Cientista alerta sobre aumento de violência sexual contra mulheres no AM
Por: Letícia Misna
26 de março de 2025
MANAUS (AM) – Em 2024 o Amazonas ficou em terceiro lugar no ranking de violência contra mulheres, com 604 casos registrados, atrás apenas dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. O dado alarmante foi exposto pelo relatório anual ‘Elas vivem – um caminho de luta‘, de autoria da Rede de Observatório da Segurança.
À CENARIUM, a cientista social Tayná Boaes, pesquisadora da Rede e autora da análise sobre o Amazonas, destacou os casos sexuais envolvendo menores de idade no estado. “Chama atenção a violência que atinge a vivência de meninas amazonenses: 84% de vítimas de violência sexual tinham de 0 a 17 anos”.


No estudo, Tayná lembrou o caso ocorrido em setembro do ano passado, em Jutaí, a 751 quilômetros de Manaus, quando Laylla Victória de Assis, de apenas 1 ano de idade, foi vítima de estupro, assassinato e teve o corpo jogado no rio.
“O crime causou grande comoção e revolta na população, que invadiu a delegacia, retirou o suspeito da cela e o linchou até a morte. Esse evento doloroso reflete o cenário da ausência de políticas para a proteção a meninas e mulheres amazonenses”, comentou Boaes no relatório.
Omissão de cor
A cientista social também chamou atenção para o índice de declaração de raça dessas mulheres e meninas.
“Nós observamos um elevado número de informações que omitem o pertencimento racial dessas vítimas, o que configura um obstáculo para o enfrentamento que leva em consideração esses aspectos da violência de gênero”, disse à CENARIUM.
Segundo o relatório, 97,5% das vítimas constatadas não tiveram identificação de raça ou cor, o que, para a Rede, reforça a necessidade de investigações aprofundadas considerando as legislações vigentes.
Mulheres trans
O Amazonas, Estado mais recente a fazer parte da Rede de Observatório da Segurança, também registrou casos envolvendo mulheres trans em 2024: foram dois transfeminicídio, segundo o relatório.
“Isso [transfeminicídio] nos direciona para o atravessamento de marcadores sociais, principalmente na influência interpretativa desse crime que ainda é baseado em definições biológicas do sexo, o que limita a aplicação de leis que protejam mulheres transexuais e travestis”, destacou Tayná Boaes.
Para a pesquisadora, embora as leis estejam avançando no reconhecimento da violência de gênero, elas ainda não abrangem todas as circunstancias envolvidas nas mortes de mulheres.
Amazônia
‘Elas vivem – um caminho de luta’ analisou nove estados brasileiros. Entre eles, além do Amazonas, foram observados mais dois estados que fazem parte da Amazônia Legal: Pará e Maranhão.
No ranking geral de casos de violência, o Pará ficou em quarto lugar. Por lá, em 2024, foram 388 casos, o que representa um aumento de 73,2% em relação a 2023, com 224 registros.

Ocupando o quinto lugar, o Maranhão aparece logo atrás do Pará, com 365 casos. Em relação ao ano anterior, que registrou 195 casos, o crescimento da violência contra mulher foi de 87,2%.
“O nosso esforço ano após ano é continuar chamando atenção para um fenômeno muito maior do que os dados revelam. A violência contra a mulher ela segue sendo normalizada, tanto pela sociedade civil quanto pelo poder público, como apenas mais uma pauta social; por isso os números permanecem altos, enquanto as políticas de assistência se tornam cada vez mais frágeis”, concluiu Tayná Boaes.