Cidade Mítica, obra da artista Bernadete Andrade, será lançada em live neste sábado, 21

O filho da artista e mestre em comunicação pela Ufam Gabriel de Andrade vai participar da live de lançamento (Reprodução/divulgação)

Com informações da assessoria

MANAUS – Recriar e reconhecer o cenário amazônico para trazer de volta a memória viva sobre a história e ancestralidade de Manaus é o que propôs a artista, pintora, cenógrafa e professora Bernadete de Andrade (1953-2007), ao deixar a sua última pesquisa para o deleite de novas gerações de manauaras. A obra intitulada “Cidade Mítica – uma poética das ruínas ou a cidade vista pelo imaginário do artista” traz o mito, a realidade, a filosofia, a arte, a ciência e a poesia, sobretudo, na visão dessa grande artista amazonense que a compôs.

A editora Valer tem a honra de lançar, neste sábado, 21, com direito a live e uma conversa franca, a partir das 10h, em seu Facebook, esse importante livro que procura recolher cinzas e fragmentos de um tempo perdido e que explora, por meio da poética visual, o que ainda podemos encontrar da riqueza mítica imaginária, que a cidade, em seu processo de evolução, vai abandonando. Uma verdadeira poética das ruínas.

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Quem vai participar dessa live especial de lançamento é o filho da artista e mestre em comunicação pela Ufam Gabriel de Andrade, a irmã e professora Magela Andrade, o escritor João Paes Loureiro, a escritora Priscila Pinto, a professora Socorro Jatobá, a escritora Lúcia Rocha e a jornalista Mirna Feitoza. A mediação desse bate-papo será por conta da doutora em Filosofia e coordenadora editorial da Editora Valer, Neiza Teixeira.

Denominação Mítica

Cidade Mítica é uma obra-prima profunda, na qual a autora nos oferece uma aventura nesta Manaus soterrada que sobrevive debaixo dos nossos pés e que se encontra adormecida para a própria população. Ela apresenta uma outra arquitetura da cidade, o nosso habitat e a maneira pela qual podemos nos reconhecer e reconectar com a nossa história.

A autora ressalta no livro que a denominação mítica provém do sentido de ida e volta, de retorno a algo que, como a imagem, contém a mobilidade do espírito e torna presente o que já foi.
“Tal como no mito, no qual a palavra proferida recupera o ato primordial, a imagem ilumina, presenteia aquilo que o esquecimento pudesse ensombrear. Pela construção, ele ganha o sentido de criadora da realidade, sendo a ação do imaginário sobre o real reversível”.

A artista resgata em suas telas a história soterrada dos povos tradicionais da Amazônia. Ainda nesta obra, ela apresenta um profundo conhecimento do grafismo indígena, pintura e desenho étnico, para o qual desempenhou a pesquisa de campo na comunidade supracitada, composta por estas cinco etnias: Sateré, Mura, Tukano, Dessana e Baniwa.

No livro, não se discute a cidade no seu aspecto urbanístico, mas, sim, no sentido mais próximo da arte, porque ela passa a ser vista como um lugar para desenvolver a sensibilidade e a experiência humana, uma vez que nos provoca e proporciona o ingresso em outro nível de realidade. Ao todo, o Cidade Mítica é composto por quatro capítulos.

Nascida em Barreirinha (AM), em 1953, começou sua trajetória no Colégio Aparecida, em Manaus (Reprodução/Divulgação)

Capítulos

No primeiro capítulo, a artista esclarece que o objetivo da pesquisa foi apresentar os dois modos de ser da cidade, o primeiro, o real e histórico, e o segundo, imaginário e mítico. Bernadete trabalhou com autores, intelectuais e líderes indígenas, como Davi Kopenawa Yanomami, Ailton Krenak, Tolomãn Kenhíri, Umúsin Kumu, Kaka Wera Jecupé e Feliciano Lana, que a auxiliaram na compreensão do mito e no sentido da tradição. “São pensamentos de força e beleza poética que nos ensinam a experiência profunda de ser e estar no mundo”, declarou a autora.

Já no segundo capítulo, ela tenta, por dados históricos, descobrir e compreender como se deu o processo de fundação da cidade, no limite com a tradição e a ruptura. Usou obras de Mário Ypiranga Monteiro, Eduardo Galvão, dentre outros. Bernadete explica que teve uma sutileza no olhar sobre a cidade, porque, na configuração da cidade presente, denuncia a ausência de uma outra paisagem, podendo-se dizer, nesses termos, que a imagem que afirma a cidade histórica é a mesma que nega a cidade mítica. “Essa negação é o retrato do silêncio que encontramos no processo de pesquisa relacionado às nações indígenas que foram dizimadas”.

Uma curiosidade, no livro, é que a autora usa obras do pintor William Turner como motivação estética. Turner é conhecido autor de pinturas sobre o tema tempestade, cuja sutileza de um pincel nos envolve na atmosfera de imagens misteriosas e indefinidas.

O terceiro capítulo reverencia a terra, a Grande Mãe, como guardiã das memórias de uma infinidade de povos que por aqui passaram. Ele é, segundo a autora, o coração da investigação, posto que descreve o caminho e a chegada à cidade mítica, batizada como Suanam, nossa outra face ausente, e que, lida de trás para a frente, volta a ser Manaus. Aqui, ela mescla o imaginário com dados recolhidos dos relatos de frei Gaspar de Carvajal, da primeira expedição exploratória do Rio Amazonas.

No quarto e último capítulo, exibe-nos um diário artístico, no qual consta um processo da pesquisa, rascunho, esboços, fotos, colagens e imagens que foram significativas na trajetória da Cidade Mítica. Os lugares por qual ela passou reaparecem nesta seção, com fotos de intervenções artísticas.

Sobre Bernadete Andrade (1953-2007)

Nascida em Barreirinha (AM), em 1953, começou sua trajetória no Colégio Aparecida, em Manaus, onde cursou o ensino primário. Ingressou na Escola Técnica Federal, onde teve o primeiro contato com a Arte, por intermédio do professor de desenho Moacir Andrade, no curso de Edificações. Passou a estudar desenho artístico na Pinacoteca de Manaus (Biblioteca Pública) com os mestres Álvaro Páscoa e Manoel Borges.

Estudou desenho e pintura, na Pinacoteca do Estado do Amazonas, e pintura e paisagismo, no Núcleo Companheiros da América, entre 1973 e 1974. Em 1982, concluiu o curso de Filosofia da Universidade do Amazonas (UA). No mesmo ano, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a fazer um curso sobre a cor, com Abelardo Zaluar, no MAM/RJ, e estudar gravura em metal e monotipia, no ateliê do Sesc Tijuca.

Ingressou na Escola de Belas Artes da UFRJ, e, em 1984, ganhou, da Universidade do Amazonas (UA), uma bolsa de estudos para dar continuidade aos seus estudos no Rio de Janeiro. Além de pintar, criou cenários para espetáculos, bem como bonecos para teatro.

Em 1988, ingressou na Universidade do Amazonas (UA) como professora de Artes do curso de Educação Artística. Foi integrante da geração de artistas amazonenses surgida na década de 1980. Em 2004, assumiu a Superintendência Regional do Iphan.

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