Caso Marielle: indícios apontam que PM forjou áudio para tirá-lo do foco das investigações

A informação é de que esta foi a única gravação encontrada num celular, após análise em sete aparelhos apreendidos com ele, que não teve seu conteúdo deletado por Lessa (Antônio Scorza/Agência O Globo)

Com informações do O Globo

RIO DE JANEIRO – Réu nos assassinatos da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, antes mesmo de ser preso, teria tentado forjar provas que o tirassem do foco da polícia como suspeito do crime.

Uma fonte revelou ao GLOBO que a força-tarefa do caso Marielle vê indícios de que Lessa deixou, propositalmente, um áudio num dos celulares analisados, no qual gravou uma conversa com um morador da comunidade de Rio das Pedras, tentando direcionar a acusação do duplo homicídio para outros milicianos conhecidos na região.

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A informação é de que esta foi a única gravação encontrada num celular, após análise em sete aparelhos apreendidos com ele, que não teve seu conteúdo deletado por Lessa.

A conversa, gravada sem que o outro interlocutor soubesse, ocorreu num bar do Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, reduto de Lessa, duas semanas após o sargento reformado ter ido à Delegacia de Homicídios da Capital (DH). Lessa prestou depoimento ao delegado titular Giniton Lages, no dia 24 de janeiro de 2019.

Apesar de ter sido chamado em janeiro daquele ano como testemunha na investigação da morte de Marielle, Lessa teve que responder a perguntas dos investigadores, que já o colocavam como suspeito do caso, à época. Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz foram presos menos de dois meses depois, em 12 de março de 2019 pelas mortes de Marielle e Anderson, ocorridas em 2018.

De acordo com a gravação, a que O GLOBO teve acesso com exclusividade, na maior parte do tempo, Lessa conduz a conversa que tem com um homem, tratado por ele pelo apelido de Kaká. Os investigadores já sabem quem é a pessoa, mas o nome dele está sob sigilo.

No diálogo, Kaká demonstra conhecer bem a atuação da milícia de Rio das Pedras, chegando a dar detalhes sobre os integrantes da organização criminosa. Há uma terceira pessoa na conversa que auxilia o sargento na suposta farsa, para demonstrar que o tema da morte da vereadora surgiu de maneira casual. Inicialmente, ele fala sobre amenidades como as melhores partes de uma galinha para se preparar uma canja ou sobre as frequentes inundações causadas chuvas de janeiro em Rio das Pedras.

Depois do bate-papo descontraído, Lessa fala sobre seu depoimento na DH: “Eu fui depor lá, eu fui depor lá, rapaz!”. E prossegue, de maneira confusa: “O que que acontece? Eu fui chamado pra depor lá há pouco tempo, tem umas duas semanas. Aí eu lembro que ele tinha falado comigo, eu falei, porra… Tava meio que cagando pra isso, mas ao mesmo tempo eu me lembrei que tu, tu, tu me falou aquele dia lá no Quebra-Mar, tu lembra? Que tu me falou, pô, que os cara tavam reunidos e o caralho, não sei o quê…” (sic).

Neste trecho, segundo a fonte, os investigadores entenderam que o sargento estava manipulando a conversa para dizer que houve uma reunião de milicianos no Quebra-Mar, local frequentado por Lessa, mas que ele não deu atenção quando Kaká lhe contou. 

Mais adiante, Lessa faz o vínculo sobre este encontro no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, com a morte de Marielle. Ele não cita o nome dela, mas fala em morte da “vereadora”: “Não, mas pô, mas o cara sabe o que acontece? Tu sabe que eu nunca gostei de me meter. Aquele dia que tu me falou o negócio lá que eles estavam reunidos no dia da, da morte lá da vereadora, que eles ficaram lá no, tu me falou isso no Rio das Pedras, o que eu falei pra tu? No Rio das Pedras não, no, no Quebra-Mar, que que eu falei? Quero nem saber meu filho, não falei isso pra tu? Não quero nem saber dessa merda. Porra, sai fora meu irmão, eu não gosto nem de saber dessas coisas. Hã?” (sic).   

Lessa tenta se aprofundar na conversa e pergunta sobre os milicianos do Morro do Fubá, em Campinho, na Zona Norte, que frequentavam Rio das Pedras, em 2019. Ele se refere a eles como  “os moleques de Campinho”. Na época, este grupo era formado por três matadores de aluguel, segundo as investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio.

Segundo Lessa, os “moleques de Campinho” não têm medo de nada: “São kamikazes… Eles não escondem a cara não! Nem toca ninja (usam). Vêm aqui meio-dia e matam alguém. Eles matam!”, diz o sargento na gravação. O policial chega a citar apelidos de integrantes do Morro do Fubá. Alguns trechos da gravação são quase inaudíveis, mas os nomes seriam Leléo e Macaquinho. 

Segundo as investigações da polícia e do Gaeco, integram o bando do Fubá: Leonardo Gouveia da Silva, o Mad; Leonardo Luccas Pereira, o Leléo; e Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho. Todos são apontados como matadores de aluguel, antes chefiados pelo ex-capitão do Bope Adriano Mendonça da Nóbrega, morto em fevereiro do ano passado, na Bahia.

Leonardo Gouveia substituiu o chefe, mas foi preso em 30 de junho do ano passado, pelo crime de organização criminosa, durante a Operação Tânatos, coordenada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a DH. Ao ser preso, a primeira coisa que Mad fez foi negar a participação nas mortes de Marielle e Anderson.

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