Cerca de 95 milhões de brasileiros já viviam com contas mensais atrasadas antes da pandemia

46% das famílias haviam atrasado pelo menos uma conta fixa, no intervalo de 12 meses, em razão do aperto no bolso (Reproução/Internet)
Com informações da Folhapress

RIO – Em período pré-pandemia, quase a metade dos brasileiros pertencia a famílias que haviam atrasado o pagamento de pelo menos uma conta mensal fixa devido a dificuldades financeiras. A conclusão integra novo recorte da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) 2017-2018, divulgado nesta quinta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Conforme o estudo, 46,2% dos brasileiros (95,6 milhões de pessoas) pertenciam a famílias que haviam atrasado pelo menos uma conta fixa, no intervalo de 12 meses, em razão do aperto no bolso. A fatia de 53,8%, por outro lado, não registrou atrasos. André Martins, pesquisador do IBGE, avalia que os dados de 2017 e 2018 já refletiam um cenário de dificuldades para uma parte considerável da população.

À época, a economia tentava deixar para trás a herança da recessão de 2015 e 2016, que prejudicou a geração de emprego e renda. Com a chegada da pandemia de Covid-19, em 2020, a perspectiva é de piora nos dados, segundo Martins. “Quando há um evento negativo, a tendência é de piora”, aponta o pesquisador.

PUBLICIDADE

Os números do IBGE sinalizam que as faturas de água, luz e gás foram as mais afetadas pelas restrições nos orçamentos familiares entre 2017 e 2018. De acordo com o instituto, 37,5% da população vivia em famílias que reportaram atraso no pagamento desse tipo de conta mensal em razão das dificuldades financeiras.

O acerto postergado de despesas com prestação de bens e serviços (26,6%), como TV a cabo, e aluguel ou prestação de imóvel (7,8%) vieram na sequência da lista. A pesquisa ainda detalha que 30,4% da população integrava famílias que haviam atrasado pelo menos uma conta fixa e que tinham pretos e pardos como pessoas de referência (responsáveis por gastos).

O percentual foi menor para aquelas famílias cujas pessoas de referência eram de cor branca (15,2%). No recorte por nível de instrução, foi observado que as famílias com atrasos e com pessoas de referência com menor escolaridade, até o Ensino Fundamental completo, concentravam 26% dos moradores no país.

“Essas famílias são mais afetadas diretamente [pelas dificuldades]. A decomposição por grupos colabora para uma visão sobre o cenário como um todo”, diz Martins.

A edição anterior da POF reuniu dados de 2008 e 2009. Conforme o IBGE, houve alterações em questionamentos, e os dados apresentados nesta quinta-feira não são comparáveis. O estudo também apontou que 72,4% dos brasileiros viviam em famílias que relataram alguma dificuldade para pagar suas despesas mensais em 2017 e 2018. Outras 27,6% indicaram algum nível de facilidade para quitar seus compromissos fixos.

Em 2017 e 2018, 83,3% da população vivia em famílias nas quais algum integrante tinha acesso a serviços financeiros. Os percentuais foram de 66,2% para conta corrente, de 49,9% para cartão de crédito, de 55,9% para caderneta de poupança e de 19,5% para o cheque especial. Esses dados fazem parte da dimensão do estudo chamada acesso aos serviços financeiros e padrão de vida. A pesquisa traz ainda informações sobre alimentação, transporte e lazer e viagem.

O IBGE aponta que 41% da população residia em domicílios com algum nível de insegurança alimentar –a fatia de 28,4% era integrante de famílias com as pessoas de referência pretas ou pardas.
O estudo ainda mostra que a despesa média per capita das famílias com transporte no País foi de R$ 85,44 em 2017 e 2018. A quantia era distribuída da seguinte forma: 71,2% (R$ 60,81) para transporte particular, táxi e aplicativos; 20,6% (R$ 17,57) para transportes coletivos; e 8,3% (R$ 7,06) para meios alternativos e outros.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.