Com informações do Infoglobo
BRASÍLIA — A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou na sexta-feira, 18, que o “Brasil parece estar do lado oposto à comunidade global” no que se refere à crise na Ucrânia. A declaração foi feita depois que ela foi questionada sobre qual seria a opinião do presidente Joe Biden sobre a declaração de solidariedade à Rússia feita pelo presidente Jair Bolsonaro durante encontro com o presidente Vladimir Putin em Moscou, na quarta-feira, 23:
“Não discuti os comentários dele [Bolsonaro] com o presidente, mas o que diria é que a grande maioria da comunidade global está unida na visão compartilhada de que invadir outro país, tentar tomar parte de suas terras e aterrorizar seu povo certamente não se alinha aos valores globais, então acho que o Brasil parece estar do lado oposto ao da comunidade global”, dsse Psaki.
Ao GLOBO, integrantes do governo americano reiteraram a crítica:
“Podemos lembrar que, várias vezes, o governo americano pediu que o Brasil desse uma resposta forte à Rússia, disse que o momento [da viagem] não era adequado”, afirmou a fonte sob condição de anonimato.
No momento em que se declarou solidário à Rússia, no início do encontro com Putin na quarta-feira, 23, Bolsonaro não foi claro a que situação estava se referindo. Depois, questionado por repórteres brasileiros, disse que era solidário “desde que busquem a paz”.
Nessa sexta-feira, 25, durante uma transmissão ao vivo em redes sociais, Bolsonaro afirmou que a sua viagem à Rússia não teve como objetivo “tomar partido de ninguém”.
“Não foi para tomar partido de ninguém. A nossa missão tinha um objetivo específico. Alguns levaram para lado de que estou apoiando A, B ou C, (disseram) “não devia fazer isso”. Teve crítica, bastante”, disse Bolsonaro, durante transmissão ao vivo em redes sociais.
Na quinta-feira, 17, o Departamento de Estado já havia repreendido a manifestação de Bolsonaro de que estava “solidário com a Rússia”.
“O momento em que o presidente do Brasil expressa solidariedade à Rússia, que é o mesmo momento em que as forças russas estão se preparando para lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ser pior”, disse um porta-voz do Departamento de Estado em nota à imprensa. “Isso prejudica a diplomacia internacional voltada para evitar um desastre estratégico e humanitário, bem como os próprios apelos do Brasil por uma solução pacífica para a crise.”
A nota também afirma: “O Brasil, como um país importante, parece ignorar a agressão armada por uma grande potência contra um país vizinho menor, uma postura inconsistente com a ênfase histórica do Brasil na paz e na diplomacia”.
À Reuters, diplomatas brasileiros disseram que o Itamaraty foi pego de surpresa pela forte crítica do Departamento de Estado. De acordo com eles, o governo brasileiro não planeja responder à declaração.
“Como responder a um texto que não se tem? Nossos contatos com o Departamento de Estado são frequentes e sempre amistosos na agenda bilateral. Não se pautam por declarações anônimas divulgadas na imprensa”, disse um diplomata, que preferiu não ser identificado por não estar autorizado a discutir o assunto.
Ainda não houve comentário do Itamaraty à manifestação desta sexta-feira da porta-voz da Casa Branca.
As declarações dos EUA representam uma crítica inusualmente brusca ao governo do Brasil, com o qual os Estados Unidos costumam manter relações cordiais.
Bolsonaro foi um forte aliado ideológico do ex-presidente Donald Trump, e as relações com o país americano esfriaram sob o governo do presidente Joe Biden, com divergências sobre mudanças climáticas e outras questões.