comboios de ajuda.

O etíope Awol Allo, professor de direito na Universidade Keele, na Inglaterra, disse em entrevista ao jornal americano The New York Times que o anúncio de Ahmed é uma manobra política. “Um diálogo nacional para resolver nossos problemas não é o mesmo que negociações de paz para acabar com a guerra.”

O premiê ganhou o prêmio Nobel da Paz, em 2019, pelos esforços conciliatórios e o empenho em encerrar a guerra com a vizinha Eritreia. Desde que teve início o conflito no Tigré, porém, sua figura tem sido questionada devido a acusações de abusos generalizados de direitos humanos e limpeza étnica na região.

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