‘Canoeiros vigilantes’: barreiras são montadas nos rios para ‘frear’ Covid-19 em quilombos
28 de setembro de 2020
Rede Solidária conta com apoio da comunidade Quilombo do Tambor, em Novo Airão. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Náferson Cruz – Revista Cenarium
MANAUS – Seis comunidades tradicionais quilombolas no município de Barreirinha, a 326 quilômetros de Manaus, resolveram fechar suas “portas” aos visitantes, como forma de conter a propagação da Covid-19 em seus respectivos territórios. Aliado à medida, uma barreira de controle foi colocada às margens do rio de acesso às comunidades, o Andirá.
Canoas e pequenas embarcações com voluntários que se revezam fazem a contenção durante 24 horas na localidade. A ação vem surtindo efeito, desde março, quando foram instaladas as barreiras, nenhum caso de contaminação por covid-19 foi registrado nos seis quilombos, que conta com uma população de 2,5 mil pessoas.
Segundo um dos representantes das comunidades tradicionais quilombolas de Barreirinha, o historiador Ítalo Ferreira, que realiza estudo sobre modos de vida entre quilombos da Amazônia Central brasileira desde 2016, a medida foi estabelecida em razão da falta de amparo e por conta da fragilidade nas ações do poder público para adotar medidas de prevenção à Covid-19.
A ação vem surtindo efeito nos seis quilombos que contam com uma população de 2,5 mil pessoas. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
“É uma forma de ‘lockdown’ e todos entenderam a situação, ninguém entra e sai, mas é para o bem de todos. Não podíamos esperar pela decisão das autoridades públicas”, comentou.
Ítalo ressalta ainda que as comunidades quilombolas de Santa Tereza do Matupiri, São Paulo do Açú, Trindade, Boa Fé, São Pedro e Ituquara, vêm recebendo apoio com donativos e recursos da “Rede Solidária”, formada pelas seis comunidades negras rurais de Barreirinha, Quilombo do Tambor, em Novo Airão, Lago de Serpa, em Itacoatiara e o Quilombo de Barranco de São Benedito, na Praça 14 de Janeiro, em Manaus.
Comunidades quilombolas em Barreirinha adotam o ‘lockdown’. (Reprodução/internet)
Apesar da nulidade na incidência nos casos de Covid-19 nos territórios quilombolas em Barreirinha, em outras regiões do País a situação é bem distinta, invisibilidade da doença desvenda uma situação dramática. Até esta segunda-feira, 28, foram contabilizados mais de 4.500 casos de contaminação e 166 óbitos no Brasil, segundo dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
Em relação aos Estados da região Norte, o Pará lidera com 46 óbitos, seguido do Amapá com 24, Maranhão com 12 e Amazonas, com apenas 01, totalizando 83 óbitos nas comunidades negras rurais.
Amazônia: taxa de 63% das mortes por Covid
Pesquisa feita pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em junho deste ano, apontou que os Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia e Maranhão (cinco dos nove Estados que compõem a Amazônia Legal) juntos correspondiam por 63% das mortes causadas pela Covid-19 entre populações mocambeiras e quilombolas de todo o Brasil.
“As baixas entre quilombolas estão sendo observadas em decorrência de uma política segregacionista com discurso raciológico, do governo federal, que não implementou um único plano emergencial que viesse a atender a necessidades de alimentação, sanitárias e profiláticas das populações quilombolas urbanas e rurais”, afirmou o coordenador do Subcomitê de Combate à Covid-19 da Faculdade de Informação e Comunicação da Ufam, professor Renan Albuquerque.
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