Brasil tem 17 milhões de mulheres sob risco de feminicídio, aponta estudo


Por: Ana Cláudia Leocádio

25 de novembro de 2024
Mulheres protestam contra feminicídio (Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto via Getty Images)
Mulheres protestam contra feminicídio (Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto via Getty Images)

BRASÍLIA (DF) – Pelo menos 17 milhões de brasileiras já viveram ou vivem em situação de risco de feminicídio, segundo estimativa da pesquisa “Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio”, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Consulting do Brasil, com apoio do Ministério das Mulheres, divulgada nesta segunda-feira, 25.

No dia 25 de novembro comemora-se o Dia da Eliminação da Violência contra Mulher e o Instituto Patrícia Galvão realiza esses levantamentos para fornecer subsídios para a elaboração de estratégias de combate e prevenção à violência contra as mulheres. No ano passado, o foco da pesquisa foi sobre “Percepções e experiências das mulheres quando se deslocam pelas cidades”, que mostrou um quadro no qual três em cada quatro mulheres já haviam sofrido violência no deslocamento, seja a pé ou no ônibus.

O estudo deste ano mostra que, duas em cada dez brasileiras já foram ameaçadas de morte por parceiro ou ex-parceiro, e seis em cada dez mulheres conhecem outras que já foram ameaçadas de morte por parceiro, ex-companheiro ou namorado. Considerando as mulheres negras, esse percentual alcança 70%.

O X vermelho desenhado na palma da mão faz parte de uma campanha mundial para amparar mulheres em situação de violência doméstica (Paulo H. Carvalho/Agência Brasil)

Conforme a Agência Patrícia Galvão, para nove em cada dez entrevistadas (90%), “todo feminicídio pode ser evitado se a mulher receber proteção do Estado e da sociedade. Mas a ampla maioria das entrevistadas considera que de nada vale a mulher ter uma medida protetiva se o agressor não respeita essa ordem e nem a polícia garante sua segurança”.

Foram realizadas 1.353 entrevistas com mulheres a partir de 18 anos, nas cinco regiões do País, de 23 a 31 de outubro deste ano. A faixa etária predominante foi de 30 a 34 anos (21%), seguida do grupo entre 25 e 29 anos (17%).

Do total, 21% das entrevistas responderam que já foram ameaçadas de morte pelo parceiro ou namorado, sendo 18% ameaçadas de morte por algum ex-parceiro ou namorado; e 3% já sofreram ameaças de mais de um parceiro ou namorado. No recorte por raça e cor, a incidência em mulheres brancas foi de 16%, enquanto no grupo de mulheres negras foi de 26%.

Presas ao relacionamento

A dependência econômica do agressor foi apontada por 64% das entrevistadas como o principal motivo para elas não conseguirem sair da relação violenta. Segundo a pesquisa, 61% permanecem no relacionamento porque acreditam que “ele se arrependeu e vai mudar”, e 59% têm “medo de ser morta, caso termine a relação”.

“Em média, o medo está presente em 46% das razões apontadas para a manutenção das mulheres nas relações violentas (44% nas mulheres brancas e 49% nas mulheres negras)”, aponta o levantamento.

Quanto à “Percepção do risco de feminicídio e busca de ajuda”, 44,5% das mulheres entrevistadas disseram acreditar que correm risco de ser mortas pelo atual ou ex-parceiro em qualquer momento, seja quando ela conta para família e amigos, que está sendo ameaçada, quando ela decide terminar a relação ou quando ela denuncia para a polícia e pede a medida protetiva. Para 37%, isso pode ocorrer quando ela termina a relação (46% entre as mulheres negras e 36% entre as brancas).

A pesquisa traz também a percepção das mulheres sobre as medidas que devem ser tomadas para evitar que ocorram mais casos de feminicídio íntimo. “As mulheres acreditam ser necessárias várias medidas, como aumentar penas para o crime de violência doméstica contra a mulher, para o feminicídio ou tentativa de feminicídio e garantir proteção para as mulheres que denunciam, por exemplo, monitorando os agressores para que mantenham distanciamento e cumpram as medidas protetivas”, conclui o estudo.

Quanto aos casos de feminicídio íntimo, ciúmes e possessividade dos parceiros/namorados que se acham donos das mulheres são apontados com mais que o dobro de respostas da segunda opção (sociedade machista), revelando que as mulheres não possuem dúvida alguma de que há uma cultura de que a mulher é vista como propriedade pelos homens e que esse olhar leva ao assassinato de mulheres.

Sensação de Impunidade

De acordo com a pesquisa, seis em cada dez mulheres acreditam que o aumento nos casos de feminicídio está atrelado à sensação de impunidade, ou seja, 60% das entrevistadas. Para 32% delas, deve-se ao “aumento do machismo e da violência contra as mulheres”.

O estudo também buscou saber o papel das redes sociais sobre a percepção de feminicídio no Brasil. Para 79% das mulheres entrevistadas, “as redes sociais têm um papel fundamental para conscientizar e mobilizar a sociedade contra o feminicídio”, enquanto para 21%, as redes “podem perpetuar o feminicídio ao permitir a disseminação de discursos de ódio e violência”.

A Delegacia da Mulher foi citada por quase a unanimidade das entrevistadas, assim como demais órgãos públicos de polícia (Polícia Civil/Militar e delegacia comum), como o órgão ou local em que a mulher deve procurar ajuda em situação de violência pelo atual ou ex-parceiro.

Para a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, Jacira Melo, “a pesquisa revela que as mulheres consideram que houve um aumento dos casos de feminicídio nos últimos anos e essa percepção se deve principalmente à sensação de impunidade e também de descrédito em relação à efetividade das políticas públicas de prevenção e responsabilização para os autores desses crimes”.

“As mulheres entrevistadas destacaram que as vítimas de ameaças de parceiros têm muito medo e precisam do apoio do Estado para saírem dessas relações violentas e serem protegidas contra as ameaças de morte e o risco real de feminicídio”, afirma Melo à Agência Patrícia Galvão.

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Editado por Adrisa De Góes

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