Castanha-do-Pará, da Amazônia ou do Brasil? Saiba nome do fruto


Por: Jadson Lima

05 de janeiro de 2025
Castanha é um fruto nativo da região amazônica (Divulgação)
Castanha é um fruto nativo da região amazônica (Divulgação)

MANAUS (AM) – A castanha, fruto nativo da região amazônica, está no centro de uma discussão sobre o seu verdadeiro nome: castanha-do-Pará, da Amazônia ou do Brasil? O questionamento surgiu após o ator Adanilo Reis da Costa chamar o fruto de “castanha da Amazônia”, durante participação em um programa de televisão, nesse sábado, 4. A fala do artista provocou uma série de comentários nas redes sociais abordando o assunto.

Uma das críticas que mais repercutiu foi a da ex-BBB Alane Dias, que apontou o termo usado pelo ator para se referir ao fruto como incorreto. Em vídeo divulgado nas redes sociais, segurando um recipiente com castanhas, ela afirmou que o “nome disso aqui é castanha do Pará”. “Eu estou falando o óbvio, porque às vezes o óbvio precisa ser dito. Não é castanha do Brasil, não é da Amazônia. É muito simples”, disse.

À CENARIUM, a doutoranda em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Izabel Cristine, da etnia Munduruku, afirmou que o termo castanha da Amazônia seria o correto para se referir ao fruto. Ela destacou que há diversidade na maneira com que os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos lidam com o alimento na região.

“É preciso compreender que são esses termos tão diversos que precisam ser inseridos nessa lógica de que a Amazônia é muito diversa e complexa para estar delimitada ou demarcada por um termo único, por uma lógica única, por um Estado único. Não tem outro termo melhor, se não o amazônico“, disse.

Para Izabel Munduruku, a restrição do nome do fruto a um local específico invisibiliza outras localidades. A historiadora também destacou que a afirmação de que a castanha é do Pará está ligada a uma lógica colonialista do século XVIII e XIX, onde tudo era reduzido a um determinado espaço.

“Quando a gente fala que determinado fruto, que determinada iguaria de uma região tão complexa como a Amazônia tende a possuir um nome que o delimita e o determina, é uma perspectiva colonial. Porque quem determina, quem delimita, é o colonizador”, destacou.

Também para a CENARIUM, o pesquisador e doutor em Biologia Lucas Ferrante, mencionou em vídeo a história da castanha, citando que “o fruto também é chamado popularmente de Júvia e ainda é utilizado por diversas etnias indígenas em toda a Amazônia”.

Lucas Ferrante, pesquisador e doutor em Biologia (Reprodução)
Portaria do MAPA

A reportagem também consultou uma portaria do Ministério da Agricultura e Pecuária, datado de 1976, que trata das especificações para a padronização, classificação e comercialização interna do fruto. O documento classifica o fruto como castanha do Brasil, por ser conhecida no mercado internacional como Brazil nuts ou noix du Brésil, noz do Brasil em tradução livre. Veja:

Trecho da portaria de 1976 (Reprodução/Ministério da Agricultura e Pecuária)

A portaria foi criada para a padronização do produto, que passou a ser separado por grupos, subgrupos, classes ou tipos. O documento também prevê a forma correta de embalagem, além da amostragem submetida aos órgãos competentes para análise.

Produção do fruto

O Amazonas foi o Estado da Região Norte que mais produziu castanha em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com uma produção aproximada de 11,3 mil toneladas do fruto, o Estado teve o município de Tapauá, localizado a 448 quilômetros de Manaus, como líder na produção. Os dados de cada município não foram divulgados pela instituição.

Na sequência, o Acre apareceu como o segundo maior produtor da região, com 9.473 toneladas, seguido pelo Pará, que registrou 9.390 toneladas. Roraima ficou em quarto lugar, com 1.910 toneladas, e Rondônia produziu 1.003 toneladas. O Amapá, com 384 toneladas, completou a lista dos Estados que mais contribuíram para a produção de castanha na Região Norte. O Tocantins não apresentou dados sobre a produção do fruto.

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Editado por John Britto

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