Caso João Pedro: Ministério Público denuncia três policiais civis acusados pela morte do adolescente

Agentes recolheram estojos antes da chegada da perícia Foto: Reprodução

Com informações do Infoglobo

RIO DE JANEIRO — O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou três policiais civis por homicídio duplamente qualificado e fraude processual pela morte de João Pedro de Matos, de 14 anos. O adolescente foi morto em 18 de maio de 2020 durante operação conjunta das polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio.  Os denunciados pelo MP são: Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister.

Segundo o Ministério Público, enquanto aguardavam a chegada da equipe de peritos da Delegacia de Homicídios de São Gonçalo, Mauro, Maxwell e Meister alteraram o local do crime, com a intenção de criar vestígios de um suposto confronto entre os agentes com criminosos. A denúncia narra que os envolvidos plantaram no local do crime diversos artefatos explosivos, uma pistola, posicionaram uma escada junto ao muro dos fundos do imóvel e ainda produziram marcas de disparos de arma de fogo junto ao portão da garagem na tentativa de se eximirem da responsabilidade criminal. 

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“Em total menoscabo pelas vidas dos moradores inocentes da localidade de Itaoca, adentraram no terreno e alvejaram, sem nenhum motivo justificador, a residência em cujo interior se encontravam seis jovens desarmados, vindo a atingir e matar a vítima” descreve a denúncia. 

O Ministério Público ainda pediu o afastamento dos três acusados de seus cargos durante o curso do processo. Foi pedido à Justiça a proibição dos policiais a terem contato direto ou por outra pessoa com quaisquer das testemunha, a proibição de acesso ou frequência às dependências de qualquer unidade da Polícia Civil e o comparecimento mensal em juízo durante a vigência do processo penal.

A denúncia diz que o crime foi cometido por motivo torpe, pois os denunciados presumiram haver criminosos no local, pretendendo agir ofensivamente para matá-los mesmo sem que houvesse qualquer reação armada ou resistência a sua atuação. Os promotores também entenderam que foi empregado recursos que dificultaram a defesa da vítima, pois além de ingressarem inesperadamente no terreno do imóvel onde se encontrava João Pedro, tinham de ampla e irrestrita superioridade de meios e recursos.

O que disseram os acusados à polícia

Em depoimentos durante a investigação da Polícia Civil, os três policiais alegaram que perseguiam traficantes quando entraram na casa onde João Pedro estava com os amigos e que houve confronto no local. Eles ainda apresentaram, na DH, uma pistola que teria sido usada pelos criminosos. A investigação, entretanto, não conseguiu comprovar que houve tiroteio na casa.

Os agentes também mudaram as versões que deram sobre a quantidade de tiros que dispararam no dia do crime. Os agentes deram dois depoimentos sobre o caso. No primeiro, logo após o crime, afirmaram terem dado, juntos, 23 disparos. Uma semana depois, eles voltaram à DHNSG e afirmaram que atiraram um total de 64 vezes no dia do homicídio.

Em seu segundo relato, o agente Mauro Gonçalves também mudou a versão sobre a arma que usou para disparar dentro da casa onde o adolescente foi morto, como Extra revelou com exclusividade. No primeiro depoimento, ele alegou que só usou, no dia do crime, um fuzil de calibre 762. Já uma semana depois, disse que, na verdade, portou dois fuzis durante a operação: o de calibre 762, segundo a nova versão, foi usado no helicóptero; após o pouso, o agente disse ter usado um fuzil M16 de calibre 556, mais leve, que levava como “reserva”. A arma só foi entregue à perícia uma semana depois do crime, quando o policial, em novo depoimento, admitiu ter usado o fuzil M16 na ação.

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