Biodiversidade perdida: Mata Atlântica tem apenas 25,8% de cobertura florestal

Mata em chamas na Região Serrana, em Itaipava (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Com informações do InfoGlobo

SÃO PAULO – Com 25,8% de cobertura florestal preservada, a Mata Atlântica sofreu uma transformação maior do que se imagina entre 1985 e 2020. Neste período, 10 milhões de hectares de mata nativa foram abaixo. Um milhão de hectares desapareceu e outros 9 milhões acabaram substituídos por vegetação secundária, que são florestas mais jovens e não abrigam a mesma biodiversidade da floresta original. O dado faz parte do mapeamento feito pelo MapBiomas, um conjunto de instituições, ONGs e especialistas que se dedicam a acompanhar a transformação do uso do solo no Brasil, em seus diversos biomas.

“Florestas mais jovens surgem em áreas desmatadas e abandonadas, mas levam dezenas de anos para se equiparar às florestas maduras, que reúnem a biodiversidade original do bioma e algumas perdas são irreversíveis”, diz Luís Fernando Guedes, coordenador da equipe do MapBiomas que se dedica à Mata Atlântica e Pantanal. 

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As florestas mais jovens, na maioria das vezes, não têm chance de se recuperarem como as originais. O motivo é que, pela Lei da Mata Atlântica, nenhuma floresta com mais de 10 anos pode ser desmatada. Ou seja, antes que completem esse prazo, as árvores são novamente cortadas simplesmente para impedir que elas ganhem status de preservação permanente, como prevê a lei. 

O ciclo de desmatamento se repete mesmo no bioma considerado o mais devastado do país e, ao mesmo tempo, mais protegido. Vegetação original vai abaixo em Estados que ainda as mantêm – como Bahia, Piauí e Ceará – e mesmo no Sul do País, onde as ocupações parecem estar mais consolidadas. Segundo Guedes, Estados como Paraná e Santa Catarina seguem com o avanço do desmatamento em áreas onde ainda existem florestas de araucárias, que caminham para a extinção.

“Já deveríamos ter alcançado o desmatamento zero na Mata Atlântica, que é protegida desde a Constituição de 1988, mas infelizmente isso ainda não ocorreu. Num momento em que atravessamos um período de crise hídrica e energética, deveríamos estar falando em regeneração de florestas, principalmente nas bacias hidrográficas mais atingidas, mas não é isso que acontece”, diz Guedes.

Os Estados de São Paulo, Sergipe e Mato Grosso do Sul têm apenas 26% de cobertura vegetal da Mata Atlântica – entre florestas primárias e secundárias. Alagoas tem somente 16% e Goiás, 15%. São os cinco com os piores retratos feitos por satélite. Em área de floresta, as maiores estão em Minas Gerais e Bahia.

De 1985 a 2020, 12 Estados perderam vegetação nativa de Mata Atlântica.  A maior perda foi a da Bahia (9.642 km2), seguida por Rio Grande do Sul (6.899 km2), Santa Catarina (6.359 km2) e Paraná (com 3.744). De 2000 a 2010, houve recuperação de 5.754 km² de florestas no bioma.

Uma das principais ameaças recentes é a expansão imobiliária, que avança sobre áreas preservadas mesmo em mananciais, diz Guedes.  

Os dados do MapBiomas mostram que no bioma Mata Atlântica teve 56,5% de sua paisagem original substituídos por pastagens (35%), agricultura (15%) e mosaicos que misturam as duas atividades (16,5%). Os remanescentes de Mata Atlântica somam 465.711 km2 em 17 Estados, mas a área contínua só alcança 15 deles. Piauí e Ceará têm formações do bioma, mas que não se ligam ao restante.

Na Mata Atlântica é gerado 80% do PIB brasileiro e, segundo Guedes, a recuperação florestal precisa ser feita para garantir o abastecimento humano, por exemplo, já que o bioma abriga 70% da população do País.  

Segundo o MapBiomas, no Estado de São Paulo e no Paraná, onde a criação de bois foi substituída pela plantação de cana de açúcar, houve recuperação de vegetação no curso de rios, com as chamadas Áreas de Preservação Permanentes (APPs). O objetivo é evitar o assoreamento e garantir água também para o cultivo. Na Bacia do Paraná, porém, a cobertura nativa caiu de 24% em 1990 para 19% em 2020.   

Entre as alternativas estão a criação de corredores de preservação, para evitar que os remanescentes fiquem desconectados, e até mesmo o pagamento por serviços ambientais em propriedades privadas que se mostrem dispostas a conservar. 

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