Barqueata abre Cúpula dos Povos, que deve reunir três mil indígenas em Belém


Por: Ana Cláudia Leocádio

12 de novembro de 2025
Barqueata abre Cúpula dos Povos, que deve reunir três mil indígenas em Belém
Barqueata reuniu cerca de 200 embarcações no Rio Guamá (Bianca Diniz/CENARIUM)

BELÉM (PA) – Uma barqueata com pelo menos 200 embarcações marcou a abertura da Cúpula dos Povos, evento paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém, nesta quarta-feira, 12. O encontro deve reunir cerca de cinco mil participantes de 60 países, incluindo três mil indígenas, dos quais 1,6 mil são provenientes da Bacia Amazônica, segundo dados da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). O trajeto teve início no porto da Universidade Federal do Pará (UFPA), sede da Cúpula, e percorreu os principais pontos turísticos da cidade, pela Baía do Guajará, localizada no Rio Guamá, que banha a capital paraense.

Com embarcações de todos os portes, a barqueata reuniu, além dos povos indígenas, representantes dos movimentos sociais, sindicais de todo o País e do mundo. Entre as embarcações, estava um dos veleiros da Flotilha pela Mudança (Flotilla 4 Change, em inglês), que levou a Belém uma delegação com cerca de 50 ativistas, cientistas e representantes de diversos países para participar da Cúpula dos Povos. O navio do Greenpeace também integrou a barqueata, ao lado de “ferryboats”, “voadeiras” e outras embarcações de pequeno porte.

A CENARIUM foi convidada a participar do ato a bordo do barco do Sindicato Nacional dos Servidores Federais do Pará (Sinasefe-PA), que reúne uma frente formada por institutos e organizações de servidores, principalmente da área da educação. A coordenadora-geral da entidade, Rita Gil, destacou a importância simbólica de participar de uma barqueata no Rio Guamá, em Belém, ressaltando que, na região, os rios são as verdadeiras estradas dos amazônidas.

Vista aérea da barqueata em Belém (Christian Braga/Greenpeace)

A dirigente afirmou esperar que esta COP, realizada em Belém, traga respostas concretas para as questões da sustentabilidade e das mudanças climáticas. Ela citou, por exemplo, os problemas enfrentados na Ilha do Marajó, onde possui uma casa no município de Soure, como a erosão costeira e o acúmulo de lixo trazido por embarcações.

“O Marajó, por exemplo, hoje sofre, por conta das chuvas e das águas grandes, com o problema das erosões. Como a ilha fica de frente para o mar, passam muitos navios, grandes transatlânticos, e a gente vê o lixo chegando, garrafas de água da China, da Índia, todo esse lixo que vem de outros países para a nossa região”, relatou.

Para a professora universitária aposentada, é possível agir em prol da sustentabilidade e do clima do planeta, e a barqueata é uma boa estratégia para chamar a atenção do mundo. “Essa é uma forma de mostrarmos a nossa força. Porque isso aqui é uma grande força: estão presentes indígenas, quilombolas, ribeirinhos, professores, educadores, movimentos sociais, todos unidos nesse grande movimento”, concluiu.

O dirigente do Sinasefe de Pernambuco, técnico em Educação Clayton Rodrigues, participou da barqueata como convidado e ressaltou a importância do debate climático iniciado na última segunda-feira, na COP30.

“Enquanto sindicato e classe trabalhadora organizada, estamos lado a lado com os movimentos sociais e com os povos historicamente oprimidos na formação social brasileira. Este evento é importantíssimo, tanto para organizar e chamar a atenção do mundo para este lugar e para os debates que aqui se travam, quanto para a mobilização em defesa do meio ambiente. Porque não existe meio ambiente sem justiça climática”, afirmou, acrescentando que esta é sua primeira visita a Belém.

Embarcação do Greenpeace na barqueata (Christian Braga/Greenpeace)

A Cúpula dos Povos começou oficialmente nesta quarta-feira e se estende até o dia 17, encerrando-se com a Marcha dos Povos Indígenas, prevista para ocorrer na avenida Perimetral, uma das principais vias de Belém.

Desde que a capital paraense foi anunciada como sede da maior conferência global sobre o clima, as organizações indígenas intensificaram o trabalho de articulação e incidência política para reforçar a mensagem de que não há justiça climática sem os povos indígenas e a demarcação de seus territórios. Sob o lema “A resposta somos nós”, os povos originários pretendem elaborar uma carta final a ser entregue à presidência da COP30.

Para o coordenador da Coiab, Toya Machineri, a união dos povos indígenas de todo o mundo é fundamental para que sejam reconhecidos como parte da solução nas políticas climáticas globais e nos documentos finais das COPs.

Machineri reconhece que talvez isso ainda não se concretize na conferência de Belém, mas acredita que o evento abrirá caminho para conquistas futuras. Por isso, a articulação com os movimentos indígenas da Austrália já começou, já que a próxima COP deverá ser realizada naquele país, na Oceania.

Para que os objetivos sejam alcançados, entre as demandas dos povos indígenas do Brasil estão o reconhecimento e proteção dos seus territórios, acesso direto a financiamento climático e representação e participação efetiva nos espaços de decisão oficiais.

Leia mais: Protestos crescem na COP30 e movimentos exigem justiça climática real
Editado por Adrisa De Góes

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.