Ativista Samela Sateré-Mawé diz que já sofreu preconceito por ter traços sutis de indígena

A jovem foi a entrevistada desta quinta-feira, 15, do “CENARIUM ENTREVISTA”, com Andréia Vieira, exibido pela TV WEB CENARIUM (Gisele Coutinho/Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Samela Sateré-Mawé, de 24 anos, é ativista indígena e ambiental e uma das mais jovens vozes do povo Sateré-Mawé, que vive na zona Oeste de Manaus. Com longos cabelos lisos e os olhos da cor de mel, a jovem que ganhou destaque na pandemia ao fazer parte do movimento Fridays for Future, liderado pela ativista sueca, Greta Thunberg, afirma que já sofreu preconceito por ter traços sutis de indígena.

“Passo muito por isso, principalmente, nas redes sociais. Isso me afetava muito. Logo que eu entrei na universidade, as pessoas falavam coisas, que eu era uma índia fajuta, que não parecia, essas coisas de estereotipo relacionado aos povos indígenas. Quando a gente começou a se organizar, enquanto movimento de estudantes indígenas, teve várias conversas entre nós e antropólogos. E a afirmação e autoafirmação todos os dias batendo na nossa porta, a gente acaba aprendendo a se defender e aprende que isso são estereotipos que as pessoas criam em relação aos povos indígenas”, contou a jovem.

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Samela é estudante de Biologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), faz parte da Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawe e da equipe de comunicação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), além de ser artesã, apresentadora do Canal Reload e consultora da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Nesta quinta-feira, 15, a jovem foi a entrevistada do programa CENARIUM ENTREVISTA”, com Andréa Vieira, exibido pela TV CENARIUM e disponível no Youtube.

Andréa Vieira entrevistou a jovem ativista nesta quinta-feira,15 (Reprodução/TV WEB Cenarium)

Samela contou à CENARIUM sobre a origem da associação, os preconceitos sofridos por ser indígena, representatividade da juventude Sateré e a luta contra os projetos considerados por ativistas e ambientalistas como genocidas. Para a jovem, colocar os povos indígenas num padrão de estereótipos, com cabelos lisos, olhos escuros e pele escura, é negar todo o processo violento e colonizador que as mulheres indígenas desde a invasão dos portugueses ao território brasileiro, em 1500.

“Cada povo é diferente, a gente não pode generalizar os indígenas como tendo uma só característica. Nós temos os Pataxós que têm cabelos bem cacheados e uma pele mais escura. Temos indígenas bem claros no Sul do Brasil, como os Kaingang e os Xokleng, e para cá nós também temos uma diversidade. A gente tenta, eu tento desmistificar isso nas redes sociais. É quebrando o tabu, paradigmas nas redes sociais, utilizando celular, Facebook na universidade que a gente quebra isso”, frisou.

Nasci no movimento

Samela conta à CENARIUM que nasceu em meio aos movimentos indígenas de seu povo, indo para atos e manifestações, balançando o maracá, um instrumento musical indígena, também, conhecido como chocalho. São essas lembranças que ela tem da infância e que busca manter, sendo uma das vozes Sateré-Mawé.

“Eu nasci em 1996, depois da oficialização da associação, da regulamentação em 1995: o primeiro ato, estatuto, o primeiro tudo da associação. Então eu nasci no movimento, em reuniões, indo para atos e manifestos. Tenho essas lembranças de infância, de estar em alguma feira, exposição, de fazer artesanato, de coletar sementes na cidade, de estar dormindo em baixo da mesa, na venda de artesanatos, ou estar balançando o meu maracá em atos e manifestos”, lembrou Samela.

Mulheres indígenas da Associação Sateré-Mawé (Arquivo Pessoal)

De acordo com a jovem, a Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawe surgiu após a avó dela e outras mulheres Sateré-Mawé chegarem a Manaus com a esperança de estudar e, consequentemente, um futuro melhor para se viver. Com o impacto da ‘cidade grande’, no entanto, as indígenas precisaram ir trabalhar em casas de família, lavando roupa, cuidando de criança e outros afazeres domésticos, sofrendo ainda abusos e o apagamento da identidade ao não poderem falar a língua materna na capital, por conta de preconceitos existentes contra os povos indígenas.

Para enfrentar o preconceito e fortalecer a causa indígena, a avó de Samela fundou a associação, com o apoio de outras mulheres da etnia. Desde então, o grupo que hoje tem 60 associadas vem participando de reuniões, atos, manifestos, tendo como principal fonte de renda o artesanato.

Processo colonizador

Samela Sateré-Mawé afirma que os indígenas sofrem diariamente com o processo colonizador, que tenta apagar a identidade, cultura e língua dos povos tradicionais. É por conta disso, conta a jovem, que existem as associações e as comunidades indígenas, para manter a cultura de milênios, a língua, os rituais e os costumes das populações originárias, repassando para as próximas gerações e evitar o apagamento histórico.

“O processo colonizador acontece todos os dias e não foi diferente quando elas chegaram em Manaus. O processo colonizador apaga a nossa identidade, tenta apagar a nossa língua, cultura e nega a nossa identidade enquanto indígena, fala que nós não somos mais indígenas por estarmos na cidade. Mas, independente de onde nós estamos, nós somos indígenas e nós tentamos manter a nossa cultura. É justamente por isso que nós somos organizados em comunidades e associações”, salientou.

A entrevista completa pode ser conferida aqui:

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