‘Cenarium Entrevista’ recebe Virgilio Viana, superintendente da Fundação Amazônia Sustentável

O superintendente da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgilio Viana. (Jhualisson Veiga/ Revista Cenarium)
Marcela Leiros — Da Revista Cenarium

MANAUS — O terceiro episódio do programa “Cenarium Entrevistafoi apresentado pelo jornalista Gabriel Abreu e teve como convidado o superintendente da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgilio Viana. A fundação é uma instituição privada, não governamental e sem fins lucrativos, que desenvolve ações e programas que visam o desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Com sede em Manaus (AM), a FAS possui escritórios em diversas cidades do interior do Estado, mas com o passar dos anos começou a desenvolver atividades em conjunto com instituições de outros Estados e países que, juntas, formaram um rede de atuação na PanAmazônia.

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De acordo com Viana, a relação dessa rede, intitulada “Aliança Covid Amazônia“, foi essencial para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 em reservas de desenvolvimento sustentável atendidas pela FAS. A ação permitiu chegar a 7.500 aldeias e comunidades da Amazônia profunda e em alguns bairros urbanos de baixa renda. A atuação da fundação rendeu até mesmo o prêmio de “Melhor ONG do Brasil”.

“Quando veio a notícia da pandemia eu pensei que seria uma tragédia nos lugares mais remotos que nós atuamos. E aí nós mobilizamos inicialmente aqueles parceiros mais próximos da instituição e começamos a delinear uma estratégia a para enfrentar aquilo que era, na época, desconhecido”, lembrou o superintendente da FAS.

“Montamos um comitê científico composto por 17 profissionais da área de Saúde, do mais alto nível, tanto do Amazonas como de outras partes do Brasil, e com base nisso delineamos uma estratégia envolvendo atividades desde a prevenção até atenção àqueles que tiveram Covid. Conseguimos mobilizar 128 instituições ligadas à saúde pública, empresas que fizeram doações, associações de moradores etc. Foram doações desde oxímetro, termômetro, álcool em gel, cesta básica, respirador, medicamentos e postos de telemedicina com energia solar espalhados no interior”, relembra Viana.

Turismo

Além do enfrentamento à Covid-19, a FAS também desenvolve, promove e auxilia ações de empreendedorismo e turismo nas comunidades e reservas de desenvolvimento sustentável, sempre priorizando soluções que mantenham a floresta em pé.

“A destruição da floresta só beneficia poucas pessoas: são os grileiros, os madeireiros e os garimpeiros. Já o prejuízo, os malefícios, são para todos: quem come o peixe envenenado de mercúrio nem se dá conta que aquilo ali foi uma consequência do garimpo, da mesma forma a poluição do ar, que acaba gerando renda para quem está desmatando, mas para quem está na cidade está sofrendo as consequências”, pontua ele.

“O turismo é uma atividade muito relevante aqui no baixo Rio Negro. É muito relevante no Rio Uatumã, na região de Itapiranga, São Sebastião do Uatumã, e nós atuamos sempre a partir das demandas locais. A partir da escuta, a gente transforma em projeto e vai atrás dos financiadores”, explica.

“Nós vimos um interesse das comunidades, aí analisamos os gargalos. No Uatumã, um desses gargalos era o acesso à internet, aqui, no Rio Negro também… Nós conseguimos viabilizar diversas ações para garantir esse acesso para as pessoas conseguirem fazer reserva pela internet, cancelar, a capacitação desses gestores, dessas pousadas de base comunitária, a formação de guias, cursos de gastronomia etc… Foi todo um trabalho estruturado pelo programa de empreendedorismo da FAS”.

Combate ao desmatamento

O superintendente da FAS explica ainda que a atuação da instituição no combate ao desmatamento tem mostrado resultados satisfatórios, como a redução da devastação em áreas que são monitoradas pela ONG. Segundo Viana, unidades de conservação com programas da FAS e sem os programas apresentaram mais de 50% de diferença em termos de desmatamento e de incêndios florestais. “Isso é fruto de um trabalho muito sério, muito profissional, de uma equipe muito aguerrida”, enfatiza Virgilio.

“Educação para a sustentabilidade”

Um dos programas geridos pela FAS é o “Educação para a sustentabilidade“, que visa implementar um conjunto de projetos e iniciativas para promover o acesso à educação relevante aos direitos, à arte e à cultura. O programa, premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2015, como um dos mais relevantes do mundo nessa área, tem o objetivo de desenvolver material pedagógico para práticas e capacitação de professores, “para que o conteúdo das escolas públicas sejam capazes de dar às pessoas uma formação mais relevante”.

“A educação é um dos pontos estratégicos nossos, nós atuamos de maneira holística. Nós olhamos para a realidade com um todo, trabalhando com a educação, energia solar, saúde, enfim, todos os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável”, explica Virgilio Viana.

“Na área da educação, o que mais nos motivou a desenvolver esse programa foi o fato de educação pública na Amazônia dar muito pouca ênfase aos temas que são relevantes para as pessoas. Eu me lembro de uma ocasião participar da inauguração de uma escola estadual no município de Tapauá, em frente ao rio de água branca com afluente de água preta. Eu chamei a diretora e perguntei se tinha alguma aula sobre o porquê o rio é branco e o outro é preto? Sobre o porquê os peixes dos dois rios eram diferentes, se tinha alguma aula na escola sobre manejo dos peixes, e não tinha. Na biblioteca não tinha nenhum livro sobre os peixes da Amazônia, sobre as árvores da Amazônia”, relembra ele.

Quem é Virgilio Viana

O superintendente da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) é engenheiro florestal, doutor em biologia pela Universidade de Harvard, pós-doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade da Flórida, foi professor do Departamento de Ciências florestas da USP de 1989 a 2003, e professor colaborador da pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Foi o primeiro secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas de 2003 a 2008. Foi também ex-presidente da Associação Paulista dos Engenheiros Florestais e da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia.

Viana é coordenador da iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia), membro ordinário da Pontifícia Academia das Ciências Sociais do Vaticano, presidente do Conselho de administração da aliança para Bioeconomia da Amazônia, idealizador da Aliança Covid Amazônia, membro fundador do Instituto Amigos da Amazônia e professor associado especial da Fundação Dom Cabral.

Veja o episódio na íntegra:

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