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Brasil perdeu 15% da superfície de água desde 1990, revela MapBiomas
O País perdeu, nos últimos 29 anos, 3,1 milhões de hectares de cobertura hídrica (Valter Campanato/Agência Brasil)
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24 de agosto de 2021
Iury Lima – Da Cenarium
VILHENA (RO) – A nova pesquisa da série MapBiomas, em formato inédito, divulgada nessa segunda-feira, 23, escancarou quão preocupante é a situação hídrica do Brasil. Os dados apontam que o País, considerado a maior reserva hidrológica do mundo (com 5,661 bilhões de metros cúbicos), secou 15,7% desde o início dos anos 1990 e que a tendência é perder cada vez mais água.
O levantamento sobre a situação da água teve apoio do WWF-Brasil e, segundo os dados revelados, é como se todas as áreas de água que desapareceram do País, somadas, fossem o equivalente a quatro vezes o Estado do Rio de Janeiro, ou a uma vez todo o território do Acre, sendo que a redução dos recursos hídricos tem sido significativa em todos os biomas.
O País possui 12% de todas as reservas de água do planeta e constitui 53% do total de recursos hídricos da América Latina, mas perdeu, nos últimos 29 anos, 3,1 milhões de hectares de cobertura hídrica. Assim, o Brasil saiu de 19,7 milhões de hectares em 1991, para 16,6 milhões de hectares em 2020. “O que a gente consegue perceber é que de fato há uma tendência da diminuição das superfícies de água. O cenário que vem se desenhando nesses últimos 30 anos, de fato, é de uma menor disponibilidade hídrica e é algo que tem uma correlação evidente com o aumento do desmatamento, principalmente na Amazônia, que tem a função de regulação da precipitação (das chuvas) no Sul e Sudeste do Brasil e, também, com as mudanças climáticas e a aceleração desse fenômeno que tem ocorrido pela ação humana”, explicou em entrevista àCENARIUM, o coordenador de projetos do WWF-Brasil Cássio Bernadino.
A situação mais crítica é do Estado de Mato Grosso do Sul, integrante do Pantanal. Foi onde ocorreu a maior perda absoluta e proporcional de superfície de água nesta série histórica: 57%, ou seja, redução de 780 mil hectares de água. De 1,3 milhão de hectares de recursos hídricos em 1985, restam, agora, 589 mil hectares.
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Na vice-liderança, aparece o Mato Grosso, que perdeu 530 mil hectares e, Minas Gerais, com saldo negativo entre a água que saiu e a que se esvaiu de quase 120 mil hectares.
Vai pesar no bolso
O coordenador de projetos do WWF-Brasil avalia ainda os efeitos da redução dos recursos hídricos como catastróficos não só para a saúde do homem e do meio ambiente, mas também para a economia do País.
“As mudanças climáticas tendem a alterar esse regime de chuvas, ficando mais concentradas e com a água menos disponível no sistema. Tendem, também, a fazer com que algumas regiões fiquem mais secas e com menos umidade no solo e, por outro lado, o desmatamento afeta a transpiração da floresta”, destacou Cássio Bernadino.
“As projeções mostram que sim, a gente deve se preocupar com a disponibilidade hídrica no próximo século. A tendência é que a gente tenha mais secas e isso vai encarecer a produção agrícola brasileira, afetando nosso PIB e o preço dos alimentos. E, como a gente já tem visto, afeta também a nossa conta de água, dado que nossa matriz energética é majoritariamente hidráulica”, lamentou.
Atual situação dos biomas
A Amazônia é o bioma com mais área coberta por água em todo o mundo: são mais de 10 milhões de hectares. Apesar da redução que todos eles sofreram nas últimas décadas, a situação segue da seguinte forma, no Brasil:
Posição
Bioma
Superfície d’água em hectares (ha)
1º
Amazônia
10.638.976 ha
2º
Mata Atlântica
2.134.950 ha
3º
Pampa
1.807.627 ha
4º
Cerrado
1.449.245 ha
5º
Pantanal
1.031.380 ha
6º
Caatinga
922.431 ha
Fonte: MapBiomas/Água
Rio Negro em risco
O levantamento do MapBiomas também fez uma alarmante revelação para a Amazônia: o Rio Negro está perdendo seu vigor. Ele perdeu 360 mil hectares da superfície de água em 36 anos, representando uma diferença de 22% em seus níveis entre o início e o final da série histórica, ou seja, de 1985 a 2020.
Além disso, as imagens de satélites apontaram para um decréscimo generalizado da superfície em sua sub-bacia hidrográfica.
“Acho que o Rio Negro é um bom exemplo do que tem ocorrido com a Amazônia em geral. Algumas pesquisas indicam que se não nos aproximamos do ‘ponto de ruptura’, talvez a gente já tenha até passado dele, que é o momento em que a Amazônia já foi tão devastada pela ação humana, que o sistema fica tão desequilibrado, que começa a se degradar por si só”, afirmou Bernadino.
“A Amazônia deixa de ser uma floresta e começa a se tornar uma savana, ou seja, uma região com vegetação mais rala e mais seca, então o prospecto para a Amazônia, nesse cenário de mudanças climáticas e aceleração do desmatamento é muito alarmante. É o momento de parar com isso e, de fato, começar a recuperar a floresta”, finalizou o coordenador.
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