Bancada evangélica revoga resolução que incluía educação para diversidade sexual em escolas de Manaus


31 de maio de 2021
Medida foi revogada por meio da promulgação do projeto de decreto legislativo (Robervaldo Rocha/CMM)
Medida foi revogada por meio da promulgação do projeto de decreto legislativo (Robervaldo Rocha/CMM)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Vereadores da bancada evangélica da Câmara Municipal de Manaus (CMM) promulgaram nesta segunda-feira, 31, o Projeto de Decreto Legislativo (PLD) que susta os efeitos da resolução nº 091/2020 do Conselho Municipal de Educação (CME) que fomentava o debate sobre temas relacionados à diversidade sexual, religiosa e de gênero entre estudantes nas escolas municipais da capital.

A medida é de autoria do vereador Marcel Alexandre (Podemos), apóstolo da igreja Ministério Internacional da Restauração (MIR), em Manaus, e contou com a assinatura de 23 dos 41 vereadores da Casa Municipal, e teve como relator o vereador e cantor gospel Raiff Mattos (Democracia Cristã), integrante da Frente Parlamentar em Defesa da Família e dos Valores Cristãos (Fepacri), na CMM.

Nas redes sociais, Raiff Mattos escreveu “glória a Deus pela vitória de hoje”, ao comemorar a promulgação do decreto. No vídeo, é possível ouvir alguns parlamentares falando “amém”. “Fico feliz por ter sido promulgado esse decreto legislativo em que eu subscrevi e também fiz um parecer para o relator do parecer. Quem ganha são as famílias manauaras. É uma grande vitória”, afirma o vereador na publicação.

Vereador comemorou a promulgação do decreto nas redes sociais (Reprodução)

Retrocesso

Para o ativista LGBT, professor e educador comunitário Gabriel Mota, a revogação da resolução é um retrocesso e um ataque aos movimentos sociais e à dignidade. “É claramente não só um retrocesso, mas o atendimento de uma agenda conservadora fundamentalista e de exclusão para pessoas LGBTs, negros e negras, indígenas, todas essas minoridades sociais que costumam ser excluídas em detrimento dos desejos cristãos”, declarou.

Entenda

A resolução 091/2020 foi aprovada em 29 de dezembro de 2020 e publicada em 13 de janeiro deste ano, no Diário Oficial do Município, com uma série de orientações para garantir a inclusão da educação para as relações étnico-raciais, diversidade sexual e gênero, assim como diversidade religiosa, no sistema municipal de ensino de Manaus.

No dia 16 de março, em uma nova publicação no Diário Oficial, o Conselho Municipal de Educação de Manaus, vinculado à Secretaria Municipal de Educação (Semed), suspendeu, por meio da resolução nº 054, os efeitos da resolução nº 091. Em nota coletiva, instituições repudiaram a revogação dos estudos étnico-raciais e diversidade no ensino municipal.

Veja também: No AM, instituições repudiam revogação dos estudos étnicos-raciais e diversidade no ensino municipal

Movimentos LGBTQIA+ do Amazonas, Casa Miga: Esse é nosso Norte; Fórum Nacional Popular de Educação – FNPE; Movimento de Mulheres Negras da Floresta -Dandara; Associação de Desenvolvimento Sociocultural Toy Badé foram apenas algumas das inúmeras assinaturas presentes na nota.

Após a repercussão negativa do caso, a Justiça mandou voltar o ensino sobre a diversidade. O juiz plantonista Cássio André Borges dos Santos concedeu uma liminar revogando a resolução 054 que tornou sem efeito a resolução 091/2020.

Veja também: No AM, Justiça manda voltar ensino sobre Diversidade; matérias da CENARIUM auxiliaram petição

O magistrado atendeu ao pedido de duas instituições não governamentais, a Associação de Desenvolvimento Sociocultural Toy Badé (ATB), representada pela advogada Ana Carolina Amaral de Messias, e a Associação Nossa Senhora da Conceição, que tem como representante a advogada Luciana dos Santos Silva.

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO