Biólogo Henrique Abrahão Charles comenta caso de onça no AM: ‘Família não pode ficar’


Por: Marcela Leiros

09 de fevereiro de 2025
Biólogo Henrique Abrahão Charles comenta caso de onça no AM: ‘Família não pode ficar’
Henrique Abrahão Charles é biólogo e tem quase 800 mil seguidores no Instagram (Composição: Anabelle Pena/CENARIUM)

MANAUS (AM) – O biólogo Henrique Abrahão Charles, que conta com quase 800 mil seguidores na rede social Instagram, comentou, nesse sábado, 8, o caso da onça-pintada Golias Goes, resgatada de uma família que a criava na cidade de Santo Antônio do Içá (AM), e lembrou os motivos pelos quais o animal não poderia permanecer no local onde vivia.

O caso ganhou repercussão nesta semana, após a onça de oito meses ter sido entregue às autoridades ambientais do município. A família criou um perfil no Instagram – @goesgolias – para expor a rotina do filhote batizado com o nome de “Golias”. O perfil existe desde a última quinta-feira, 6, e conta com mais de sete mil seguidores.

O biólogo compartilhou um vídeo reproduzido pela CENARIUM que mostrava a rotina do animal, e que foi assistido mais de três milhões de vezes. Henrique Abrahão Charles relembrou o caso da capivara Filó, que vive sob responsabilidade do influenciador Agenor Tupinambá no interior do Amazonas. Para o biólogo, apesar de ambas serem silvestres, tratam-se de animais com comportamentos diferentes.

Você está falando de um filhote de onça, você não está falando de uma capivara. Uma coisa é do tipo ‘Ah poxa, o Agenor morava lá no interior, no meio do mato, a capivara já estava ali, ela tinha acesso livre…’. Ok, você pode até discutir sobre isso, outra coisa é um filhote de onça no meio da vizinhança. Onde vocês estão com a cabeça?“, disse. “A família não pode ficar com a onça, então tirem essa história da cabeça“.

Henrique também respondeu aos comentários sobre Golias continuar com a família, lembrando tratar-se de um animal silvestre que desenvolverá, naturalmente, um comportamento selvagem.

Onça é um gato, cara, e gato pula muro. Imagina aí na vizinhança uma onça perambulando. O que vai acontecer é que pode acabar atacando uma pessoa porque ela vai estranhar, e aí pode tanto matar um cachorro quanto até mesmo acabar causar um acidente muito grave, então é uma irresponsabilidade muito grande que uma família crie uma onça“, alertou o biólogo.

Ibama e IOP

No vídeo, o influenciador falou sobre as críticas à atuação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as quais algumas das funções são resgatar, reabilitar e reintroduzir animais silvestres na natureza. O biólogo pontua que essas são apenas algumas das atividades do órgão ambiental, e que tudo gera custos aos cofres públicos.

Olha só, na boa, vocês sabem que o Ibama tem que lidar com o licenciamento ambiental, tem que lidar com o combate ao tráfico de animais, tem que lidar com um monte de coisas. Você imagina então o Ibama tendo que cuidar de cada vez que tem alguém vai lá e pega um bicho. Isso sobrecarrega os cofres públicos e a gente joga a culpa toda no Ibama. E depois faz o que? ‘Não, joga lá no IOP que o Leandro cuida‘”.

A sigla citada por Henrique refere-se ao Instituto Onça-Pintada (IOP), fundado em 2002 pelos biólogos Anah Tereza de Almeida Jácomo e Leandro Silveira, que se dedica a promover a conservação dessa espécie nos biomas de origem e em cativeiro. Ele elogia os fundadores e ressalta que os custos para cuidados dos animais no local são muito altos.

O doutor Leandro é o maior especialista em onça do mundo, só que isso tem um custo para o doutor Leandro, isso tem um custo pra esse biólogo e essa família fabulosa. Não é só chegar lá e jogar no IOP, não. Então eu já queria aqui, encarecidamente, fazer uma campanha pro IOP. Primeiro, as onças que estão lá no IOP não são onças do Ibama. Muitas vezes o Ibama joga lá e ele tem que se virar lá, sabe, e tem um custo. Onça come carne e carne é cara pra caramba“, acrescrenta.

No vídeo, Henrique, que também é professor e analista ambiental, faz uma campanha em prol do IOP. Ele pontua, ainda, que animais silvestres criados em ambiente doméstico podem apresentar problemas de saúde com custos de tratamento caros.

Que tal, além de lavar as mãos e falar ‘o Leandro que cuide no IOP’, a gente falar assim: ‘Vamos colaborar com o IOP, vamos seguir a página do IOP, vamos contribuir financeiramente com o IOP’, porque eles precisam, afinal de contas tem que alimentar bicho pra caramba e geralmente, quando acontece esse tipo de coisa, jogam nas costas do IOP. Às vezes esses animais vêm com patógenos, porque estão sendo criados como animais doméstico, podem vir com cinomose, podem vir com, sabe, um monte de doença e contaminar todo o plantel do Leandro. Não é simples assim. Vocês acham que as coisas são simples?“, questiona o biólogo.

Quem é Henrique Abrahão Charles

Henrique Abrahão Charles iniciou a carreira científica no curso Técnico em Química pelo Instituto Brasil (1998). Posteriormente, obteve graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2002) e mestrado em Biologia Animal no Curso de Pós-graduação do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2007) com estudo do comportamento predatório de boídeos de diferentes hábitos (anaconda, suaçuboia, salamanta e jiboia).

Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase em comportamento animal, coleta, resgate, soltura, monitoramento de fauna, conservação de biodiversidade e educação ambiental. Paralelamente, produz vídeos de divulgação científica, combate à pseudociência, Biologia, atuação do Profissional Biólogo, defesa do Meio Ambiente e curiosidades da ciência.

Revisado por Gustavo Gilona

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