Brasil assume presidência da COP30 em Belém com apelo global por ação climática


Por: Ana Cláudia Leocádio

08 de novembro de 2025
Brasil assume presidência da COP30 em Belém com apelo global por ação climática
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva em discurso na Abertura da Sessão Plenária Geral dos Líderes (Paulo Mumia/COP30)

BELÉM (PA) – O Brasil receberá oficialmente a presidência da 30ª Conferências das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), na segunda-feira, 10, em Belém (PA), com um sinal político importante do anfitrião do evento, presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por meio de discursos durante a Cúpula de Líderes, evento que reuniu mais de 70 chefes de Estado na capital paraense. Nas plenárias, Lula chamou os colegas a agirem contra as causas do aquecimento global, como combustíveis fósseis e desmatamento, embora estes tópicos não estejam formalmente na agenda mandatada da conferência. É como avalia o coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, Claudio Angelo, que será observador durante as discussões que terminam no dia 21 deste mês.

Desde a última quinta-feira, 6, Lula recepcionou pelo menos 40 chefes de Estado e representantes de 140 delegações na Cúpula, evento que antecede a COP30 e tem o papel de mostrar as direções que os países deverão tomar nas negociações sobre como enfrentar as mudanças climáticas. “Acho que a Cúpula de Líderes, especialmente o discurso do Lula de quinta-feira, é uma sinalização política bastante importante para a conferência, porque ele tocou nas causas do aquecimento global, falou que nós precisamos de um mapa do caminho para combustíveis fósseis e para desmatamento”, avaliou Claudio Angelo.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Abertura da Sessão Plenária Geral dos Líderes Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Alex Ferro/COP30)

No primeiro dia de evento, Lula enfatizou a necessidade de o mundo agir depois de anos de negociações sobre medidas para conter o aquecimento do planeta, conforme acertado no Acordo de Paris na COP21, em 2015. O presidente brasileiro também lançou oficialmente o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), que conseguiu captar US$ 5,5 bilhões no primeiro dia de uma meta inicial de US$ 10 bilhões, mecanismo que pela primeira vez premia quem mantém a floresta de pé. Agora, Lula aguarda novos aportes de recursos públicos dos demais países até atingir US$ 25 bilhões, para poder operacionalizar o fundo e começar a captar investimentos da iniciativa privada.

Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, a ideia é alcançar US$ 125 bilhões com esse fundo para que se possa remunerar os países que preservarem suas florestas tropicais em 4 dólares por hectare. Como os 73 países que podem ser beneficiados detêm 1 bilhão de hectares desse tipo de vegetação, o ideal é o fundo gerar um lucro de US$ 4 bilhões por ano, para conseguir pagar essa compensação.

Também na quinta-feira, o subsecretário de Assuntos Econômicos e Fiscais do Ministério da Fazenda, João Paulo Resende, explicou que expectativa para se chegar aos US$ 125 bilhões necessários para remunerar cada hectare por 4 dólares é de ao menos três anos. Antes, o fundo pode até remunerar quem preservar a floresta, mas em valor inferior à meta.

Líderes posam para foto durante Cúpula em Belém (Hermes Caruzo/COP30)

“A partir de agora é todo um trabalho, tanto em relação aos governos quanto aos investidores privados para que a gente possa alcançar a meta que nós estabelecemos. Ninguém cria algo da noite para o dia e nós fizemos isso em tempo recorde”, explicou a ministra, ao lembrar que o objetivo do Brasil foi apresentar nesta COP30 a arquitetura de funcionamento do fundo para que seja operacionalizado.

Papel importante de Belém

Com participação em 14 COPs , Claudio Angelo, do Obsevatório do Clima, chama atenção para o importante papel que Belém terá na COP30, que inclui fechar um pacote de adaptação, criar um mecanismo global para transição justa – o chamado “Mecanismo de Ação de Belém” -, tratar do desmatamento e definir um calendário para a eliminação dos combustíveis fósseis.

