CENARIUM +CIÊNCIA: Por uma ciência feminista!

A doutora em Biotecnologia e mestre em Engenharia Mecânica Ayrles Silva Gonçalves está entre a minoria de mulheres que segue carreira na pesquisa (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Daniel Viegas e Victória Sales* – Da Revista Cenarium

MANAUS – Segundo a escritora norte-americana Bell Hooks “a luta feminista acontece sempre que algures alguém, mulher ou homem, resiste ao sexismo, à exploração sexista e à opressão”. Essas resistências descortinam violências estruturais das nossas práticas machistas que, desavergonhadas, saem de casa, andam soltas nas ruas e invadem as universidades.

Aderindo à resistência, a Cenarium+Ciência traz a trajetória da pesquisadora Ayrles Silva Gonçalves Barbosa Mendonça, doutora em Biotecnologia e mestre em Engenharia Mecânica, professora do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) que, graças a sua formação, tem realizado pesquisas interdisciplinares voltadas para a saúde na Amazônia.

PUBLICIDADE

As mulheres na ciência

Antes de mais nada, não podemos falar da pesquisa ou da pesquisadora sem observar o contexto em que estão inseridas no campo das ciências. Não se pode esconder o fato de que a professora Ayrles está entre as 30% das estudantes que, no mundo, escolhem carreiras ligadas à ciência, à tecnologia, à engenharia e à matemática, conforme levantamento da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), lançado em fevereiro de 2021.

Ela está também na conquista das mulheres ao ocuparem 57% das vagas de ensino superior no País, de acordo com o Mapa de Ensino Superior no Brasil 2020, além de estarem presentes em 55% das vagas dos mestrandos e 53% dos doutorandos. Também se observa a participação das mulheres em 55% das bolsas de iniciação científica, 52% no mestrado, 50% no doutorado e 53% nos programas de pós-doutorado, de acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – 2016.

Contudo, esses percentuais não se mantêm na trajetória das carreiras acadêmicas, sendo inversos quando se leva em consideração a ocupação das cadeiras de docência no ensino superior (54% de homens), a coordenação de grupos de pesquisa (53% de homens) e as bolsas de Produtividade em Pesquisa (64% de homens), que é a posição acadêmica de maior apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a pesquisadores no Brasil. O cenário ainda piora se considerar apenas a concessão de bolsas nível 1A e Sênior, em que as mulheres são reduzidas a um percentual de 25%.

Apesar disso, essas pesquisadoras estão presentes nas mesmas estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), nas quais as mulheres brasileiras, no ano de 2019, se dedicaram, em média, 21,4 horas semanais a afazeres e cuidados domésticos, enquanto para os homens esse período médio é de 11 horas semanais.

Considerando que 54% das mães cientistas cuidam sozinhas de seus filhos, as pesquisadoras do mundo inteiro se articularam em torno da pesquisa Parent in Science, para cobrar dos mais diversos países, políticas públicas que levem em consideração os limites impostos pela maternidade, que vão desde o registro da quantidade de filhos e a idade no Currículo Lattes, para serem considerados no cálculo da produtividade científica, até bolsas de pesquisa e prazos especiais para que as mulheres possam apresentar seus projetos em condições de igualdade de gênero.

Portanto, embora a participação das mulheres na ciência esteja crescendo ainda mais com o passar dos anos, elas ainda encontram muitas barreiras que precisam ser superadas com políticas públicas que permitam às pesquisadoras, como a professora Ayrles, a escolha pela maternidade e pela produção científica, ambas tão relevantes para o Brasil.

Como o leitor poderá observar, a professora, pesquisadora e mãe do João, da Clara e da Laura, que está a caminho, desenvolveu, em sua pesquisa de doutorado, um auspicioso tratamento para a leishmaniose e partiu, agora, para o desenvolvimento de respiradores reutilizáveis e adaptáveis aos rostos de crianças, como método de prevenção ao Covid-19.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.