Campanha ajuda indígenas e ribeirinhos do rio Abacaxis afetados pela fome

Iniciativa arrecada doações para comunidades ribeirinhas e povos Munduruku e Maraguá (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Os povos indígenas e ribeirinhos afetados pela crise financeira e as guerrilhas intensas no rio Abacaxis, no interior do Amazonas, sofrem com a fome e o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Por conta disso, organizações da sociedade civil se juntaram à campanha de arrecadação de recursos, iniciada pelo frade dominicano Frei Betto, para ajudar as comunidades da região em situação de vulnerabilidade.

Escritor e ativista, Frei Betto promove anualmente, durante a Quaresma, uma campanha para ajudar alguma comunidade carente. Este ano, sensibilizado pela pandemia da Covid-19, o frade escolheu as comunidades ribeirinhas e povos Munduruku e Maraguá, no rio Abacaxis, localizado nos municípios de Borba e Nova Olinda do Norte, que desde 2020 vive momentos de tensões com os conflitos entre militares e os moradores da região.

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Os confrontos, decorrentes das disputas pelas terras e os recursos naturais, resultaram na morte de indígenas, ribeirinhos e policiais e deixaram a população do local com medo da violência e a repressão policial. Os episódios recentes, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), têm impedido os moradores do rio Abacaxis de circularem pela região, inclusive para pescar ou caçar.

“Sem condições de exercer suas práticas tradicionais de subsistência, em uma região ainda mais isolada em função da pandemia de Covid-19, os Munduruku, Maraguá e ribeirinhos foram atingidos pela fome”, reforçou o conselho.

Em agosto do ano passado, a REVISTA CENARIUM percorreu o território do rio Abacaxis e colheu relatos das comunidades ribeirinhas. Com o clima de violência pairando na região, pescadores e produtores rurais já relatavam sofrer com a venda de peixe. Segundo eles, mesmo que a demanda exista para aquisição dos alimentos, o receio em ser abordado por criminoso e pela polícia persistia, fazendo com que eles permanecessem em casa.

“Temo pela minha vida, ninguém sabe realmente o que está acontecendo por aqui, estamos assustados”, ressaltou, em 2020, o pescador Joaquim Siqueira Lima, 51 anos, morador da Vila Abacaxis.

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A campanha iniciou na “Quarta-Feira de Cinzas”, dia 17 de fevereiro, e se encerra na “Sexta-feira da Paixão”, dia 2 de abril de 2021, de acordo com o Cimi. Para quem deseja apoiar os indígenas e os ribeirinhos, as doações de qualquer valor podem ser feitas no Banco do Bradesco. Confira a conta: CNPJ: 00.479.105/0009-22. Banco: Bradesco (237). Agência: 2239. Conta-Corrente: 14.825-3. Mais informações: [email protected].

Rio Abacaxis, região de conflito

Os conflitos na região do rio Abacaxis começaram em julho de 2020, após o secretário-executivo do Fundo de Promoção Social do Governo do Amazonas, Saulo Moysés Rezende da Costa, ser baleado enquanto trafegava pelas redondezas. À época, a SSP-AM deflagrou uma operação contra uma organização criminosa ligada ao tráfico de drogas.

Na operação, policiais militares entraram em confronto com os criminosos, resultando na morte de dois PMs, o cabo Márcio Carlos de Souza e o sargento Manoel Wagner Silva Souza. A ação também deixou feridos outros dois oficiais. No dia seguinte, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas anunciou o envio de reforço policial para uma nova operação na região.

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Os confrontos, segundo denúncias de entidades, desencadearam em uma onda de violência contra a vida de ribeirinhos e indígenas. Um dos confrontos terminou com a morte de Josivan Lopes, de 18 anos, e Josimar Moraes Lopes, de 25 anos, dois jovens Mundurukus cujos corpos foram encontrados boiando no rio Abacaxis. Entidades ligadas aos direitos humanos e à proteção de povos e comunidades tradicionais da Amazônia chegaram a emitir manifestos exigindo ações concretas e de forma imediata para resguardar os direitos dessas populações.

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