Candidatos em Porto Velho ignoram meio ambiente em propostas de campanha
Por: Camila Pinheiro
25 de setembro de 2024
Candidatos à Prefeitura de Porto Velho (Composição: Gustavo Santos /CENARIUM)
PORTO VELHO (RO) – A crise ambiental que a cidade de Porto Velho (RO) enfrenta, agravada pela seca e pelas queimadas na Amazônia, está ausente nos planos de governo dos candidatos que disputam a eleição para a prefeitura da capital do Estado. Um estudo realizado pela Universidade Federal de Rondônia (Unir) aponta não só a falta de priorização dos candidatos em relação ao tema, mas também a ausência de discussão dos principais problemas ambientais pelo legislativo municipal, bem como de projetos para solucioná-los.
O município tem enfrentado recordes de baixa qualidade do ar devido à fumaça das queimadas, sendo frequentemente classificado como a capital com o ar mais poluído do Brasil. Além disso, o Rio Madeira, crucial para o bioma e a economia local, vem quebrando sucessivos recordes de nível mais baixo da história. Nesta quarta-feira, 25, o nível atingiu 40 centímetros após atingir um recorde de 25 centímetros no dia anterior.
À CENARIUM, a cientista política, professora e pesquisadora Patrícia Vasconcellos, uma das autoras do estudo, explicou o objetivo do levantamento. De acordo com ela, os trabalhos também abrangem as ações do legislativo municipal por meio do monitoramento de proposições na Câmara de Vereadores.
“O estudo fez o monitoramento das proposições da Câmara de Vereadores de Porto Velho no período de janeiro de 2021 a julho de 2023, em específico sobre a agenda ambiental. Queríamos obter detalhes sobre o que estava sendo proposto e qual a relevância. A pergunta central é: qual a importância da agenda ambiental para o executivo e para o legislativo em Porto Velho?”
A falta de atenção ao meio ambiente não é uma novidade nas campanhas de Porto Velho. De acordo com a pesquisa, a Câmara de Vereadores da cidade tem negligenciado o debate ambiental nos últimos quatro anos. De 36 projetos de lei relacionados ao meio ambiente, metade tratava exclusivamente do bem-estar de animais domésticos, enquanto questões como a qualidade de vida e o impacto ambiental na cidade foram ignoradas pelos parlamentares.
A capital de Rondônia, Porto Velho (Divulgação)
A cientista política também pontua que os poderes executivo e legislativo municipais tem o poder de complementar ou suplementar o que se entender necessário da legislação federal ou estadual. Para ela, o monitoramento é importante para acompanhar a atuação do Estado, representado no âmbito municipal por prefeitos e vereadores.
“O município tem essa prerrogativa, diante de um cenário de região amazônica, de mudanças climáticas, de problemas ambientais cruciais que precisam ser resolvidos na região despertou a necessidade de saber como isso está sendo colocado”, afirma.
Além disso, a especialista frisou ainda que a situação provoca surpresa devido a cidade estar localizada numa região amazônica, inclusive recebendo pressão internacional numa pauta de desenvolvimento sustentável, apresentando carência de discussão dentro da esfera política. “Isso nos retrata que esta é uma agenda inteiramente secundária. Não entra como uma pauta prioritária do município”, destacou.
Pautas dos candidatos
Os planos para o meio ambiente colocados pelos candidatos em Porto Velho variam significativamente, com a maioria deles abordando o tema de forma limitada, enquanto poucos tratam a crise ambiental e as queimadas com a profundidade que a situação exige. Abaixo estão os principais pontos dos programas de governo de cada candidato:
Dr. Benedito Alves (Solidariedade)
O candidato do Solidariedade menciona o combate à poluição do ar e a recuperação de nascentes em seu plano de governo. Benedito propõe promover a arborização da cidade e reprimir a criminalidade em “questões climáticas e sociais”. Contudo, o candidato não detalha como essas ações seriam implementadas e não faz menções significativas às queimadas, à seca ou à mudança climática.
