Bolsonaro é criticado por ‘sair de casa’ para ver Elon Musk; ‘qualquer chefe de Estado faria o contrário’

Ida do presidente Bolsonaro à fazenda onde o bilionário Elon Musk está hospedado não passou despercebida e foi criticada pela oposição (Reprodução/AFP)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS — O presidente Jair Bolsonaro (PL) está sendo criticado por conta de um episódio envolvendo o multibilionário Elon Musk, que está no Brasil para tratar de interesses comerciais. O fato de Bolsonaro se locomover, nessa sexta-feira, 20, até o luxuoso hotel Fasano Boa Vista, onde o homem mais rico do mundo estava hospedado no interior de São Paulo, recebeu a desaprovação de especialistas e políticos.

Bolsonaro fala em 'sopro de esperança' e Musk em preservação da Amazônia |  Economia | O Globo
O presidente Jair Bolsonaro e o bilionário Elon Musk durante encontro em São Paulo. (Foto: Reprodução Twitter)

Para o engenheiro, professor e ex-deputado federal de São Paulo Ivan Valente (Psol), era o empresário quem deveria ir até o presidente. Nas redes sociais, o ex-parlamentar chamou a atenção da atitude e relacionou ao “vira-latismo”, ou seja, à inferioridade em que uma pessoa se coloca ante a outra.

Veja também: Antes de visita ao Brasil, Governo do AM convidou Elon Musk a desenvolver projetos na Amazônia

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“Ao invés de Elon Musk ir até Bolsonaro, é ele que vai ao hotel onde o bilionário está hospedado. Qualquer chefe de Estado faria o contrário, não quando temos um presidente vira-lata (com todo respeito aos vira-latas)”, publicou Ivan Valente, no Twitter.

Ivan Valente fez a declaração no Twitter (Reprodução/Twitter)

O “vira-latismo” vem da expressão “complexo de vira-lata”, criada pelo escritor e dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues. O termo surgiu em 1958 para definir a falta de autoestima da população do País, que sofria com a derrota da Seleção Brasileira de futebol para a Seleção Uruguaia, na final da Copa do Mundo, em 1950, no Maracanã.

O adjetivo, usado até hoje, foi lembrado nas redes sociais por causa da reunião de Bolsonaro e Musk não ter sido no Palácio do Planalto. O advogado criminalista Augusto Botelho declarou, em tom de ironia, que o bilionário está com “dificuldades financeiras” e não pôde comprar passagem para Brasília por conta dos voos que estão caros.

“Bolsonaro vai até o hotel que o Elon Musk está hospedado para se reunirem. Não deveria ser o contrário? Já sei, os voos para Brasília estão muito caros e o Musk está com dificuldades financeiras”, brincou o advogado, no Twitter.

Agusto Botelho declarou que Musk está com dificuldades financeiras (Reprodução/Twitter)

Internautas que também criticaram o presidente Bolsonaro questionam, ainda, o que impediu o multibilionário Elon Musk ir a Brasília para um encontro formal ao chefe de Estado brasileiro.

“Observem: Bolsonaro está indo a São Paulo encontrar Elon Musk. O chefe de Estado vai se deslocar para fora do Distrito Federal para encontrar um investidor. O que impede Musk de vir à Brasília? Esse capacho se vende por qualquer coisa. É ter muito Síndrome de Vira-Lata”, afirmou um internauta, no Twitter.

Internauta questiona motivo de Musk não ir a Brasília (Reprodução/Twitter)

Outro internauta lembrou o desmonte de órgãos de defesa ambiental, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “O patriota Bolsonaro, com toda sua síndrome de vira-lata, desmontou o Inpe para colocar monitoramento da Amazônia nas mãos de Elon Musk”, escreveu, no Twitter.

Desmonte do Inpe foi lembrado nas redes sociais, após anúncio de Musk sobre monitoramento da Amazônia (Reprodução/Twitter)

Além da reunião de Bolsonaro com Musk não ser em Brasília, o fato do empresário sul-africano não ter como agenda principal o encontro com o presidente, mas sim com empresários do País, foi motivo de críticas. Elon Musk está no Brasil por interesses comerciais, já que ele obteve aval da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para explorar a banda na região Amazônica.

O aval foi concedido em janeiro deste ano para a empresa de satélite Starlink, um sistema de satélites da empresa de voos espaciais SpaceX, da qual Musk é dono. A partir do “projeto Starlink”, o bilionário quer conectar 19 mil escolas em áreas rurais e monitorar a Amazônia. O empresário, que tem o patrimônio estimado em US$ 219 bilhões, segundo a revista Forbes, é dono também da empresa Tesla (fabricante de automóveis).

Em defesa de Bolsonaro

Embora as críticas, o advogado, sociólogo e analista político Carlos Santiago afirmou que não vê problema ou “algo estranho” a visita do presidente Bolsonaro ao bilionário dono da Tesla. À REVISTA CENARIUM, o especialista destacou que, inclusive, tem sido frequente reuniões de chefes de Estado com empresários em hotéis, associações comerciais e em eventos de negócios.

“Embora os partidários da oposição ao presidente Bolsonaro tenham agido com críticas à presença do presidente no local onde o bilionário estava hospedado, não vejo problemas ou algo estranho nisso. Todo chefe de governo realiza visitas e reuniões com empresários nacionais e internacionais. Existem, inclusive, delegações de diplomatas e empresários que visitam outros países, reúnem-se com grupos empresariais privados. Dentro do Brasil mesmo, tem sido frequente as reuniões de chefes de Estado com empresários em hotéis, associações comerciais e em eventos de negócios”, declarou.

Conteúdo

Para Santiago, a preocupação do encontro deve residir no conteúdo da conversa e dos acordos. O analista político afirma que, quando se fala em um projeto que vai ser vendido ao Brasil e envolve a Amazônia, o monitoramento da região, a defesa do meio ambiente, o acesso à informação e parcerias empresariais do País com o mundo, é necessário maior participação das instituições de Estado e representantes da sociedade civil e científica.

“Tudo isso requer maior participação das instituições de Estado, como o Congresso Nacional, os governadores de Estado, membros da academia do Ministério Público, representantes da sociedade civil e científica para saber quais são as propostas, ideias e investimentos. A sociedade brasileira não pode deixar de saber o que está por trás de uma visita. Isso pode influenciar e muito o destino do Brasil”, frisou o analista político.

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