Aziz diz que acusado matou Bruno e Dom porque foi ‘humilhado’


Por: Ana Pastana

31 de outubro de 2024
Aziz diz que acusado matou Bruno e Dom porque foi ‘humilhado’
Da esquerda para a direita: o jornalista britânico Dom Phillips, o senador Omar Aziz e o indigenista Bruno Pereira (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – O senador Omar Aziz (PSD/AM) afirmou nessa quarta-feira, 30, sem apresentar evidências, que o autor da morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips teria cometido o crime por ter sido “humilhado na frente dos filhos”. A declaração ocorreu durante uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no Senado Federal, onde foi discutido o Projeto de Lei 10.326/2022, que prevê o porte de arma de fogo aos integrantes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

De acordo com as investigações da Polícia Federal (PF/AM), a motivação do crime teria sido pelo trabalho que Bruno fazia na região de fiscalização para combater a pesca ilegal, mas, conforme o parlamentar, a motivação teria sido outra. Aziz defendeu que ação não foi resultado de crimes como o narcotráfico na região do Vale do Javari, no Amazonas.

“Lá no Amazonas, essa questão de Atalaia do Norte, existe uma versão dada nacionalmente, que infelizmente duas pessoas foram a óbito (Dom e Bruno), numa ação que falaram que era narcotráfico, não sei o que e não era nada disso. Era um caboclo que foi humilhado por um funcionário na frente dos filhos, tocaram fogo na rede [de pesca] e tudo mais. Ele esperou o momento para se vingar e infelizmente estava um jornalista e ele (Bruno) nessa canoa, mesmo que ele (Bruno) estivesse armado lá, ele não teria nem como ter reagido”, disse.

Veja o vídeo:
O senador pelo Amazonas, Omar Aziz, durante sessão no Senado Federal (Reprodução/Youtube)

A CENARIUM entrou em contato com o senador Aziz para confirmar a veracidade da informação, mas até o fechamento desta reportagem não houve retorno.

Projeto de Lei

O art. 6° do PL 10.326/2022 que estava em discursão durante a sessão do Senado é de autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES), que prevê o porte de arma de fogo para agentes da Funai durante ações do órgão. De acordo com o senador, o PL se deu após a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips, que foram assassinados em 5 de junho de 2022 no município de Atalaia do Norte (AM), na Terra Indígena (TI) do Vale do Javari, a 1.138 quilômetros de Manaus.

“Esse projeto de lei se deu pela morte do indigenista Bruno e o Dom Phillips que foram mortos com requinte de crueldade, inclusive, com ocultação de cadáver. Não podemos admitir que infelizmente os grileiros estão armados e esses funcionários que estão lá, “pagando com a vida”, como foi o caso desses dois, lá no meio da floresta amazônica”, declarou o autor.

Bruno estava licenciado da Funai desde o início de fevereiro de 2020. Servidor de carreira da fundação, ele tinha sido dispensado da Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato apenas quatro meses antes. Insatisfeito com os rumos que a equipe de governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) impunha à política indigenista, Pereira optou por se licenciar para “tratar de assuntos pessoais” e passou a trabalhar como consultor técnico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

Relembre o caso

O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desapareceram na região do Vale do Javari, no Amazonas, em 5 de junho de 2022, após serem ameaçados em campo. Os dois foram vistos, pela última vez, quando seguiam trajeto da Comunidade São Rafael ao município de Atalaia do Norte. Somente em 15 de junho, os remanescentes humanos das vítimas foram localizados.

A fase final aponta que o mandante intelectual do crime é Ruben Villar, conhecido como Colômbia. De acordo com a PF, as investigações mostraram que “Colômbia” forneceu as munições e embarcações para a execução do crime motivado por conta da fiscalização para combater a pesca ilegal na região

Quatro pessoas foram indiciadas pelos assassinatos do indigenista Bruno e do jornalista britânico Dom Phillips. São eles: Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como “Pelado”; Oseney da Costa Oliveira, Jefferson da Silva Lima, conhecido como “Pelado da Dinha” e Ruben Villar, conhecido como Colômbia.

Além de Aziz, a CENARIUM também solicitou nota da Polícia Federal, que investiga o caso, para verificar se há a informação de um desentendimento de algum funcionário da Funai na TI do Vale do Javari com algum dos acusados, como afirmou Aziz. Até o momento não houve retorno.

Leia mais: Bruno e Dom: MPF entra com recurso para que acusado vá a júri popular
Editado por Jadson Lima

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