‘Balaio da Oxum’ em praia de Manaus destaca relação entre religião e meio ambiente
Por: Cenarium*
09 de dezembro de 2024
MANAUS (AM) – O Complexo Turístico da Ponta Negra, na Zona Oeste de Manaus, foi palco de um dos principais eventos de religiões de matriz africana do Norte do País, o “Balaio da Oxum”, nesse domingo, 8. Na 9ª edição, a manifestação reuniu milhares de pessoas em uma celebração que uniu fé, ancestralidade e um forte apelo pela preservação ambiental.
Com o tema “Sob a proteção de Oxum: água, território e ancestralidade em defesa da vida”, o evento destacou a conexão entre as religiões de matriz africana de diversos segmentos e a natureza, além de reforçar a luta contra a intolerância religiosa. Organizado pela Associação Brasileira do Balaio da Oxum (Abraoxum), o Balaio iniciou com uma marcha ao longo da Avenida Coronel Teixeira até a praia da Ponta Negra, seguida por um xirê, um momento de saudações aos orixás com cantos e danças tradicionais. Logo após o xirê, as oferendas à mãe Oxum foram entregues nas águas da praia.

Para Nochê Flor Ty Navê, presidenta da Abraoxum, o evento vai além de uma manifestação religiosa. “É um clamor por respeito à natureza e aos povos originários. Não podemos mais viver respirando fumaça e convivendo com o descaso ambiental. Nossa luta é pela vida e pela preservação do que é sagrado para todos nós”, declarou.
“Essa é uma festa muito importante para a história do Brasil”, destacou Luzi Borges, diretora de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Povos de Terreiro do Ministério da Igualdade Racial, que representou a pasta marcando presença no evento. “Temos nos preocupado muito em incentivar a democracia religiosa. Festas como essa representam o Brasil na sua liberdade e diversidade religiosa, em que comemoramos tanto mãe Oxum quanto Nossa Senhora da Conceição”, afirma.

“Eventos como esse mostram a importância de olhar para esses espaços de história, memória e patrimônio do povo negro brasileiro. Manaus está de parabéns”, completou Isadora Bispo, diretora de Articulação Interfederativa do Ministério. “No âmbito do Ministério da Igualdade Racial, temos buscado incentivar roteiros de eventos como esses, que têm a população negra como centro”, destacou.

O encerramento do evento contou ainda com os shows de artistas locais como o grupo Samba do Índio, a cantora Márcia Siqueira e o cantor Papo de Preto, celebrando a riqueza cultural das matrizes africanas.
Sustentabilidade em destaque. Neste ano, mais uma vez, o evento também reforçou o compromisso ambiental ao promover o uso de balaios biodegradáveis nas oferendas à Oxum, substituindo materiais descartáveis por itens naturais, como frutas e flores. Todas as oferendas entregues nas águas da praia da Ponta Negra foram 100% biodegradáveis. A iniciativa reflete a essência do tema e busca conscientizar sobre a importância de práticas sustentáveis.
Contra a intolerância
Além da pauta ambiental, o Balaio da Oxum reafirmou a necessidade de ocupar espaços públicos com respeito e liberdade religiosa. “Estamos aqui para mostrar que temos direito a esses espaços, com igualdade e dignidade”, destacou o ogã Erick Nogueira.
Realizado tradicionalmente no dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Amazonas, o evento reflete o sincretismo entre a santa católica e Oxum, orixá das águas doces, fertilidade e amor. O Balaio da Oxum tem se consolidado como uma das maiores manifestações de religiões de matriz africana no norte do País.