Belém do Pará, a COP30 e as eleições


31 de agosto de 2024
A capital Belém (PA) vai sediar o evento em 2025 (Composição: Weslley Santos/CENARIUM)
A capital Belém (PA) vai sediar o evento em 2025 (Composição: Weslley Santos/CENARIUM)

João Paulo Guimarães – Especial para Cenarium**

BELÉM (PA) – A escolha de Belém como sede da COP30 em 2025 deveria representar uma conquista significativa para o Brasil, especialmente para a Amazônia, região vital na luta contra as mudanças climáticas. No entanto, essa vitória está envolta em uma densa névoa de contradições políticas e ambientais que lançam dúvidas sobre a real capacidade da capital paraense de liderar discussões sérias e eficazes sobre sustentabilidade. A articulação política que garantiu Belém como sede da conferência, conduzida pelo governador Helder Barbalho, revela um cenário preocupante, onde interesses econômicos e alianças duvidosas pesam mais que um compromisso genuíno com a preservação ambiental.

Helder Barbalho, fazendeiro assumido e beneficiário direto do agronegócio, se apresenta como um líder que traz a COP30 para a Amazônia. Contudo, sua proximidade com setores como o agronegócio e a mineração — este último representado pela Vale do Rio Doce, uma das empresas responsáveis por desastres ambientais catastróficos como Mariana e Brumadinho — contradiz qualquer discurso ambientalista. A realidade é que o agronegócio, setor do qual Barbalho faz parte, é um dos principais responsáveis pela degradação ambiental e pela violência contra povos originários e comunidades tradicionais no Pará. Ao colocar a COP30 nas mãos de um político cujas ações contribuem para a destruição do meio ambiente que ele deveria proteger, o evento corre o risco de se tornar uma farsa verde, encobrindo com retórica ambientalista práticas devastadoras.

A situação se agrava ainda mais com a possibilidade de Belém eleger um prefeito com o perfil de Éder Mauro, delegado bolsonarista conhecido por seu histórico de violência, misoginia e disseminação de fake news. Mauro, que se destacou durante a pandemia de Covid-19 por espalhar desinformação que contribuiu para a morte de milhares de brasileiros, representa uma ameaça direta à integridade social e democrática da cidade. Seu comportamento autoritário e violento, já demonstrado tanto em sua atuação policial quanto no Congresso Nacional, coloca em risco o futuro de Belém como uma cidade que deveria se alinhar com os valores de justiça social e ambiental que a COP30 propõe.

Apesar de Helder Barbalho e Éder Mauro se apresentarem como rivais políticos, suas semelhanças são inegáveis. Ambos representam uma política que coloca o poder e os interesses econômicos acima do bem-estar das pessoas e do meio ambiente. Barbalho, com sua fachada ambientalista, e Mauro, com sua retórica violenta e negacionista, são dois lados de uma mesma moeda que, se continuarem a dominar o cenário político de Belém, podem levar a cidade a um futuro marcado por retrocessos sociais, ambientais e democráticos.

Se Éder Mauro for eleito, Belém corre o risco de se tornar palco de uma gestão que não só ignora os desafios climáticos e sociais, mas também promove ativamente políticas que ampliam a violência, a desigualdade e a degradação ambiental. A COP30, que deveria ser uma oportunidade de avanço, pode acabar ofuscada por uma política local que, na prática, contradiz tudo o que o evento deveria representar.

(*) João Paulo Guimarães é paraense, ativista socioambiental formado em Publicidade e Propaganda e jornalista. Atua como fotodocumentalista e fotojornalista freelancer para a agência AFP. Também é repórter freelancer para as agências Repórter Brasil, Mongabay, A Pública, Projeto Colabora e Intercept Brasil.

(*) Este conteúdo é de responsabilidade do autor.

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