Belém vê aumento de mulheres eleitas, mas desigualdade persiste


Por: Fabyo Cruz

07 de outubro de 2024
Belém vê aumento de mulheres eleitas, mas desigualdade persiste
Imagem ilustra mulheres em cargos de poder em relação a homens (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM)

BELÉM (PA) – Comparado ao pleito de 2020, o número de mulheres eleitas para a Câmara Municipal de Belém (CMB) cresceu em 2024, registrando um aumento de 66,66%. Contudo, apesar desse crescimento, as mulheres ainda ocupam uma parcela reduzida das cadeiras que irão compor a Casa Legislativa da capital paraense em 2025. Das 35 vagas disponíveis, dez foram preenchidas por mulheres, o que equivale a 28,57% do total.

As vereadoras que assumirão suas cadeiras no próximo ano são: Silvane Ferraz (MDB), Ágatha Barra (PL), Raquel dos Animais (PDT), Marinor Brito (Psol), Patrícia Queiroz (PP), Blenda Quaresma (MDB), Vivi Reis (Psol), Pastora Salete (PSD), Nay Barbalho (PP) e Neia Marques (PT). A representatividade feminina, embora tenha crescido, ainda enfrenta desafios significativos para atingir a paridade de gênero nos espaços de poder.

À CENARIUM, a advogada especialista em direito eleitoral Mariana Passarinho, que também é vice-presidente da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB-PA), comentou sobre o cenário em Belém, analisando os fatores que influenciam esse crescimento e os obstáculos que ainda impedem uma maior igualdade de gênero nas eleições.

Obstáculos persistentes

Mariana Passarinho diz que as cotas de gênero e o fundo eleitoral para mulheres têm sido fundamentais para superar as barreiras históricas que limitam o acesso feminino aos cargos eletivos. “Essas iniciativas visam promover a igualdade de gênero e garantir uma representação mais equitativa nas instituições democráticas”, afirmou.

Advogada especialista em direito eleitoral Mariana Passarinho, que também é vice-presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-PA (Arquivo pessoal)

No entanto, apesar das políticas de incentivo, Passarinho destacou que os principais obstáculos que ainda dificultam uma maior representatividade feminina na política são complexos e variados. Entre eles, ela mencionou:

  • Estereótipos de gênero: A ideia de que a política é um espaço predominantemente masculino desincentiva muitas mulheres de se envolverem nesse campo;
  • Falta de redes políticas e apoio institucional: As mulheres frequentemente têm menos acesso a redes de influência e mentorias políticas, essenciais para o desenvolvimento de uma carreira sólida na política;
  • Desigualdade entre vida pessoal e profissional: A falta de políticas de apoio à conciliação familiar, como creches e licenças parentais, continua a ser um grande obstáculo;
  • Ambientes hostis e assédio: Muitas mulheres enfrentam assédio e discriminação nos ambientes políticos, além de ataques misóginos online e a ausência de medidas eficazes dentro dos partidos para lidar com esses problemas.
Evolução necessária no direito eleitoral

Para Passarinho, a evolução do direito eleitoral brasileiro é fundamental para garantir uma representatividade mais equilibrada nas futuras eleições. Ela defende a criação de mecanismos mais rígidos que impeçam práticas como as candidaturas “laranjas”, em que mulheres são incluídas nas listas eleitorais apenas para cumprir as cotas, sem a intenção real de promover suas eleições.

Transformação cultural e legal

Ao abordar a melhor forma de aumentar a representação feminina na política — seja por meio de alterações nas legislações eleitorais ou de uma mudança nos valores culturais e sociais — Passarinho enfatizou que ambas as estratégias são fundamentais e se complementam. Contudo, ela indicou que, apesar de as mudanças legais poderem servir como estímulos, a transformação cultural relacionada ao papel das mulheres em posições de liderança pode produzir efeitos mais significativos e permanentes.

“Tanto as mudanças nas leis eleitorais quanto a transformação cultural e social são fundamentais para impulsionar a presença feminina na política, mas cada uma delas atua em níveis diferentes e complementares. No entanto, se fosse necessário priorizar, a transformação cultural e social sobre o papel da mulher nos espaços de poder talvez tenha um impacto mais profundo e duradouro, enquanto as mudanças nas leis eleitorais podem ser catalisadoras imediatas”, afirmou a advogada.

A trajetória de avanço das mulheres na política de Belém ainda enfrenta muitos desafios, mas os dados de 2024 indicam que passos importantes estão sendo dados em direção a uma representatividade mais justa e igualitária.

Leia mais: Mulheres enfrentam ameaças e violência política de gênero em Belém
Editado por Adrisa De Góes

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