Bolsonaro admite desmatamento criminoso na Amazônia e volta a citar dados distorcidos: ‘acusações mentirosas de fogo’
27 de setembro de 2022
Jair Bolsonaro (Arte: Mateus Moura)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS – O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) participou de sabatina no Jornal da Record na noite desta segunda-feira, 26, conduzida pelo jornalista Eduardo Ribeiro. O presidenciável voltou a citar dados sobre a destruição da Amazônia entre o governo dele e de seu principal rival, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e afirmou que as informações sobre desmatamento são “mentirosas“.
Bolsonaro vem utilizando em suas falas comparações entre os três primeiros anos de seu governo com os três primeiros anos de Lula. “O próprio Lula, há questão de um mês atrás, falou que ele presidente ia ser desmatamento zero. Eu mandei analisar os três anos e meio dele e os meus três anos e meio. No dele teve o dobro de desmatamento. Então falar, qualquer um fala“, disse o presidente ao criticar fala de Lula sobre desmatamento zero.
De acordo com dados do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), em 2004, quando o ex-presidente Lula assumiu o cargo, o desmatamento na Amazônia Legal havia atingido 27.772 km², porém, nos anos seguintes o número foi reduzindo, até finalizar em 7.000 km² desmatados em 2010, após dois mandatos. Lula foi responsável pela queda de 74% no desmatamento nos oito anos que esteve à frente da Presidência.
O presidente Jair Bolsonaro participa de sabatina na Record TV (Edu Garcia/R7)
No comparativo dos três primeiros anos de governo, Lula registrou no primeiro mandato uma queda de 48% de desmatamento (entre 2004 e 2006). Enquanto nos três primeiros anos de Bolsonaro, o índice aumentou 28%, desmatando 13.038 km² apenas em 2021, ou seja, um aumento de 86% se comparado com o último ano de Lula como presidente.
Cristiane Mazzetti, porta-voz da Amazônia do Greenpeace Brasil, disse à REVISTA CENARIUM que desde que o atual presidente assumiu, os índices de desmatamento voltaram a crescer. Não se viu resposta do governo para conter a crise ambiental.
“No Governo Bolsonaro, o desmatamento aumentou consecutivamente. O ano de 2021 registrou aumento de 73% em relação a 2018, e não se viu resposta do governo para conter tamanha crise ambiental, como se viu em outros momentos de pico no passado (1995 e 2004). Pelo contrário, o que assistimos foi um desmonte sem precedentes na gestão ambiental brasileira”, pontua.
Queimadas na Amazônia (Christian Braga/Greenpeace)
Segundo Mazzetti, o enfraquecimento dos órgãos ambientais, cortes e baixa execução de orçamentos e até estímulo a invasores de terras públicas, marcado por aumento expressivo da violência no campo, foram as principais ferramentas apoiadas pelo atual governo que corroboraram com os índices.
“Em 2004, uma série de ações foram colocadas em prática, sendo criado um plano articulado de combate ao desmatamento, envolvendo diversos ministérios. Este plano foi o PPCDAM (Plano de Ação para Prevenção e Combate ao Desmatamento da Amazônia). Como resultado, o desmatamento em 2012 caiu para 4571 km² (sendo que metade desse período ainda era governo Lula). Ou seja, a redução foi de 83,54%”, afirmou.
A trajetória de queda ano a ano, graças ao plano de prevenção iniciado em 2004, contribuiu diretamente para a redução do desmatamento, segundo a especialista. Porém, o projeto foi engavetado pela gestão atual e ações que antes eram altamente eficazes, como a criação de áreas protegidas e demarcação de terras indígenas, foram paralisadas.
Sanções ambientais
Os crescimentos do desflorestamentos têm chamado atenção de autoridades globais. Bolsonaro chegou a citar as ameças de eurodeputados ao Brasil por conta do aumento do desmatamento. “Essa política de superdimensionar números tem a ver obviamente com o mercado, com o agronegócio. Ameaçavam a gente o tempo todo para não importar alimentos nossos, tendo em vista acusações mentirosas de fogo, desmatamento desproporcional na Amazônia“, diz.
No final de 2021, a Comissão Europeia apresentou uma proposta de pré-sanção econômica em desfavor do Brasil, para criar um regulamento que impeça a exportação de produtos que tenham origem de terrenos desmatados no último ano, o texto foi aprovado no parlamento em 13 de setembro.
Sobrevoo na região da ‘Amacro’ (Amazonas, Acre e Rondônia), em uma área com cerca de 8.000 hectares de desmatamento – a maior em 2022 – que está queimando há dias (Greenpeace)
Em julho, o eurodeputado Claude Gruffat esteve no Brasil, durante dez dias, e constatou os problemas ambientais. “Estou pedindo uma moratória (suspensão) na importação de madeira, soja e ouro até que as regras da lei estejam estabelecidas e os direitos humanos e do ambiente sejam respeitados“, disse o membro do comitê para assuntos econômicos e da delegação para relações com o Mercosul do Parlamento Europeu, que visitou os Estados da Amazônia Legal ao lado das eurodeputadas Michèle Rivasi (francesa) e Anna Cavazzini (alemã).
O presidente atribuiu aos ribeirinhos, caboclos e indígenas a destruição da floresta. “Muitas vezes o incêndio é na área que é permitida o fogo todo ano, e quem pratica isso aí, em parte, é o ribeirinho, é o caboclo, é o indígena, então há um excesso no tocante a isso. Eu convido o pessoal, faz uma viagem para a Amazônia e vê se na floresta vai ver algum foco de incêndio mesmo durante o verão. Existe muito é na periferia”, disse em entrevista.
De acordo com um levantamento feito pela Brasil de Fato, em 2020, os maiores destruidores do meio ambiente – principalmente da Amazônia – não são os ribeirinhos ou indígenas, mas algumas das pessoas mais ricas e poderosas do Brasil.
“Os 25 maiores desmatadores, que somaram mais de R$ 50 milhões em multas, entre 1995 e 2019. No total, suas centenas de autuações chegam a R$ 3,58 bilhões, praticamente o orçamento do Ministério do Meio Ambiente inteiro para 2020. Corrigido, o valor chegaria a R$ 6,3 bilhões. Sozinhos, os campeões da destruição são responsáveis por quase 10% do total de multas aplicadas por devastação de flora desde 1995 – R$ 34,8 bilhões”, apurou a reportagem.
De acordo com a Brasil de Fato, entre os 25 maiores destruidores, 13 são empresas. Onze delas têm capital aberto, listadas na Bovespa. As empresas que mais desmatam estão ligadas à siderurgia e à agropecuária.
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