Câmara de Macapá abre processo de cassação após prefeito agredir jornalista com ‘mata-leão’
Por: Fabyo Cruz
19 de agosto de 2025
BELÉM (PA) – A Câmara Municipal de Macapá (CMM) aprovou, nesta terça-feira, 19, a abertura de um processo administrativo contra o prefeito Antônio Furlan (MDB), acusado de agredir o cinegrafista Iran Froes durante uma visita às obras do Hospital Municipal, no último domingo, 17. A decisão, tomada por 12 votos a 10, pode resultar na cassação do mandato do chefe do Executivo por infração político-administrativa.
A Comissão Processante, responsável pela apuração, foi formada logo após a votação. O vereador Ruzivan Pontes (Republicanos) assumiu a presidência, Alessandro Monteiro (PDT) será o relator, e Alexandre Azevedo (Podemos) integrará o grupo como membro. O colegiado terá 45 dias, prorrogáveis por igual período, para investigar se houve quebra de decoro e abuso de autoridade.

O que motivou a denúncia
A confusão começou durante a vistoria de Furlan às obras do hospital, quando o repórter Heverson Castro questionava o andamento da construção iniciada em 2023. Em vídeos divulgados nas redes sociais, o prefeito aparece afastando o microfone do jornalista e, em seguida, aplicando um “mata-leão” em Froes. Outros membros da equipe de reportagem também foram detidos pela Guarda Municipal, entre eles, Marshal dos Anjos.
O advogado Maurício Pereira, que representa os comunicadores, afirmou que os profissionais foram vítimas de abuso de autoridade. Segundo ele, os jornalistas foram liberados mediante assinatura de um Termo Circunstanciado, sem indícios de agressão por parte deles.

“Já temos o exame de corpo de delito da suposta vítima, negativo, então está provado que, na verdade, Heverson e Iran foram vítimas de abuso de autoridade, foram violados na sua prerrogativa profissional, têm liberdade de imprensa, liberdade de expressão, e foram violados nisso. E nós vamos buscar a apuração dessas violações”, declarou Pereira.
Câmara reage
No mesmo dia, a Câmara Municipal divulgou uma nota de desagravo em defesa dos profissionais da imprensa. O presidente da Casa, Pedro DaLua, repudiou a agressão cometida pelo prefeito e pela Guarda Civil Municipal.
“O jornalismo livre é um pilar essencial da democracia. Atentar contra jornalistas em pleno exercício de sua profissão é ferir não apenas a dignidade dos trabalhadores da comunicação, mas também o direito da sociedade à informação”, afirmou DaLua no comunicado.
Furlan pede desculpas
Na manhã de segunda-feira, 18, o prefeito publicou um vídeo em suas redes sociais pedindo desculpas pelo episódio. “Eu me excedi quando presenciei servidoras nas suas funções sendo agredidas durante seu trabalho. Isso eu não vou permitir. Quero me dirigir à imprensa amapaense e nacional e dizer que sempre tive o maior respeito e a melhor relação com a imprensa”, declarou.
Apesar do pedido de desculpas, Furlan atribuiu o episódio a um suposto cenário de perseguição política. “Há mais de quatro anos, eu e a nossa gestão somos ofendidos por uma rede que dissemina fake news, da turma do atraso, que não está feliz com o crescimento da cidade”, disse.
Prefeitura se manifesta
Em nota oficial, a Prefeitura de Macapá afirmou que o prefeito e duas servidoras municipais foram alvo de agressões verbais e físicas. “A instituição reitera que não tolera nenhum tipo de violência, intimidação ou desrespeito que dificultem o trabalho realizado diariamente em prol da população”, diz o comunicado.
O caso segue em investigação pela Polícia Civil do Amapá (PC-AP). A Câmara, por sua vez, terá até 90 dias, se prorrogado o prazo, para concluir o processo que pode levar à cassação do mandato de Furlan.