Ato de gestão e ato de gestor: compreender a diferença é essencial na hora de noticiar os fatos

Para o advogado Christian Naranjo há uma linha muito tênue entre a figura do gestor e a gestão pública composta por toda uma estrutura (Reprodução/Internet)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Pensar na pauta, apurar dados, pesquisar fontes, entrevistar personagens e buscar documentos são apenas algumas das diversas etapas que permite ao jornalista e aos veículos de comunicação a noticiar com credibilidade. Quando a pauta envolve eleições políticas, gestão pública e questões que exigem entendimento jurídico, os cuidados precisam ser redobrados, qualquer equívoco de compreensão, seja um simples nome/termo pode levar o profissional a cometer erros potencialmente graves.

De acordo com o advogado Christian Naranjo, há uma linha muito tênue entre a figura do gestor e a gestão pública composta por toda uma estrutura. “É extremamente precipitado vincular a figura, por exemplo, de um governador, ou qualquer chefe de poder, com algo que está acontecendo nas secretarias, mesmo porque os secretários das pastas também prestam contas, são ordenadores de despesas, e respondem pessoalmente por excessos,” salienta o advogado.

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O profissional ressalta ainda o necessário cuidado quando a informação tem como origem documentos jurídicos. “A leitura atenta, a confirmação que tal nome está de fato, sendo citado, ou vinculado aos fatos, pode evitar futuras dores de cabeça.”

“Ato de gestão e ato de gestor”

Na leitura de Naranjo, compreender a diferença entre o ato de gestão e o ato do gestor auxilia para que não haja confusão em noticiar pautas que relatem a temática. O profissional também ressalta o cuidado quando a informação exige acessos a documentos jurídicos. Uma boa leitura e constatação de que tal nome está de fato, sendo citado, pode evitar futuras dores de cabeça.

“Ainda que seja uma pauta complexa, posso exemplificar da seguinte maneira: digamos que sai uma notícia de uma investigação sobre uma obra de um governo de qualquer Estado do Brasil, o que está sendo investigado ali é o ato de gestão (a obra) e não o governador. É diferente se de repente sai a notícia de que o governador desse tal Estado é flagrado saindo de encontro com empreiteiros, aí é o ato do gestor. Vale a dúvida e o questionamento de que tal gestor estava recebendo propina”, explica Christian Naranjo, que aproveita a ocasião e destaca.

“Só mencionem o nome do gestor se ele, de fato, for citado, diretamente, como objeto da matéria. Entendam que tudo depende muito do caso concreto, são sutilezas e pequenos detalhes que precisam de orientações para que um termo ou uma palavra mal-empregada promova uma interpretação errônea.

Cuidado redobrado

Para a jornalista e mestre em Ciências Políticas Liege Albuquerque a checagem de fonte é um ato fundamental para quem vai noticiar o fato. Para a jornalista, uma apuração bem realizada resulta em um material completo e de qualidade.

“Penso que mesmo em pautas na qual a fonte é in off, a gente tem que checar mais de uma fonte, seja qual for o assunto e o que digam para a gente. Na questão política, por exemplo, ‘balão de ensaio’ não pode ser uma coisa irresponsável, que uma fonte quer prejudicar outra e usa o jornalista. Então, temos que ter o cuidado de tentar checar, seja por documentos ou outras fontes que possam corroborar com a mesma história. Essa para mim, é a dica principal para nós, enquanto jornalistas, para tentar não disseminar fake news, seja qual for a história”, explica Albuquerque.

Aos profissionais que lidam com editorias consideradas “mais complexas”, voltadas para pautas que envolvem questões judiciais, por exemplo, a jornalista orienta sempre a presença de um advogado ou alguém da área jurídica de confiança para poder tirar as dúvidas mais técnicas.

“É sempre bom ter profissionais para consultar. Normalmente, grandes sites e empresas jornalísticas têm um advogado que orienta e tira-dúvidas quando as pautas são mais complicadas no âmbito jurídico. Mas se for um lugar de menor proporção é bom que tenha um advogado de confiança para consultar”, aconselha.

Fake News, desinformação e infodemias

As “fake news” são, basicamente, informações falsas propagadas e viralizadas entre a população como se fossem verdade. Geralmente, estão relacionadas às páginas de notícias sem compromisso com a verdade, redes sociais e aplicativos de mensagens.

O imediatismo pela divulgação da notícia, a rapidez da internet aliada à falta de comprometimento do público em constatar a fonte da informação publicada são alguns dos fatores que contribuem para a difusão da prática.

Embora pareça algo inofensivo, a disseminação de notícias falsas e/ou com informações mal apuradas pode ter impactos na saúde pública, no resultado de uma eleição, ou até mesmo promover a violência como o caso que vitimou a dona de casa Fabiane Maria de Jesus linchada em 2014, após ser apontada como uma possível sequestradora de crianças.

Nas redes sociais, o compartilhamento de um retrato falado desenhado dois anos antes, da tal sequestradora, fez com que os moradores da cidade de Guarujá, em São Paulo, tirassem a vida de Fabiane, mãe de duas crianças, simplesmente por terem acreditado na falsa notícia.

Outro exemplo mais recente de como a disseminação de notícias falsas, distorcidas e mal redigidas podem influenciar no senso crítico e posicionamento das pessoas, de forma negativa, é a vacina contra a Covid-19. Mesmo com a eficácia comprovada por cientistas e laboratórios competentes e com doses distribuídas gratuitamente, a imunização foi alvo de uma série de mentiras propagadas em páginas de redes sociais e aplicativos de mensagens atrapalhando o processo de vacinação em massa.

Vale ressaltar que durante o período pandêmico outras duas palavras têm se destacado, são elas: a desinformação e a infodemia. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) a desinformação é uma informação falsa ou imprecisa na qual o intuito é enganar, manipular ou ter ganho próprio. Pode ser baseada ou não em estudos científicos e fatos reais, sendo refeita para parecer verdade e, então, enganar.

As infodemias, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) são massivas quantidades de informações relacionadas ao mesmo assunto (algumas necessárias e outras não) multiplicadas de forma incontrolável, causando confusão e desorientação, dificultando o acesso a fontes idôneas e confiáveis.

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