Cenarium no Pantanal: ‘A misericórdia de uma raça que ainda é humana’

A REVISTA CENARIUM acompanhou o trabalho dos veterinários que cuidam dos animais silvestres machucados pelas queimadas (Revista Cenarium/João Paulo Guimarães)

João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium*

PANTANAL, MT – Os filmes de guerra sempre mostram hospitais próximos de zonas de conflito recebendo feridos em macas, deitados com bandagens enroladas nos braços e cabeças. Estrondos de bombas ouvidos de longe e pessoas correndo de um lado para o outro no atendimento da população atingida por essas batalhas.

Exagero do cinema? Toda aquela gritaria, sons de rádio ao longe com sirenes barulhentas passando. Alguém pega um rádio de uma mochila e grita: “S.O.S ! Socorro!”.  Lembro da primeira ponte da Transpantaneira, no primeiro dia de meu retorno ao Pantanal, com a sigla S.O.S, escrita com carvão no chão de concreto.

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Ponte com a sigla S.O.S, escrita com carvão no chão de concreto. (REVISTA CENARIUM/João Paulo Guimarães)

Ao entrar na sala improvisada que o Paeas (Posto de Atendimento Emergencial de Animais Silvestres) organizou de forma inteligente e rápida no Posto de Fiscalização e Educação Ambiental Guilherme de Arruda, para tratar os animais que conseguem resgatar das brasas e do fogo subterrâneo, que esconde no solo insaciável de um Pantanal acordado por cinco gigantes do Agro (POP) negócio – E por uma “fofoca” que narra uma ação da polícia militar contra um único traficante de drogas, que resultou na queima acidental de um veículo não identificado dentro da transpantaneira, e que as autoridades locais teimam em espalhar de forma irresponsável que foi esse fogo que começou tudo.

Destruição causada pelas queimadas em matas do pantanal (REVISTA CENARIUM/João Paulo Guimarães)

No Brasil da boiada, o fogo não existe, mas caso exista foi gerado por um carro sem identificação que transportava drogas que desapareçam de uma apreensão baseada em dica anônima que também nunca ocorreu. Dessa forma, foram queimadas pouco mais de 20 cidades de São Paulo em solo pantaneiro. 

Mais um animal silvestre sob cuidados dos veterinários do Paeas (REVISTA CENARIUM/João Paulo Guimarães)

O que aconteceu com os Brasileiros de bem e patriotas com seu “patri-idiotismo” por dinheiro e pela corrupção do que é público? Sedentos por estarem certos, negam a tudo. Chamam crianças inocentes, vítimas de abuso, de assassinas, só porque querem continuar sendo crianças e protegidas. Brincar? Que nada.

“Ela gostava”, disse o padre polêmico nas redes sociais. Um padre falando de uma menina de 10 anos. “Pandemia? Isso aí é só uma gripezinha”. “Queimadas? Todo ano têm. Exagero. Toma aqui mil dólares de auxílio emergencial”.

Dentro do ambulatório improvisado, vejo deitada em uma gaiola, uma lontra descansando. Automaticamente começo a falar baixo em respeito ao descanso desse animal que considero um dos mais lindos da fauna brasileira. Braba a lontra, bichinho “pistola”, descansava com um semblante merecedor de paz.

Uma lontra descansando após ser resgatada da natureza em chamas (REVISTA CENARIUM/João Paulo Guimarães)

Abaixo-me e fotografo a lindeza para depois fazer um postagem que traga esperança a quem está no Pará, em Manaus, Em São Paulo, Rio, Fortaleza, Amazonas, Rio Grande do Sul e outras cidades e Estados que eu pudesse tocar com uma reflexão clichê e ingênua que me fizesse “lacrar”, mais uma vez como o fotógrafo “pseudocelebridade” das queimadas.

Um Quati com as patas queimas, sob os cuidados dos veterinários do Posto de Atendimento Emergencial de Animais Silvestres (REVISTA CENARIUM/João Paulo Guimarães)

Mas voltemos ao grande circo em que o Pantanal se tornou nessa administração ministerial, vergonhosa dos engravatados do federal. Respeitável público, com vocês, rufem os tambores da batalha pela vida: “Heeeeeelenaaaaaa!”.

Helena Aime Santos é uma das estudantes de veterinária responsáveis pelo cuidado com animais resgatados. (REVISTA CENARIUM/ João Paulo Guimarães)

Helena Aime Santos é estudante de veterinária, mora em Cuiabá e lembra uma modelo saída das revistas. Talvez Helena seja modelo. A menina linda e sorridente, mas que não quer ser fotografada por vergonha da câmera, é um outro tipo de modelo hoje. Modelo da entrega, que carrega uma responsabilidade que adulto nenhum do Congresso poderia suportar. Carrega a vida de animais feridos pela ganância coronelista em suas costas.

Confira o depoimento sobre a ‘Expedição Pantanal’

(*) Correspondente especial

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