Carta pela Democracia: presidente Bolsonaro chama signatários de ‘cara de pau’ e ‘sem caráter’
02 de agosto de 2022
Jair Messias Bolsonaro (Antonio Molina/Estadão)
Com informações da Folha de S.Paulo
BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou de “cara de pau” e “sem caráter” os signatários da carta pela democracia, documento organizado pela Faculdade de Direito da USP em reação aos ataques do chefe do Executivo contra as urnas eletrônicas. O manifesto conta com mais de 660 mil adesões da sociedade civil, além de ter sido assinado por juristas, ministros eméritos do Supremo Tribunal Federal (STF), docentes universitários, membros dos tribunais de contas e do Ministério Público, advogados, economistas e líderes políticos, incluindo candidatos à Presidência.
“Pessoal que assina esse manifesto (por democracia) é cara de pau, sem caráter”, declarou o presidente nesta terça-feira, 2, em entrevista à Rádio Guaíba, de Porto Alegre. “Não vou falar outro adjetivo aqui porque eu sou uma pessoa bastante educada.”
O chefe do Executivo insinuou que os signatários da carta têm interesses escusos para tirá-lo do Planalto. Ele listou e fez críticas a alguns dos segmentos que aderiram ao manifesto. Banqueiros, segundo ele, são contra o Pix, método de pagamento instantâneo implementado pelo Banco Central em 2020, durante seu governo; artistas, ele disse, sentem falta da Lei Rouanet; e políticos de esquerda, segundo ele, apoiam regimes repressivos, como Cuba. “Geralmente, quem fala que é defensor da democracia é um ditador”, disse.
“Olha quem assinou: banqueiros. Banqueiros estão contra o Pix (…) Veja o padrão das outras pessoas: artistas, que foram desmamados da Lei Rouanet. Olha o perfil do políticos”, afirmou. “Veja o que esse pessoal de esquerda que assinou o manifesto pela democracia fala de Cuba?”, acrescentou.
Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem intensificado críticas ao sistema eletrônico de votação e ao Judiciário.
O documento foi organizado em reação à investida mais enfática do chefe do Executivo contra as urnas eletrônicas até o momento. Em 18 de julho, o presidente reuniu embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada para desacreditar, sem apresentar provas, a segurança do sistema eletrônico de votação e colocar em descrédito os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cuja atribuição é garantir a lisura do pleito.
O manifesto foi assinado pelos candidatos à Presidência Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), pelo candidato à vice-presidência Geraldo Alckmin (PSB); pelos ex-ministros do STF Celso de Mello e Joaquim Barbosa, entre outros; pelo reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Júnior; além de procuradores, promotores, desembargadores, artistas, entre outros.
Bolsonaro também aproveitou a entrevista para fazer críticas ao ministro Alexandre de Moraes, que toma posse na presidência no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no próximo dia 16 e conduzirá as eleições. Segundo o presidente, o magistrado “faz de tudo” para incriminá-lo e os inquéritos conduzidos por ele “são completamente ilegais, imorais”. “É uma perseguição implacável por parte dele, a gente sabe o lado dele”, afirmou.
Em entrevista ao Estadão na semana passada, o diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Campilongo, criticou os ataques que já vinham sendo realizados por Bolsonaro. “De ‘gripezinha’ a ‘cartinha’, querem diminuir o Brasil à condição de ‘paisinho’. Há dois dias ouvimos críticas inconsistentes à carta e vemos o número de adesões crescer de forma explosiva”, disse Campilongo na última quinta-feira, 28. Ele também disse ao Estadão, na mesma entrevista, que não acreditava que os ataques ao processo eleitoral e à democracia cessariam diante da mobilização da sociedade civil.
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