Chá de ervas emagrecedor; produto pode oferecer riscos à saúde de usuários

Chás devem ser consumidos com orientação médica. Foto: Freepik.com

Com informações Infoglobo

RIO — O caso da enfermeira Mara Abreu, de São Paulo, que morreu em fevereiro após consumir por vários dias um “chá emagrecedor” proibido no Brasil acendeu um alerta para os riscos de ingerir produtos ditos naturais sem orientação médica. A ingestão das cápsulas — que continham uma mistura de 50 ervas diferentes — provocou na profissional de saúde uma hepatite fulminante. Ela necessitou de um transplante de fígado, mas não reagiu bem à operação e morreu por complicações da cirurgia.

Histórias como a da enfermeira paulista se tornam cada vez mais comuns no Brasil. Na busca por soluções “mágicas” para problemas complexos, como a perda de peso e o tratamento de doenças crônicas, muitas pessoas se arriscam consumindo produtos que se passam por fitoterápicos e prometem resultados satisfatórios em pouco tempo. A facilidade de compra via internet e os depoimentos de quem “provou e aprovou” incentivam aqueles que já estão suscetíveis.

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— As pessoas têm uma percepção errada de que tudo que é natural não traz nenhum prejuízo. Pensam que se bem não fizer, mal não faz. Também acreditam que esses chás vão trazer algum resultado para o emagrecimento. No entanto, não há nenhum estudo científico comprovando a eficácia de chás naturais para emagrecer — afirma Maria Edna Melo, presidente do departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O consumo de plantas medicinais de forma exagerada ou sem prescrição médica pode causar a chamada lesão hepática induzida por ervas, responsável por 34% dos casos de insuficiência aguda do fígado diagnosticados no país, segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia. O efeito colateral de plantas no órgão é chamado de hepatotoxicidade.

Responsável por filtrar o sangue para captar as toxinas e eliminá-las do corpo, o fígado é um dos órgãos que mais sofrem com o uso indiscriminado de ervas. Diante de várias substâncias tóxicas, ele fica sobrecarregado e acaba lesionado.

Lesões variadas

Produtos ditos naturais podem causar os mesmos problemas que remédios tradicionais. Dentre os mais comuns estão as alterações das enzimas hepáticas, hepatites (agudas e crônicas), falência do fígado e até cirrose. As lesões podem surgir tanto pelo uso prolongado das substâncias como logo após a ingestão. Os sintomas mais comuns desse tipo de intoxicação são dores de cabeça frequentes sem causa definida, cor amarelada nos olhos e na pele, enjoos e tonturas e dor na região superior direita do abdômen. Cólicas e diarreias também podem ser um sinal de que há algo de errado.

Algumas plantas, como crotalária, erva cavalinha, kava-kava, cáscara sagrada e chaparral são potencialmente prejudiciais ao fígado. No entanto, o chá verde merece atenção especial, pois possui uma substância chamada catequina que, em grandes concentrações, causa a morte de células do fígado. Em forma de chá, a erva dificilmente fará mal para o órgão. O perigo está quando a erva aparece como ingrediente de cápsulas, já que não há como saber a quantidade da substância tóxica nem a forma como ela foi manipulada.

— Qualquer substância, seja natural ou sintética, pode trazer problemas para a saúde caso seja usada sem orientação profissional . Quando se fala de chás, além de conhecer a substância de que eles são feitos, é preciso ter certeza que se trata da espécie correta, porque infelizmente pode haver adulterações — alerta Maria Angélica Fiut, nutricionista e presidente da Associação Brasileira de Fitoterapia (ABFIT).

A melhor maneira de não correr o risco de se intoxicar com esses produtos é não fazendo uso sem orientação de um profissional de saúde especializado. Chás naturais — como de camomila — podem ser comprados em mercados. Já os produtos fitoterápicos devem ser adquiridos em farmácias. Se for pela internet, apenas em sites de redes de drogarias conhecidas, orienta Hortência Tierling, conselheira federal de Farmácia pelo estado de Santa Catarina. A especialista explica que estes estabelecimentos contam com farmacêuticos responsáveis pelos produtos que são disponibilizados ali, o que garante que têm boa procedência.

— Mesmo que um produto seja adquirido como um alimento, como é o caso dos chás naturais, ele não está isento de contraindicações, reações adversas e até interações com medicamentos. Por isso, é importante ter a orientação de um profissional de saúde especializado — orienta Tierling.

Segundo a Anvisa, são considerados remédios fitoterápicos aqueles “obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e eficácia sejam baseadas em evidências clínicas e que sejam caracterizados pela constância de sua qualidade”. Os produtos devem ser registrados no órgão e seguir regras de rotulagem como os medicamentos, como ter bula, nome do farmacêutico responsável, número de inscrição no Conselho Regional de Farmácia (CRF), além do registro no Ministério da Saúde com treze números, que deve estar ao lado da sigla “MS”.

Regras para chás

Já os chás, que são enquadrados na categoria alimentos e não na de medicamentos, não podem ser vendidos em cápsulas. Em seus rótulos não podem aparecer informações que indiquem prevenção, tratamento e/ou cura de nenhuma doença.

— Alguns rótulos de chás, mesmo sendo enquadrados como alimentos, precisam ter algumas informações específicas. Na embalagem do boldo, por exemplo, a norma da Anvisa exige que venham advertências para portadores de enfermidades hepáticas ou renais — alerta a farmacêutica.

A Anvisa regulamenta também os “produtos tradicionais fitoterápicos”, que são aqueles “obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais”, mas que a segurança e a eficácia “sejam baseadas em dados de uso seguro e efetivo publicados na literatura técnico-científica”. Outra categoria existente é a dos “chás medicinais” que também precisam ser aprovados pela Anvisa.

— É preciso estar atento ao produto que se está comprando. Observe se a embalagem está de acordo com as exigências da Anvisa. Se tiver dúvidas, busque no próprio site da agência para ver se o produto está ou não liberado para consumo no Brasil — finaliza Tierling.

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