Brasileiros aprovam protagonismo feminino na política, mas candidatas ainda enfrentam barreiras

Pesquisa apontou que 72% das pessoas acreditam que mais mulheres, como lideranças políticas, são garantia de um mundo mais pacífico e bem-sucedido (Reprodução/Google)
Cassandra Castro – Da Cenarium

BRASÍLIA – Mais mulheres como lideranças políticas são garantia de um mundo mais pacífico e bem-sucedido. Pelo menos é isso o que pensa boa parte dos quase mil entrevistados que foram ouvidos no Brasil durante uma pesquisa sobre liderança global realizada em 28 países. No País, 72% das pessoas ouvidas concordam com essa afirmação, 18% discordam e 10% não souberam opinar sobre o tema. À CENARIUM, representantes femininas na política pontuaram os desafios da busca por mais espaço.

O estudo realizado pela Ipsos, uma empresa de pesquisas globais e inteligência de mercado, também aponta que o Brasil é o primeiro no ranking de países que apostam nas lideranças femininas para uma transformação mundial pacífica e próspera, com um percentual de 72%, seguido por Peru e Colômbia, com 70%.

Desafios para uma maior representatividade feminina na política

Na avaliação da professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cofundadora d’A Tenda das Candidatas – uma organização que atua na formação de lideranças de mulheres -, Hannah Maruci Afialo, os dados revelados na pesquisa representam um descompasso em relação à realidade política brasileira.

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“Os brasileiros querem ver as mulheres no poder, na política, mas ainda há um baixo investimento por parte dos partidos tanto financeiramente quanto em termos políticos para viabilizar candidaturas femininas”, afirma a especialista.

A professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cofundadora d’A Tenda das Candidatas, Hannah Maruci Afialo (Reprodução/Redes sociais)

Essa questão, aliada a outros fatores como políticos com mais visibilidade, mais dinheiro para campanhas e o estereótipo do político homem e branco, também colaboram para a manutenção do quadro atual da política brasileira. Hannah Afialo também destaca a importância do investimento em um quadro de mulheres candidatas nas quais o eleitor confie e queira votar.

Para isso, ela destaca ainda a necessidade de um suporte qualificado a essas mulheres para que elas sejam preparadas para competirem a um cargo eletivo. “A gente ajuda na preparação psicológica, no planejamento financeiro e também ensinamos como essas mulheres podem negociar com os partidos políticos”, explica ainda sobre o trabalho feito n’A Tenda das Candidatas.

Amazonas sem representantes no Congresso

A jornalista Laura Lys foi candidata a uma vaga na Câmara Municipal de Manaus (CMM), no Amazonas, nas eleições do ano passado. Ela conta à CENARIUM que sentiu vontade de mudar a situação política e social da cidade e decidiu concorrer, apesar de existirem poucas mulheres que concorram e, quando o fazem, quase não recebem votos. “A própria mulher não vota em mulher. Na verdade, não é nem critério de escolha. Poucas pensam: ‘vou votar em uma mulher pra me representar’, disse ela.

Esta mentalidade pode ser um dos motivos para que a presença feminina nas instâncias de poder seja ainda tão pequena. A advogada e coordenadora regional do Observatório Nacional de Candidaturas Femininas, Aparecida Veras, explica que, mesmo com pontos positivos na legislação, ainda há muito o que avançar para ter uma representatividade feminina justa e necessária.

“Hoje, a representatividade feminina na Câmara gira em torno de 15%, 13% no Senado. O Amazonas, atualmente, não tem representante feminina no Congresso Nacional. O número de mulheres na Assembleia Legislativa do Amazonas também é muito baixo, de 24 parlamentares, apenas quatro são mulheres”, frisa a advogada.

A jornalista Laura Lys (Reprodução/Facebook)

Caminhos para mudar o cenário político

A professora Hannah Afialo acredita ainda na necessidade de mudanças embasadas na educação tanto dos eleitores quanto das candidatas, para que diminua a distância entre o que se quer ver e como se usa o voto. Ao contrário do que se pensa, as mulheres são muito envolvidas no fazer político, mas existem obstáculos que as desmotivam a buscar um cargo eletivo.

“Elas enfrentam várias barreiras para serem eleitas, existe a violência de gênero e de raça e precisamos, não só de uma legislação que ajude a mitigar essa violência, mas de uma conscientização sobre a imagem que se espera de um representante, de um parlamentar. Hoje em dia, a gente ainda liga muito isso à figura do homem”, destacou Afialo.

Ainda na avaliação da especialista, é fundamental investir na educação política para que o eleitorado comece a desconstruir “essa visão machista e racista que se tem na sociedade e que se reproduz na escolha de representantes”. “Precisamos de mais mulheres eleitas para que, quando se olhe para a política, a gente veja as mulheres e isso faça sentido. Se a gente não se vê lá, a gente não enxerga que esse é o nosso lugar”, finalizou.

Leia mais sobre a pesquisa aqui: https://bit.ly/3uPkOOA

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