Calculadora do MPF revela impacto alarmante do garimpo ilegal de ouro na Amazônia


31 de março de 2023
Calculadora do MPF revela impacto alarmante do garimpo ilegal de ouro na Amazônia
A ferramenta online permite calcular o impacto financeiro causado pelo garimpo ilegal de ouro na Amazônia (Reprodução/Internet)
Bianca Diniz – Da Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – Na última terça-feira, 28, o Ministério Público Federal (MPF) e a organização não governamental Conservação Estratégica (CSF-Brasil) apresentaram em Lima, Peru, a nova versão da Calculadora de Impactos de Garimpo Ilegal de Ouro. A ferramenta online permite calcular o impacto financeiro causado pelo garimpo ilegal de ouro na Amazônia.

Para realizar os cálculos, o dispositivo considera critérios como o desmatamento, o assoreamento dos rios e a contaminação pelo mercúrio, que afetam a natureza e a saúde de populações indígenas e ribeirinhas.

Evento reuniu autoridades brasileiras e de outras nacionalidades. (Reprodução/MPF)

Aliada das instituições

De acordo com o MPF, a nova versão da plataforma, disponível desde 2021, tem ajudado instituições como a Polícia Federal (PF) a combater a atividade ilegal na região. Além disso, a plataforma fornece informações detalhadas sobre a quantidade de ouro extraída, o tipo de garimpo utilizado e o local da extração, entre outros requisitos.

Com os dados, é possível calcular o valor em dinheiro dos prejuízos causados pelas atividades ilegais. Além disso, o órgão busca obter na Justiça o pagamento de indenizações por parte dos envolvidos com a ajuda da ferramenta.

Ilustração informativa disponibilizada pelo MPF.

Discussão do tema

Autoridades do Brasil, Peru e Colômbia se reuniram no evento em Lima para discutir a questão do garimpo ilegal na fronteira entre os países e trocar experiências sobre o uso da calculadora como ferramenta de auxílio à tomada de decisões e combate a irregularidades. Com a nova versão da plataforma, a expectativa é que se torne ainda mais eficaz no combate ao garimpo ilegal e na proteção da Amazônia.

Durante o encontro, o procurador da República Gustavo Alcântara apresentou o caso do Pará como exemplo de uso da ferramenta. Por meio de um levantamento em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi descoberto que cerca de 58,4% das 30,4 toneladas de ouro produzidas no estado do Pará entre 2019 e 2020 foram extraídas com falsa indicação de origem.

Com base nos dados coletados, o MPF identificou três distribuidoras de valores mobiliários como as principais compradoras de ouro ilegal proveniente da região sudoeste do estado, onde estão localizadas as terras indígenas dos povos Munduruku e Kayapó.

O procurador da República, Gustavo Alcântara, enfatizou a relevância da reparação de danos (Reprodução/MPU)

“Temos observado que os problemas de saúde decorrentes do mercúrio afetam não apenas as populações próximas aos garimpos, mas também outras mais distantes. Por isso, além da repressão, é essencial buscarmos a reparação pelos danos causados”, destacou Alcântara.

Dados alarmantes

A ferramenta fornece uma perspectiva alarmante sobre os impactos financeiros e ambientais da extração ilegal de ouro em garimpos de aluvião na Amazônia. De acordo com o exemplo fornecido pelo MPF, a extração de apenas 1 kg de ouro pode resultar em um impacto financeiro de R$ 1,2 milhão, quatro vezes o valor de mercado do ouro extraído. O cálculo leva em conta não apenas os 7 hectares de floresta desmatada, mas também a destruição de espécies de plantas e animais.

A extração ilegal de ouro no garimpo de aluvião na Amazônia envolve o uso de produtos químicos. (Reprodução/Sinpofer)

Além disso, a ferramenta considera o tempo e os recursos necessários para recuperar a área, que pode levar cerca de 30 anos, e os benefícios perdidos durante esse período.

Outro problema associado à extração de ouro em garimpos de aluvião é o uso de mercúrio, que é altamente tóxico. Em média, são utilizados 2,6 kg de mercúrio para extrair cada quilograma de ouro, o que pode contaminar os peixes e causar danos à saúde tanto dos garimpeiros quanto daqueles que consomem peixes em um raio de 100 km.

Como usar a calculadora

Para utilizar a calculadora, acesse o site e selecione o País em que deseja usar a ferramenta. Em seguida, informe algumas informações como o tipo e tamanho do garimpo ou a quantidade de ouro extraída. Também é possível fazer um cálculo com base na localidade atingida, informando o Estado e município afetados.

Garimpo ilegal na Amazônia

Segundo um estudo divulgado pela revista Remote Sensing, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, nos Estados Unidos, cerca de 95% do garimpo ilegal na Amazônia Legal ocorre em três terras indígenas específicas: Kayapó, Munduruku e Yanomami.

O estudo também aponta que, nos últimos 35 anos, a mineração ilegal em terras indígenas da região aumentou em 1.217%, passando de 7,45 km², em 1985, para 102,16 km², em 2020.

AnoÁrea de mineração ilegal em terras indígenas (km²)
19857,45
199012,89
199522,81
200040,02
200570,45
2010122,34
2015158,76
2020102,1
Dados: Revista Remote Sensing

Os pesquisadores ressaltam que, em 2018, a área de mineração ilegal na TI Yanomami ultrapassou a marca de 2 km², o que nunca havia ocorrido anteriormente. Desde então, a expansão do garimpo ilegal em Roraima resulta em um aumento significativo na crise humanitária que afeta os povos indígenas.

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