Ativistas criticam falas preconceituosas de deputados do AM: ‘É vergonhoso; eles usam termos incabíveis’
12 de março de 2021
Wilker Barreto e Socorro Papoula. Versões divergentes de uma sociedade que precisa mudar (Reprodução/Samuelknf)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Ativistas do movimento feminista e político criticaram nesta sexta-feira, 12, as falas preconceituosas de deputados estaduais do Amazonas, durante debate na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado (Aleam). Na ocasião, um dos parlamentares chamou o colega de ‘gatinho’, que rebateu: ‘não sou sua nega’.
A discussão ocorreu entre os deputados Sinésio Campos (PT) e Wilker Barreto (Podemos), que travaram um embate com termos figurados, em tom pejorativo, para se atacarem. Em um dos pronunciamentos dos políticos, um deles coloca até “sob suspeita” a masculinidade de um colega, enquanto outro usa de palavras misóginas e racistas à mulher.
“Essa não é uma função do parlamentar. Infelizmente, no Brasil, ultimamente, a gente tem ficado impactado com a postura do presidente, dos parlamentares, sejam eles vereadores ou deputados estaduais e federais, que é de extrema pobreza. Eles precisam repensar suas posturas. Penso que têm coisas mais importantes para serem discutidas”, salientou a ativista feminista e atriz, Socorro Papoula.
Ativista feminista e atriz, Socorro Papoula critica postura de parlamentares (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Para a ativista, os deputados precisam discutir temas que sejam benéficos à população como pautar medidas para diminuir o índice de violência contra a mulher. Socorro comentou, ainda, que o descaso com a sociedade, com a vida das mulheres, e, ainda, com o preconceito, é racismo estrutural. “Ele está na cabeça das pessoas de uma forma preconceituosa e que acabam usando termos que não cabem neste momento e que não é mais politicamente correto”, lamentou.
Para o advogado e ativista político, Efraim Félix, o Amazonas não está bem representado. Nas redes sociais, ele fez um breve desabafo sobre os deputados, ao compartilhar a reportagem da REVISTA CENARIUM. “A gente está muito lascado com o legislativo estadual”, lamentou, no Twitter.
Reportagem da REVISTA CENARIUM jogou luz sobre o racismo estrutural presente nas falas e discursos de muitos representantes do povo (Reprodução/ Twitter)
À REVISTA CENARIUM, Efraim comentou que o parlamento do Amazonas perde tempo e desperdiça recursos públicos com discussões infrutíferas e o uso de frases racistas e misóginas. Para ele, questões como a que ocorreu na Aleam, nessa quinta-feira, 11, reforçam que muitos deputados não estão preparados para a função para a qual foram eleitos.
“É inadmissível que ainda hoje alguém considere normal usar uma expressão que remete à violência contra mulheres negras, como se tudo fosse permitido. Não à toa amargamos mais de 11 mil mortes durante a pandemia, resultado da omissão de quem deveria fiscalizar e propor soluções com base em evidências”, pontuou.
O debate
A discussão entre os parlamentares começou após Sinésio Campos, em seu discurso, repercutir o pronunciamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve os direitos políticos devolvidos na segunda-feira, 8, e criticou o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), na gestão da pandemia.
Na tentativa de tentar desconstruir o discurso do deputado do Partido dos Trabalhadores, Wilker Barreto usou termos figurados, em tom pejorativo, para atacar o colega. Ao retrucar o parlamentar oposicionista ao Governo do Amazonas, Sinésio buscou a autoafirmação de seu gênero para responder: “Gatinho, não! Sou muito macho!”.
O embate se perdura com Sinésio citando a palavra “nega”– que, também, é usada como sinônimo de negra, no feminino – e afirmando a Wilker Barreto que ele deveria usar a frase irônica com as “negas dele”, referindo-se às mulheres com as quais o deputado do Podemos tivesse “intimidade”. As trocas de farpas foram encerradas após o presidente da Aleam, Roberto Cidade (PV), intervir.
A reportagem da CENARIUM entrou em contato com o deputado Roberto Cidade, presidente da Aleam, por meio da assessoria de comunicação, mas, até a publicação desta matéria, não obteve retorno.
Efeito pandemia
No Brasil, uma mulher morre a cada nove horas, de acordo um estudo feito pelo projeto “Um Vírus e Duas Guerras“, feito por parceria entre sete veículos de jornalismo independente, que visa monitorar a evolução da violência contra a mulher durante a pandemia. Desde o começo da Covid-19 no País, em 2020, 497 mulheres perderam suas vidas. Segundo o levantamento, foi um caso de feminicídio a cada nove horas, entre março e agosto, com uma média de três mortes por dia.
“Temos uma média que a cada nove horas uma mulher é assassinada por conta do feminicídio. Era para estarem pensando em políticas públicas para resolver essa situação. A cada dois minutos, uma mulher sofre violência e a cada oito minutos, uma mulher sofre estupro”, finalizou a ativista feminina Socorro Papoula.
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