Candidata é eliminada de concurso ao falar sobre representatividade em discurso na final

A modelo era uma das favoritas ao título do concurso (Reprodução/ Jorge Nunez)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Conhecida pela beleza, inteligência e por sempre abordar questões sobre representatividade e empoderar mulheres, a modelo Thasilla Brandão, de apenas 18 anos, foi eliminada do concurso de Miss Teen Earth, em Salvador (BA), logo após fazer um discurso voltado às meninas negras. A modelo era uma das favoritas a levar o título.

O caso ocorreu no mês de março, mas só veio à tona nas mídias e redes sociais nos últimos dias, período necessário para Thasilla se recuperar do ocorrido e conseguir falar sobre o assunto que tem polemizado na internet e, principalmente, na capital baiana. “Demorei um tempinho para associar tudo, encarar e decidir o que iria fazer”, lamenta.

Com o seguinte discurso: “Eu quero influenciar outras meninas negras, este é meu sonho. Eu quero que outras pessoas olhem para mim e pensem: se ela conseguiu, então eu posso. E sim, você pode! Basta acreditar”, a candidata, que seria preferida ao pódio, acabou levando o terceiro lugar.

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De acordo com a coordenação do evento, o discurso de Thasilla teria sido um erro crucial. “Quando você fala isso, você está defendendo uma causa, ótimo, defenda isso, é muito bom, mas ela, na posição de miss, vai ter defender todas as raças”, disse um dos coordenadores.

Em entrevista à TV Record, o advogado da candidata, Marinho Soares, relatou que as providências já foram tomadas. “Entramos com ação por questões raciais e morais. Materiais, porque para Thasilla participar e se apresentar, ela se preparou muito”, explicou o advogado.

A jovem é conhecida por se posicionar em defesa de causas raciais (Reprodução/ Jorge Nunez)

Controvérsia

Além da situação ocorrida com Thasilla, a candidata afirma ainda ter outros pontos que aconteceram nos bastidores. De acordo com a modelo, no contrato assinado pelas candidatas do concurso não poderia, por exemplo, ter tatuagem.

A segunda colocada, segundo a Thasilla Brandão, teria três tatuagens. “A justificativa dada foi que no concurso internacional pode ter tatuagem e no contrato nacional não poderia por se tratar de um concurso teen”, conta a modelo.

“Sempre gostei de influenciar outras pessoas positivamente. A partir dos concursos comecei a lutar por uma causa que é a causa negra. No meu primeiro concurso de Miss Teen Bahia, eu ganhei o título de 1ª Princesa e Miss Simpatia e já ganhei outros seis títulos e sempre fui engajada na questão da representatividade. Entrei nesse concurso com todos sabendo do meu posicionamento”, conta a jovem que afirma ter sido convidada para participar do concurso não só pela beleza, mas justamente por se posicionar.

Fala necessária

Para a ex-rainha do peladão e também Miss Amazonas Bee Emotion 2017, Juliana Soares, o acontecido com Thasilla é um caso de má-fé e falta de interpretação. Juliana, que também é mulher negra e experiente em concursos de beleza, lamenta o ocorrido.

“Quando se fala em representatividade negra, não queremos dizer que negros são melhores que brancos ou vice-versa, mas que temos um padrão de beleza que foi construído em cima de um padrão eurocentrista. Então, naturalmente as mulheres negras vêm tomando espaço agora, pois antes não eram reconhecidas. Os traços, cabelos, cor de pele nunca foram bem-vindos dentro do padrão de beleza”, comenta a miss que hoje é especialista em treinamento desportivo.

Para Juliana, a fala da Thasilla é necessária dentro dos concursos de beleza, uma vez que a representatividade faz com que outras meninas e mulheres se vejam representadas e acreditem no próprio potencial. “A fala da Thasilla foi legítima, e meu conselho para ela, é que ela procure outros concursos que valorizem a representatividade e valorizem a candidata como um todo”, aconselha Juliana.

Para a advogada e integrante do movimento negro no Amazonas, Luciana Santos, ao ler e assistir à situação de Thasilla, há um claro caso de racismo e de reprodução de um discurso opressor.

“Esse caso é mais um exemplo de como o racismo está presente no nosso dia a dia, de como tentam silenciar a nossa voz com esse discurso baseado no mito da democracia racial, do somos todos humanos. Os opressores poderiam até deixar que uma candidata negra ganhasse o concurso, desde que se mantivesse aliada à branquitude e servisse como um toquem, para fazer de conta que o concurso é plural”, avalia Luciana.

Quanto a Thalissa, a jovem revela que não vai desistir de dar voz e vez ao assunto por onde passar.

“Estou falando agora sobre o assunto para que isso não se repita e para que outras meninas negras não se intimidem nem deixem de falar, levantem a cabeça e mantenham seu propósito firme. Não perca sua essência não crie um personagem para ganhar um título ou prêmio. Seja quem você é e isso te fará grande e te levará longe”, finaliza.

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