Brasil cobra mais ambição global na Pré-COP e propõe fundo para florestas tropicais
Por: Ana Cláudia Leocádio
13 de outubro de 2025
BRASÍLIA (DF) – Pelo menos 62 delegações participam da Pré-COP, que começa nesta segunda-feira, 13, em Brasília, em preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém (PA), entre os dias 10 e 21 de novembro. Anfitrião do encontro, o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, destacou o compromisso do Brasil em reduzir as emissões de gases do efeito estufa de 59% a 67% até 2035 e revelou frustração com a baixa adesão dos demais países em entregar as suas “metas climáticas” até esta semana. Dos quase 200 países que integram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), apenas 62 apresentaram as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês).
“Muitos países estão tentando integrar na sua NDC uma lógica de desenvolvimento. Estamos frustrados, sim, o que dificulta o cálculo do relatório-síntese. Mas, nos últimos números, temos 62 NDCs formalmente apresentadas, e a ONU tem expectativa de 125 até a COP30. É muito importante que alguns dos países-chaves, com parcela significativa das emissões, apresentem suas NDCs”, declarou Alckmin, em seu discurso de abertura.

Com exceção de 2020, por causa da pandemia de Covid-19, desde 1995 são realizadas as Conferências das Partes (COPs), e Belém sediará a 30ª reunião para discutir, principalmente, a implementação dos compromissos firmados no Acordo de Paris, durante a COP21, realizada em 2015, na capital francesa. Nestes dez anos de vigência do acordo, foi construído todo um arcabouço para tirar do papel os compromissos ali assinados, com poucos resultados concretos até agora, principalmente em relação ao financiamento climático dos países em desenvolvimento.
Por isso, há uma grande expectativa em torno da Conferência que será realizada em Belém, para que ela seja realmente a COP da implementação, da ação dos países para trabalharem juntos e não permitirem que a temperatura do planeta exceda 1,5 grau Celsius, conforme determina o Acordo de Paris. No total, são 140 “temas mandatados”, ou seja, pontos já definidos por outras COPs e que deverão ser decididos em Belém, em um sistema decisório por consenso.
Conforme o presidente em exercício, a Presidência Brasileira da COP30 propõe três objetivos centrais para a Conferência de Belém: primeiro, reforçar o multilateralismo e o regime de mudança do clima no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas; segundo, conectar o regime climático à vida real das pessoas; e terceiro, acelerar a implementação do Acordo de Paris por meio do estímulo a ações e ajustes estruturais de todas as instituições que possam contribuir para isso.
O Brasil apresentou sua NDC ainda em novembro de 2024, durante a COP29, em Baku, no Azerbaijão. Na abertura da Pré-COP, Alckmin lembrou que Li foi determinado o compromisso de reduzir as emissões líquidas de gases do efeito estufa de 59 a 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005, considerado uma meta ambiciosa para os parâmetros globais.
“Essa nova NDC do Brasil traz a visão do País para 2035 — um País que reconhece a crise climática, assume a urgência na construção da resiliência e desenha o roteiro para um futuro de baixo carbono para sua sociedade, sua economia e seus ecossistemas. Trata-se de um plano ousado, mas realista, de corte de emissões, que prevê o crescimento econômico aliado à transição energética e à proteção das florestas, refletindo o compromisso com o desenvolvimento sustentável”, afirmou Alckmin.

Para a Presidência Brasileira da COP30, embora esta Pré-COP, que acontece nesta segunda, 13, e terça-feira, 14, em Brasília, não faça parte do calendário oficial da UNFCCC, é uma oportunidade estratégica para que os países alinhem posições políticas e técnicas sobre os principais desafios da agenda climática global, como financiamento climático, transição energética, adaptação e preservação da biodiversidade. Durante a plenária, serão feitas consultas informais sobre o andamento das propostas a serem debatidas em Belém e para identificar quais encontram mais dificuldade nos debates.
Além da agenda de adaptação, que engloba muitas ações importantes à pauta do Brasil, a principal proposta do País é a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que pretende remunerar aqueles que preservam suas florestas.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que coordena um dos quatro círculos criados pela Presidência da COP30 — o das Finanças —, destacou a criação do fundo como uma das três iniciativas estratégicas da Agenda de Ação da Conferência de Belém. A segunda consiste na “Coalizão Aberta para Integração dos Mercados de Carbono”, voltada à harmonização e interoperabilidade dos mercados regulados; e a terceira prevê a Supertaxonomia, destinada a assegurar comparabilidade e integridade entre taxonomias nacionais, orientando investimentos sustentáveis.

“Às vésperas da COP30, levamos a Belém uma mensagem clara: há um caminho comum sendo construído, com ambição e realismo, para que as finanças sirvam à transformação ecológica que o mundo exige”, disse Haddad.
Outros círculos de mobilização
Além de Haddad, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, coordena o Círculo do Balanço Ético Global (BEG), e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, coordena o Círculo dos Povos, que reúne povos originários e comunidades tradicionais. O quarto círculo é formado pelos ex-presidentes de COP.
Guajajara reforçou o entendimento da importância de se reconhecer os povos indígenas como parte das respostas climáticas, com seus territórios que são verdadeiros “sumidouros” de carbono. Além de cobrar mais espaços de participação para esses povos, a ministra também pediu o reconhecimento dos defensores ambientais.

Marina Silva coordena o Balanço Ético Global, um documento elaborado em paralelo ao Balanço Global do Acordo de Paris, baseado em parâmetros éticos e morais. Segundo Marina, o BEG é uma concepção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
“Inspirado no Balanço Global do Acordo de Paris, o Balanço Ético Global nasceu da convicção de que a ética não pode servir apenas como retórica para o debate climático. A ética é, sobretudo, um de seus principais fundamentos. É ela que dá sentido à ação, é o que nos lembra de que enfrentar a emergência climática é também enfrentar uma crise moral e civilizatória”, declarou a ministra.
