Cientista alerta: meta do Acordo de Paris de 2015 está fora de alcance; adaptação é urgente


Por: Fred Santana

21 de setembro de 2025
Cientista alerta: meta do Acordo de Paris de 2015 está fora de alcance; adaptação é urgente
Meta para limitar o aquecimento do planeta e diminuir os impactos das mudanças climáticas, como a estiagem de 2023/2024 no Amazonas, está cada vez mais distante (Ricardo Oliveira)

MANAUS (AM) – A meta global de limitar o aquecimento da Terra a 1,5°C, firmada em 2015 no Acordo de Paris, não está mais ao alcance de ser cumprida. O duro alerta é do cientista Paulo Henrique de Mello Santana, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e colaborador do livro “Energia do Lixo” — vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico de 2025 na categoria Engenharia.

Para ele, no entanto, o diagnóstico não deve ser lido como pessimismo, mas como premissa essencial para que a humanidade possa agir e se adaptar. “A meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C tornou-se cada vez menos viável, mas isso não significa que a ação perdeu sentido. O horizonte realista agora é duplo: reduzir emissões o máximo possível para evitar ultrapassar 2°C e, ao mesmo tempo, colocar a adaptação no centro da agenda”, avalia Santana.

O cientista defende que a adaptação (se adequar aos efeitos) climática deve receber a mesma prioridade da mitigação (diminuir os efeitos). “Não basta falar de mitigação; precisamos preparar cidades, economias e comunidades para os impactos já em curso — secas, enchentes, ondas de calor. Como desenvolvo em meu livro Para além da negação, é essencial reconhecer a realidade da crise climática e agir em duas frentes: cortar emissões com urgência e fortalecer a resiliência das sociedades”, sugere o cientista.

Financiamento escasso

O grande problema, porém, é quem pagará essa conta. De acordo com o relatório Adaptation Gap Report, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), seriam necessários até 387 bilhões de dólares por ano para financiar medidas de adaptação. O volume de recursos mobilizados pela comunidade internacional, no entanto, alcançou apenas 21,3 bilhões de dólares, ou seja, 5,5% do necessário.

“Precisamos de um esforço de guerra em duas frentes simultâneas: adaptação e descarbonização”, pediu Paulo Henrique Santana. “Essa lacuna não é apenas um número; são sistemas de alerta que não são instalados, infraestruturas que não são construídas e vidas que são perdidas”, alertou, reforçando que a falta de recursos compromete diretamente a segurança e a resiliência das comunidades mais vulneráveis. Santana acrescenta que a prioridade deve ser a aplicação prática desses recursos, transformando ciência e planejamento em medidas concretas de proteção.

Assinado em 2016 na ONU, Acordo de Paris sofre para conseguir financiamento e atingir metas (Mark Garten / UN Photo)

Paulo Henrique Santana afirma ainda que uma forma de impedir o pessimismo e romper a inércia está na comunicação. “Para romper a inércia, é fundamental mudar a forma de comunicar o tema. Precisamos sair da abstração das metas globais e mostrar como a crise climática já afeta a saúde, a segurança alimentar, a economia e o dia a dia das pessoas. A comunicação mais eficaz conecta ciência com histórias reais e evidencia tanto os riscos da inação quanto os benefícios de agir”, sugere.

Outra demanda que não pode ser ignorada é a economia. “A mobilização social deve articular a ideia de oportunidade: a transição climática é inovação, empregos verdes e inclusão. E a articulação institucional precisa unir governos, setor privado e sociedade civil em torno de uma narrativa clara: mitigação e adaptação não competem, elas se complementam. Só com essa visão integrada podemos transformar a agenda climática em prioridade transversal e gerar ação coordenada”, pondera Santana.

Vale lembrar que segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura média mundial já subiu 1,1°C, e as emissões precisam ser reduzidas quase pela metade até 2030 para que essa meta tenha alguma chance de ser alcançada.

Leia mais: Saída dos EUA do Acordo de Paris deve impactar projetos na Amazônia

Editado por Eduardo Figueiredo

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