Boletim da Fiocruz indica que SRAG e Covid-19 seguem em declínio no Brasil

Ocupação de leitos para Covid-19 caiu em fevereiro e março (Divulgação/HUPA)

Com informações da assessoria

O Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado nesta sexta-feira, 25, mostra que, pela primeira vez, desde julho de 2020, quando passou a monitorar as taxas de ocupação de leitos de UTI/SRAG e Covid-19 para adultos, no Sistema Único de Saúde (SUS), o mapa do Brasil aparece totalmente “verde”. A cor da esperança sinaliza um cenário de otimismo – com taxas inferiores a 60%. Todos os Estados brasileiros e o Distrito Federal estão fora da zona de alerta para esse indicador. O boletim é referente às Semanas Epidemiológicas (SE) 10 e 11 de 2022, que abrange o período de 6 a 19 de março.

Os pesquisadores do observatório, responsáveis pelo boletim, alertam, no entanto, que o momento ainda exige atenção nas ações de vigilância em saúde e cuidados. “É importante destacar que esta queda encontra-se acompanhada de taxas ainda significativas de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e incidência de mortalidade por Covid-19”. Eles atribuem esse resultado ao avanço da vacinação no País. Os dados atuais mostram 82% da população brasileira com a primeira dose, 74% com a vacinação completa e 34% vacinada com a dose de reforço.

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As análises que envolvem dados sobre internações e óbitos por SRAG e Covid-19 destacam grupos extremos da pirâmide etária. Por um lado, afirmam os pesquisadores, há os idosos que têm a idade como um fator de risco, o que reforça a necessidade de busca ativa daqueles que ainda não tomaram a terceira dose, assim como a aplicação da quarta dose da população elegível. Na outra ponta, crianças de 5 a 11 anos, em razão da baixa adesão dos seus responsáveis à vacinação. “É importante a vacinação contra a Covid-19 para crianças, assim como as demais vacinas do calendário infantil. A população, em geral, também deve realizar o esquema completo de vacinação”, pontuam os cientistas.

Após destacar que a vacinação é o grande motor para o arrefecimento de casos graves e fatais por Covid-19, no Brasil e no mundo, os pesquisadores pontuam que o controle da pandemia não está concentrado em uma única medida, mas numa série de providências e recomendações. Diante dessa constatação, reforçam que sob circunstâncias de intensa circulação de pessoas nas ruas, concomitante ao abandono do uso de máscaras, podem ser criadas situações que favoreçam uma maior circulação do vírus.

“Consideramos prudente a manutenção do uso de máscaras para determinados ambientes fechados, com grandes concentrações de pessoas (a exemplo dos transportes coletivos) ou abertos em que haja aglomerações”, recomendam. Como referência, o boletim indica as recomendações sobre o uso de máscaras no atual cenário epidemiológico – quem, quando e qual máscara utilizar, documento elaborado pela Associação Médica de Infectologia. Entre os elegíveis estão os seguintes grupos populacionais: população mais vulneráveis, imunossuprimidos, pessoas com mais de 60 anos (principalmente com doenças crônicas) e gestantes.

Perfil do padrão sintomatológico e demográfico

O boletim desta semana descreve o perfil dos pacientes internados, atualmente, em UTI, em tratamento de Covid-19 ativa. Segundo o estudo, o padrão sintomatológico, no momento da internação, dos casos que evoluíram de forma mais grave, manteve-se semelhante ao longo da pandemia.

Os sinais e sintomas mais prevalentes foram dispneia (71%), baixa saturação de oxigênio (abaixo de 95%) e desconforto respiratório (60%). Quanto às comorbidades, 70% dos pacientes possuem alguma condição crônica, sendo que as mais prevalentes são a cardiopatia (43%), diabetes (39%) e obesidade (9%). É importante ressaltar, ainda, que quase metade das internações atuais são de pessoas fora de seus municípios de origem.