Célio Lopes (PDT)
O candidato do PDT reconhece problemas como desmatamento, queimadas e eventos climáticos extremos. Célio propõe investimentos em energia renovável e a criação de um plano de mitigação de riscos relacionados a enchentes e deslizamentos, com mapeamento de áreas vulneráveis e medidas preventivas. No entanto, apesar de mencionar as queimadas como um desafio, o plano não traz propostas específicas para combatê-las.
Euma Tourinho (MDB)
No plano de governo da candidata do MDB, não há menções específicas sobre queimadas, seca ou mudança climática. Contudo, Euma propõe a criação de parques e áreas verdes em zonas mais afetadas pela poluição do ar e pelas ilhas de calor. Ela também defende a adoção de medidas para reduzir as emissões de gases poluentes e um foco em saneamento e reciclagem.
Léo Moraes (Podemos)
O candidato do Podemos não faz referência explícita às queimadas ou à seca no seu plano de governo. No entanto, Léo propõe uma série de iniciativas na área ambiental, incluindo incentivos à conservação e investimentos em energia renovável. Ele também sugere a limpeza de igarapés e córregos, além de promover a participação de Porto Velho em programas de crédito de carbono. Embora destaque que a cidade tem um “compromisso com o planeta” por estar localizada na Amazônia, o programa carece de detalhes sobre a crise atual.
Mariana Carvalho (União Brasil)
A candidata que lidera as pesquisas propõe “somar esforços” para combater as queimadas urbanas e o desmatamento ilegal, além de proteger as áreas de preservação permanente e unidades de conservação ambiental. Mariana também menciona a recuperação de áreas degradadas, dando destaque para nascentes, margens de rios e igarapés. No entanto, não aborda de forma direta a mudança climática nem a sua relação com os problemas ambientais que Porto Velho enfrenta atualmente, como a seca e as queimadas.
Ricardo Frota (Novo)
O candidato do Novo dedica pouco espaço ao meio ambiente e à crise das queimadas. Sua proposta mais relevante envolve ampliar a capacidade de previsão de eventos climáticos da Defesa Civil e aperfeiçoar o sistema de alerta. Ricardo também propõe o uso de energia solar na administração pública e ações para o tratamento de resíduos sólidos. O plano sugere a modernização das leis municipais e a simplificação de atividades de licenciamento ambiental, mas não se aprofunda na questão das queimadas ou da seca.
Samuel Costa (Rede)
Samuel Costa é o candidato que aborda a questão climática de maneira mais abrangente. Seu plano inclui a promoção de medidas de prevenção, mitigação e adaptação aos efeitos da mudança climática, com o objetivo de atingir níveis sustentáveis de emissões de gases de efeito estufa. Ele também defende a integração da política de proteção climática com áreas como energia, transporte, resíduos e agricultura. Apesar dessa abordagem ampla, o candidato trata apenas superficialmente das queimadas, um problema grave em Porto Velho.
Prioridade nas campanhas
As campanhas eleitorais em Porto Velho têm dado preferência a temas como infraestrutura, saúde e segurança, deixando o meio ambiente em segundo plano. O rio Madeira, embora seja vital para a economia e a vida na região, também não tem sido uma prioridade nas campanhas. A crise afeta mais diretamente as comunidades mais pobres, como os ribeirinhos, enquanto os mais ricos, que têm outras opções de abastecimento, tendem a não se preocupar com os impactos econômicos dessa situação.
Dos candidatos à prefeitura, Samuel Costa, da Rede, é o único que apresenta um plano mais detalhado que aborda a mudança climática. Ele propõe medidas de prevenção e mitigação dos efeitos climáticos, além de integrar a política ambiental a outras áreas, como transporte e energia. No entanto, o problema das queimadas, em específico, recebe pouca atenção em seu discurso.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.