Casa Chico Mendes aproxima ciência e saberes tradicionais em debates no Museu Emílio Goeldi
Por: Fabyo Cruz
18 de novembro de 2025
BELÉM – O campus de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em Belém, se transformou em um polo de troca entre ciência e saberes tradicionais, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), com a “Casa Chico Mendes”. O local destaca a importância do diálogo entre pesquisadores, povos indígenas, extrativistas e juventudes amazônicas na construção de respostas para a crise climática. A programação diária segue até sexta-feira, 21.
A iniciativa foi criada para celebrar o legado do seringueiro e ambientalista que se tornou símbolo da defesa da Amazônia e dos povos da floresta. Instalada no coração da Terra Firme, a estrutura reúne debates, oficinas, painéis, shows, cinema e exposições temáticas. A ideia é mostrar que a sustentabilidade da região depende da integração entre conhecimento científico e práticas tradicionais que há séculos moldam o território amazônico.
A liderança indígena Samêhy Pataxó, da Bahia, destacou que o local possibilita discussões que não chegam aos ambientes mais restritos da conferência. “A Zona Azul acaba sendo fechada, não é aberta para todo mundo. Aqui, a gente tem debate, tem conversa com mulheres de vários estados para falar da questão climática, que é uma luta necessária”, afirmou. Para ela, a Casa Chico Mendes é “um espaço acolhedor para as mulheres indígenas de todos os Estados”.

A coordenadora de Pesquisa e Pós-graduação do Museu Goeldi, Marlucia Martins, ressaltou que o espaço concretiza a prática de pesquisa construída junto às comunidades tradicionais. “O Museu Emílio Goeldi é uma casa de ciência, e nós temos como prática a parceria com as comunidades tradicionais”, disse. Segundo ela, o espaço valida que “ciência e sociedade podem caminhar juntas, estabelecer boas propostas para o enfrentamento das mudanças climáticas e para o desenvolvimento da Amazônia”.

De El Salvador, Asiria Artiga destacou a importância de espaços que ampliam a visibilidade das mulheres indígenas. “Muitas vezes, as opiniões das mulheres que estão nos territórios não são escutadas”, afirmou. Para ela, a experiência também evidenciou a diversidade do encontro: “Achei que só havia gente da América Latina, mas também há pessoas da Ásia e de outros continentes, mostrando que os problemas não acontecem só aqui, mas em todo o sul global”.

Com exposições, atividades culturais e rodas de diálogo, a programação busca aproximar o público do trabalho científico desenvolvido no Museu Goeldi e valorizar a diversidade de saberes que compõem a Amazônia. Para os organizadores, o espaço mostra, na prática, como a articulação entre ciência e conhecimentos tradicionais pode fortalecer políticas públicas e iniciativas comunitárias voltadas à preservação ambiental.
Até 21 de novembro, o Espaço Chico Mendes segue como um dos ambientes mais vibrantes da COP30, reunindo movimentos sociais, pesquisadores, lideranças extrativistas e visitantes de várias partes do mundo. Em meio às negociações climáticas globais, o espaço reitera que a proteção da Amazônia passa, inevitavelmente, por ouvir e fortalecer aqueles que vivem e constroem o território diariamente.