O ambientalista lembra que o Brasil, como anfitrião, precisa desempenhar um papel de mais equilíbrio e não pode fazer muitas propostas, “mas se outros países quiserem botar alguma coisa na mesa, agora eles têm um respaldo para isso”.

Com o fim da Cúpula e preparação para a agenda climática a ser discutida, o ambientalista se mostrou bem mais otimista com a realização da COP30 no Brasil e lembrou da mudança de paradigma ambiental que ocorreu após a Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada pelas Nações Unidas no Rio de Janeiro, que ficou conhecida como Eco-92.

Foto aérea da capital do Pará (Bruno Cecim/Agência Pará)

Foi uma conferência também marcada pela grande mobilização social no Rio de Janeiro, o que deve se repetir em Belém, uma vez que a capital paraense está tomada de eventos dos movimentos ambientais, indígenas, sociais, culturais e também empresariais por toda a cidade. A expectativa, frisou Angelo, é de que a COP 30 possa ter um efeito catalisador na mentalidade do público brasileiro sobre questões climáticas, similar ao que ocorreu em 1992.

“A gente espera que a COP30 possa ter um pouco desse efeito catalisador, até pelas coisas que estão acontecendo fora daqui da Blue Zone. Belém está cheia de evento, palestra, debate, apresentação cultural, tudo girando em torno dessa agenda de clima. Então, tem tanta gente exposta a isso que a gente espera, sim, que isso consiga ficar e reverberar um pouco depois que a Copa passar”, reiterou.

O que o Brasil quer dessa COP30

Ao encerrar a Cúpula em Belém, na tarde de sexta-feira, 7, o presidente Lula foi enfático de que o Brasil propõe que a COP na Amazônia reconheça o papel dos territórios indígenas e comunidades tradicionais e as políticas de proteção como instrumento de mitigação climática.

A fala ocorreu na última plenária que encerrou a Cúpula, voltada para a implementação do Acordo de Paris, celebrado há dez anos, em que os chefes de Estado concordaram que precisam não permitir a elevação da temperatura em até 1,5ºC e mantê-la abaixo de 2ºC até 2030.

Mesa Redonda de Líderes. Reunião de Transição Energética, na Cúpula do Clima, que reúne lideranças mundiais (Rafa Neddermeyer/COP30)

“O Acordo se baseia no entendimento de que cada país fará o melhor que estiver a seu alcance para evitar um aquecimento de mais de 1,5ºC. O que nos cabe perguntar hoje é: estamos realmente fazendo o melhor possível? A resposta é: ainda não”, afirmou.

O presidente continuou e disse que 100 países, representando quase 73% das emissões globais, apresentaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que tiveram avanços, mas “o planeta ainda caminha para um aquecimento de cerca de dois graus e meio”. Lula enfatizou que, “no que depender do Brasil, Belém será o lugar onde renovaremos nosso compromisso com o Acordo de Paris”.

Outro fato levantado em seu discurso é o destino do financiamento climático atualmente, em que só uma pequena parcela chega ao mundo em desenvolvimento. “A maioria dos recursos ainda é oferecida sob a forma de empréstimos. Não faz sentido, ético ou prático, demandar a países em desenvolvimento que paguem juros para combater o aquecimento global e fazer frente a seus efeitos. Isso representa um financiamento reverso, fluindo do Sul para o Norte Global. Instrumentos de troca de dívida por ação climática já se provaram viáveis”, apontou.

Ao encerrar o discurso, Lula voltou a sugerir a criação, junto às Nações Unidas, de um Conselho do Clima, proposta já apresentada junto ao G20 e à Assembleia Geral da ONU. “Faço um chamado a todos vocês. Não existe solução para o planeta fora do multilateralismo. A Terra é única. A humanidade é uma só. A resposta tem de vir de todos, para todos. Em vez de abandonar as esperanças, podemos construir juntos uma nova era de prosperidade e igualdade”, concluiu.

Leia mais: Transição energética, Acordo de Paris e NDCs entram em debate na Cúpula de Líderes
Editado por Jadson Lima

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