Início » Central da Política » Barganha, conluio e dívida: o que está por trás do pedido de impeachment de Wilson Lima, governador do AM
Barganha, conluio e dívida: o que está por trás do pedido de impeachment de Wilson Lima, governador do AM
Josué Neto e Mourão Júnior: colegas de profissão estão à frente do novo pedido de impeachment de Wilson Lima (Reprodução/Internet)
Compartilhe:
19 de novembro de 2020
Paula Litaiff – Da Revista Cenarium*
Manaus e Brasília – O pedido de impeachment do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e de seu vice, Carlos Souza (sem partido), colocado em pauta nesta quarta-feira, 18, traz consigo um lado oculto da política provinciana tomada por pressões, tentativa de barganha, conluio – conspiração – e endividamento milionário.
Divulgado com destaque na mídia pelo presidente da Assembleia Legislativa (ALE/AM), Josué Neto (PRTB), a notícia não surpreendeu membros do governo do Estado, que já esperavam a reação a consecutivos pedidos de “favores” não atendidos.
PUBLICIDADE
A relação de Josué Neto e Wilson Lima ia bem até o início deste ano, quando, em fevereiro, surgiu a informação ao presidente da ALE/AM de que o governador pretendia, na época, apoiar o vice dele para uma possível candidatura a prefeito de Manaus. Três meses antes, Josué Neto articulava o posto junto ao grupo de Wilson Lima.
Foi a partir deste período, que surgiram pedidos de deposição do governador e do vice e uma campanha difamatória na internet, agravados em abril, com a operação Sangria da Polícia Federal (PF), que investiga o superfaturamento na compra de respiradores para pacientes da pandemia do coronavírus.
Investigação seletiva
Dois meses depois, foi instaurada na ALE/AM, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, criada para apurar a gestão dos governos de 2011 a 2020, mas que acabou focando apenas na administração de Wilson Lima.
Três dos cinco componentes da CPI, ainda em andamento, são ligados ao ex-governador Amazonino Mendes, atual candidato a prefeito de Manaus). Amazonino foi governador tampão nos anos de 2017 e 2018.
Cargo vitalício
Com a derrocada de uma candidatura a prefeitura de Manaus com Josué Neto, deputados estaduais fizeram chegar ao Palácio do Governo – durante o andamento da CPI – uma proposta de tonar o presidente da ALE/AM o novo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE/AM) em substituição ao pai dele, Josué Filho, que está próximo à aposentadoria.
Pelo regimento do TCE, o próximo conselheiro deverá ser escolhido pelo chefe do Executivo. O cargo na Corte de Contas é vitalício e os membros recebem em torno de R$ 35 ao mês, fora as verbas indenizatórias, além de uma grande influência política no interior e capital do Estado.
Entre conversas mal conduzidas, o segundo pedido foi negado, comprometendo ainda mais a relação política do governo com a Assembleia Legislativa, resultando em uma enxurrada de pedidos de impeachment do governador que chegou a avançar até a comissão processante.
Trégua nem tanto
Após a apresentação de provas sobre a gestão estadual e o arquivamento das denúncias na ALE/AM, Josué Neto fez um pedido de trégua no dia 8 de agosto, durante um pronunciamento nas redes sociais, onde afirmou:
“Estou vindo a público com humildade e sentimento republicano, me direcionando ao governador Wilson Lima. Há meses estamos tendo embates políticos, e tá na hora de acabarmos com essa desunião. Tá na hora do poder público trabalhar junto e em sintonia para o bem do povo do Amazonas”, concluiu o presidente da ALE/AM.
Três meses depois, Wilson Lima recebeu uma proposta de declarar apoio à Josué Neto no prosseguimento do novo mandato como presidente do Parlamento Estadual, que se encerra em dezembro deste ano. Ao recusar a adesão, a ALE/AM recebe novas denúncias este mês.
Denunciante, denunciado
Entre os dois pedidos de impeachment do governador do Amazonas está um formalizado pelo presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon/AM), o economista Francisco de Assis Mourão Júnior, colega de profissão do presidente da ALE/AM.
Com base em dados da operação Sangria da PF – que ainda estão sob investigação – Mourão Junior disse, à imprensa, que o governo pratica mau uso do dinheiro público. “Espero que se levante essas irregularidades e que se faço o que é certo”, declarou o presidente do Corecon/AM.
Hoje, Mourão responde na Receita Federal por não pagamento de impostos, sendo ele o maior devedor do fisco no Amazonas como pessoa física, segundo dados públicos do Ministério da Fazenda. O endividamento de Mourão Júnior ultrapassa a R$ 1,5 bilhão.
Nas informações da Receita Federal não consta se a dívida tem a ver com a gestão dele à frente do Conselho de Economia, que recebe verba federal. Procurado para falar sobre o assunto pela REVISTA CENARIUM, Francisco de Assis Mourão Júnior disse: “Eu trabalhei na empresa Tholor do Brasil Ltda., que aparece como a maior devedora do Estado na mesma lista, na qual respondia pelo cargo de diretor residente, conforme posso provar com documentos trabalhistas, e estou arrolado em um processo que a empresa responde junto à Receita Federal. Essa empresa cometeu vários atos, e eu acabei arrolado por ser diretor residente à época. Eu pedi demissão porque vi que a situação não estava boa. Sou uma pessoa modesta, tenho uma casa simples. Tenho como provar que não tenho esse dinheiro e estou me defendendo na Receita”, explica.
Caso passe o pedido de deposição do governador e do vice formalizado por Mourão Júnior na ALE/AM, quem assume o Executivo Estadual, em tese, é o próprio colega de profissão, Josué Neto.
Respostas de Josué Neto
O presidente da Assembleia Legislativa, também, foi procurado e respondeu aos questionamentos abaixo:
CENARIUM – Deputado Josué Neto, procede a informação de que os destaques da Assembleia Legislativa aos novos pedidos de impeachment estão associados a pedidos políticos seus não atendidos pelo governo? Josué Neto – Os pedidos de impeachment são alheios à mesa diretora da ALE/AM.
CENARIUM – É verdade que o senhor buscava apoio do Executivo para obter a reeleição no cargo de presidente do Parlamento? Josué Neto – O meu mandato parlamentar tem uma postura constitucional de independência entre os poderes. Portanto, mantenho essa postura.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.