Brasil é o terceiro País mais perigoso para ativistas ambientais, diz pesquisa

Dos 24 assassinatos de ambientalistas brasileiros em 2019, a grande maioria foi na Amazônia – dez deles de indígenas (Patrick Raynaud/ El País)

Jarleson Lima – Da Revista Cenarium*

MANAUS – De acordo com relatório emitido nesta quarta-feira, 29, pela ONG Global Witness, com sede em Londres (Reino Unido) e Washington D.C. (Estados Unidos), o Brasil voltou a figurar nas três primeiras posições da lista que aponta os países mais perigosos para ambientalistas no mundo. Com 24 mortes registradas em 2019, o País se encontra no terceiro lugar do ranking, um aumento de 4 homicídios em relação à pesquisa anterior.

Desde que a organização passou a sistematizar informações do tipo, em 2012, nunca houve tantos crimes como em 2019. Só no ano passado foram registrados mundialmente 212 assassinatos relacionados à luta ambiental. No topo do ranking está outro país sul-americano, a Colômbia, com 64 mortes. Filipinas, o país “líder” do ano passado, aparece agora em segundo lugar, com 43 vítimas.

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Para o ativista da Global Witness, Ben Leather, em entrevista à DW Brasil, entre os motivos para o aumento dessa violência está a crescente demanda pelo consumo. Além disso, segundo ele, a tendência é que as coisas piorem a cada ano. “Para suprir seus negócios, empresas buscam novas áreas, novos territórios, e colocam em ameaça as comunidades que estão lá e defendem suas terras, seus direitos”, pontuou.

A impunidade é vista também como parte da engrenagem que sustenta o cenário. “A cada ano, defensores são mortos, e quase nenhum caso vai parar na Justiça. Quem comete os crimes se sente livre para continuar. Por isso, os governos precisam agir”, ressaltou Leather.

No Brasil, a grande maioria dos assassinatos de ambientalistas em 2019 ocorreu na Amazônia. Para a Global Witness, é preciso destacar que alguns tipos de ambientalistas brasileiros enfrentam riscos mais específicos e sérios. “São os indígenas os mais expostos à violência”, destaca Leather.

Das 24 mortes contabilizadas em território brasileiro pelo relatório, dez delas, ou cerca de 42%, foram de indígenas. “Eles representam apenas 0,4% da população do país, ou seja, estão super-representados entre os ativistas assassinados”, lamenta o membro da Global Witness.

Virada histórica

Ativista Paulo Paulino Guajajara foi assassinado em emboscada feita por Madeireiros ilegais em 2019 (Ueslei Marcelino/ Reuters)

Nomes de brasileiros como o de Paulo Paulino Guajajara estão na lista da Global Witness. Conhecido como guardião da floresta, ele foi assassinado na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, em novembro de 2019. Paulino Guajajara fiscalizava e denunciava invasões das terras e roubo de madeira – função que se tornou mortal no país.

Um levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA) mostrou que esse território indígena na Amazônia tem sofrido com invasões e desmatamento sem precedentes. Para tirar a madeira roubada do local, os criminosos chegam a abrir mais de 100 quilômetros de estradas clandestinas por mês na mata.

“De uns tempos para cá, os ataques se voltaram mais contra os indígenas. No passado, eram os missionários que defendiam a causa que eram assassinados, mas houve esta virada histórica”, analisou Christian Ferreira Crevels, antropólogo do Conselho Missionário Indigenista (Cimi).

Um dos casos marcantes foi o de Irmã Cleusa, assassinada em 1985. Como missionária, defendia a terra indígena dos Apurinã às margens do rio Paciá, em Lábrea, estado de Amazonas.

A mudança, segundo Crevels, tem uma explicação clara. “No Brasil da impunidade, as mortes dos indígenas defensores dos territórios, do meio ambiente, repercutem menos. Quantos brasileiros perderam a vida no interior e nunca foram conhecidos”, complementou.

São nomes como o de Dilma Ferreira Silva, líder rural e coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), assassinada em 2019 no Pará, que também consta no relatório da Global Witness.

Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual, o fazendeiro Fernando Ferreira Rosa Filho, mandante do crime, encomendou a morte da ativista por ela ameaçar denunciar suas atividades ilegais – como desmatamento ilegal – às autoridades.

“Sabemos que nosso relatório traz só a ponta do iceberg. Só contamos o número de assassinatos. Sabemos que em todo o mundo, inclusive no Brasil, há muitos defensores do meio ambiente e membros de suas famílias que sofrem muita violência: são difamados, censurados, ameaçados, assediados e presos”, comentou Leather.

(*) Com informações da DW

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