Audiência da Câmara discute quesito cor ou raça em registros do Sistema Único de Saúde


12 de novembro de 2021
Audiência da Câmara discute quesito cor ou raça em registros do Sistema Único de Saúde
Especialistas dizem que medida aprimora políticas públicas raciais. (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Com informações da Agência Brasil

BRASÍLIA – Especialistas defenderam hoje, 12, a necessidade de inclusão do quesito cor ou raça nos prontuários, registros e cadastramento do Sistema Único de Saúde (SUS), como forma de aprimorar políticas públicas direcionadas à população negra do País. A medida, afirmam, ajudará a diminuir as desigualdades no acesso e tratamento no sistema público de saúde.

A inclusão do quesito raça/cor nos registros do SUS consta do Projeto de Lei (PL) 7.103 de 2014, que tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. A proposta altera o Estatuto da Igualdade Racial no ponto em que trata das ações de saúde voltadas à população negra.

O tema foi objeto de uma audiência pública no colegiado. Na avaliação da pró-reitora adjunta de assuntos estudantis da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Luciana Alves, esse tipo de informação é necessária para definição de maneira mais eficiente dos dados epidemiológicos para a implementação de políticas públicas voltadas para a população negra.

Luciana citou como exemplo a necessidade de mais informações de doenças com maior prevalência na população negra, como anemia falciforme e hipertensão arterial. Segundo ela, essas informações ajudarão no combate à desigualdade racial no acesso à saúde, visto que trarão evidências estatísticas sobre o tema.

“Eu digo que só consigo trazê-las [evidências da desigualdade no acesso à saúde] se houver uma classificação das pessoas com a cor, raça, usando os termos oficiais do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] e olhando como esse direito à saúde, o acesso à saúde está distribuído entre os grupos autoclassificados”, argumentou.

A professora lembra que a inclusão do quesito cor ou raça também tem por objetivo conscientizar sobre a importância da autodeclaração dos usuários e dos trabalhadores da rede pública de saúde.

“Quando assumirmos que enxergamos as cores de pele e que isso resvala em comportamentos desiguais, ainda que inconscientes, precisamos trazer à consciência de médicos, médicas, enfermeiras, profissionais da saúde que não é possível dispensar um serviço público, portanto de todos e todas, de maneira tão desigual, como temos no Brasil”, disse.

O pró-reitor da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp, Anderson da Silva Rocha, também afirmou que a medida possibilitará maior conhecimento da questão. O professor disse que a partir do reconhecimento da relevância da questão, ela passa a entrar na agenda pública para que novas soluções sejam buscadas.

“Criar informações também é criar uma responsabilidade para que o poder público cumpra o seu papel”, disse. “A gente não tem um sistema que seja equânime e igualitário nas condições de acesso à saúde da população e isso precisa ser urgentemente corrigido”, acrescentou.

Atualmente, a informação do item raça/cor já consta nos sistemas de informação do SUS, em cumprimento a uma portaria do Ministério da Saúde de 2017. Segundo o diretor de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não-Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Giovany França, mesmo com a portaria, a pasta é favorável à aprovação do projeto.

“O conhecimento é fundamental para a construção de políticas e ações equitativas”, disse. “Nós nos manifestamos favoráveis ao projeto e reconhecemos a importância do quesito raça/cor e cor da pele como característica demográfica importante que nos permite caracterizar melhor a situação de saúde no País e mostrar essas desigualdades”, acrescentou.

O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que presidiu os trabalhos, disse estar confiante na aprovação da proposta ainda no mês de novembro, quando se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado no dia 20. A data faz referência à morte de Zumbi, um dos líderes do Quilombo dos Palmares.

“Quando refletimos sobre a saúde da população negra, quando aprovamos uma iniciativa que vai permitir a coleta de informações sobre a saúde da população negra, nós oferecemos ao Estado insumos para que possamos estruturar políticas públicas que tenham eficácia no combate a problemas que alcancem em especial a população negra brasileira”, disse.

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