O perfil demográfico deste grupo revela que as situações mais críticas ocorrem, principalmente, entre homens (51%), pessoas idosas (62%) e pretos e pardos (49%). Foi observado também que há uma distribuição desigual entre as áreas urbana e rural. “A maioria das internações ocorre na zona urbana (77%), o que gera coerência com a disponibilidade de serviços de alta complexidade ser maior, e quase exclusiva, em áreas urbanas”, assinalam os cientistas.

Casos e óbitos por Covid-19

Os dados das duas últimas Semanas Epidemiológicas (SE 10 e 11, de 6 a 9 de março) confirmam a manutenção da tendência de queda de indicadores de incidência e mortalidade por Covid-19, porém, em menor velocidade.

Essa redução pode apontar para um período de estabilidade da transmissão, nas próximas semanas, com taxas ainda altas de incidência e mortalidade. Foi registrada uma média de 42 mil casos diários, representando um decréscimo de 32% em relação às duas semanas anteriores (20 de fevereiro a 5 de março).

Também foi observada a redução do número de óbitos por Covid-19 no período, com uma média diária de 570 óbitos, cerca de 35% abaixo dos valores das duas semanas anteriores. No entanto, é importante destacar que, na semana de 6 a 12 de março, houve um pequeno aumento no número de casos, o que pode ser resultado de festas e viagens no período de carnaval, da flexibilização do uso de máscaras e na realização de eventos de massa que têm ocorrido em algumas cidades. Na semana seguinte, esses valores tornaram a cair.

A maior parte dos Estados apresentou estabilidade dos indicadores de transmissão, com exceção de Rondônia e Acre, que tiveram redução significativa do número de casos e de óbitos, e do Amapá, Maranhão, Piauí, Paraíba, Bahia e Mato Grosso do Sul, que apresentaram uma diminuição no número de óbitos, mas manutenção do número de casos. As maiores taxas de incidência, no período, foram observadas em Rondônia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás. As maiores taxas de mortalidade por Covid-19 foram registradas no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás.

A taxa de letalidade por Covid-19, isto é, a proporção de casos notificados que evoluíram para óbito, permaneceu em valores próximos a 1%. Ao longo de 2021, esses valores oscilavam entre 2% e 3%. Foram reduzidos para 0,2%, no início de 2022 e, ao longo do mês de março, voltaram a aumentar para 1%. Ainda que discreto, o aumento da letalidade hospitalar entre adolescentes de 10 a 19 anos também é destacado pelos cientistas.

Níveis de atividade e incidência de Síndromes Respiratórias Agudas Graves

Nas Semanas Epidemiológicas 10 e 11, as SRAG seguiram em declínio no País. Entretanto, observa-se que a redução foi menos intensa quando comparada às semanas anteriores. Atualmente, a taxa de incidência de SRAG no País é de 2,3 casos por 100 mil habitantes.

Em termos de tendências observadas nos Estados, a maioria mantém sinal de queda nas incidências de SRAG. No entanto, em Roraima, Sergipe, Espírito Santo e Distrito Federal indícios de aumento foram observados.

Tocantins, Maranhão, Ceará e Rio de Janeiro encontram-se em estabilidade e os demais Estados em redução. Nas capitais, a tendência é de redução, porém menos acentuada. Em Boa Vista, Florianópolis, Fortaleza e Aracaju há tendência de alta. No Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Belém, Maceió e Porto Velho observa-se estabilidade, e nas demais capitais constata-se declínio das respectivas incidências. Vale ressaltar, segundo dados do Boletim InfoGripe, que mesmo com estas tendências a maioria das macrorregiões de saúde ainda se encontra em nível alto de transmissão.

As notificações SRAG referem-se a casos graves, com hospitalização e/ou óbito, por doenças respiratórias. As tendências recentes de diminuição de casos aparecem para todas as faixas etárias, com exceção de 0 a 4 e 5 a 11 anos, em que há presença de casos de SRAG por Covid-19, como também por outras doenças respiratórias. As estimativas de incidência de SRAG pelo projeto InfoGripe (Procc/Fiocruz) utilizam dados da vigilância de SRAG, do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe).

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