Brigadistas quilombolas combatem queimadas em território tradicional no Cerrado

Bombeiro combatendo as chamas que se propagam pela Chapada dos Veadeiros (João Paulo Guimarães/Revista Cenarium)
João Paulo Guimarães – Da Cenarium

CHAPADA DOS VEADEIROS (GO) – Zé Gabriel é kalunga do Quilombo Engenho II, em Goiás, e recebeu a CENARIUM na base do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na cidade de Cavalcante, a 374 quilômetros de Goiânia. Na região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, as vigílias e observações constantes do clima e dos focos de incêndios menores que se iniciam fazem com que a brigada quilombola tenha tempo hábil para combater os pontos menores de fogo que possam se transformar em incêndios de grandes proporções.

O combatente kalunga contou que, apesar das chuvas, os combates se mantêm intensos, pois ainda há muitos focos e as causas são indeterminadas, mas, hoje, há um controle do fogo. “Na semana passada, houve um grande incêndio de origem indeterminada. Nós dizemos indeterminada porque não podemos afirmar que o incêndio foi criminoso, então vocês estão vindo na fase onde os focos principais estão sob controle e manejo. A gente está atento aqui aos chamados e fazendo ronda pra combater a ação criminosa, mas agora existe essa segurança de controle do fogo”, disse o brigadista.

Existem fazendas dentro do território quilombola, como a Fazenda Pequí, que já tem ordem de entrega do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para liberar a área para o território Kalunga. O dono da fazenda não autorizou o trabalho de manejo de aceiros (técnica de limpeza para que o fogo não se propague no terreno rico em matéria orgânica) e fogo, que seria uma prevenção para queimadas. Logo depois, os incêndios começaram dentro da localidade, fazendo com que os kalunga tivessem que intervir com o aval do fazendeiro. Os incêndios acabaram por consumir parte da fazenda, mesmo com o trabalho da brigada Prevfogo, que é 100% kalunga.

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A mídia não vem divulgando a situação real da Chapada dos Veadeiros, ao mesmo passo em que parte do poder público tenta diminuir a área do Parque Nacional, com a desculpa de que a Chapada e sua área de Cerrado protegida atrapalham a expansão do agronegócio. É muito fácil encontrar plantações de soja ou milho com uma área vizinha completamente devastada pelo “fogo de origem indeterminada”. Esse cenário se torna um padrão, da mesma forma que não é possível encontrar plantações queimadas de soja ou milho. É sempre a área vizinha à plantação.

Brigada Kalunga

A Brigada Kalunga é a mais estruturada e a mais equipada da região. Eles contam com dez assopradores de fogo doados e uma nova viatura para deslocamento de equipe. Mesmo assim, as dificuldades são de números de brigadistas. Recentemente houve adesão de novos voluntários, sendo alguns guias turísticos que sobrevivem da atividade na Chapada dos Veadeiros. São pessoas que arriscam a vida em situações que mostram, de forma quase óbvia para quem presencia, que os incêndios são muitas vezes causados pela ação criminosa.

Missão

No primeiro dia de ronda, os brigadistas buscaram três focos de queimada próximo ao Engenho II, território quilombola, quando encontraram com uma viatura do Prevfogo do Ibama. Os homens, já exaustos do combate, avisaram que as chamas estavam controladas.

“A área que combatemos é de fazendas e um dos fazendeiros tocou fogo para fazer a brota, que é como chamam o crescimento do capim para o gado. Dessa forma, o fogo vai crescendo descontrolado. A ação do vento forte na serra faz o resto do trabalho levando faíscas para outras partes da região, iniciando outros focos menores, que logo se transformam em grandes incêndios”, explicou, por fim, Zé Gabriel.

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