Cientista do Inpa recebe prêmio e pede valorização dos saberes tradicionais


Por: Ana Cláudia Leocádio

13 de março de 2025
Camila Cherem Ribas é pesquisadora do Inpa (Composição: Lucas Oliveira/CENARIUM)
Camila Cherem Ribas é pesquisadora do Inpa (Composição: Lucas Oliveira/CENARIUM)

BRASÍLIA (DF) – A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Camila Cherem Ribas, recebeu nesta quarta-feira, 12, o Prêmio “Mulheres e Ciência”, idealizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em Brasília. A cientista dedicou a conquista ao trabalho que desenvolve com as populações tradicionais da Amazônia, e pediu que o vasto conhecimento delas seja reconhecido pelo sistema de ciência e tecnologia do Brasil.

Ribas foi uma das 11 cientistas agraciadas nesta primeira edição da premiação, realizada pelo CNPq, e que distribuiu R$ 500 mil em dinheiro às mulheres que dedicam a vida a fazer ciência, além de benefícios e ações de reconhecimento.

Evento de premiação foi realizado nessa quarta-feira, 12, em Brasília (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

O Prêmio “Mulheres e Ciência” foi dividido em três categorias: a de Estímulo, voltada para pesquisadoras com até 45 anos, que receberão R$ 20 mil; a de Trajetória, que contempla cientistas com 46 anos ou mais, cuja premiação chega a R$ 40 mil; e a de Mérito Institucional, que foca no reconhecimento a instituições comprometidas com a equidade de gênero na ciência, com prêmio de R$ 50 mil.

No total, foram 1.134 propostas apresentadas, sendo 697 na categoria Estímulo, 410 na categoria Trajetória e 27 na categoria Mérito Institucional. Camila Ribas foi contemplada na categoria Trajetória: Ciências da Vida. Além do dinheiro, a pesquisadora participará de uma missão ao Reino Unido para discutir políticas de educação superior e ciência.

Carreira dedicada à Amazônia

Vinculada ao Inpa desde 2009, Ribas relata que já tinha ligação com as pesquisas na Amazônia, desde o doutorado. Ela é gradua em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), e mestre e doutora em Genética e Biologia Evolutiva pela Universidade de São Paulo (USP). O trabalho de pesquisa atual da especialista é voltado para o estudo de processo de diversificação na região neotropical, com ênfase na história biogeográfica da região amazônica.

Camila Ribas foi contemplada na categoria “Trajetória: Ciências da Vida” (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

Eu estudo a ocorrência, a distribuição e a evolução, principalmente das aves. Como as aves têm uma relação muito específica com os diferentes ambientes que ocorrem na Amazônia, a gente estuda as aves como um lugar para o todo, para entender a paisagem amazônica, os diferentes ambientes amazônicos, como que eles interagem ao longo do tempo, como que eles são ameaçados pelos diferentes tipos de impacto”, explicou a pesquisadora.

Em seu discurso, após receber o prêmio, Camila Ribas disse que essa premiação traz visibilidade e colabora também para dividir melhor o reconhecimento da ciência no Brasil e que deve trajetória dela a muitas pessoas. Ela afirmou também que ainda há muito a avançar.

Espero que esse tipo de premiação leve a gente para o caminho de uma sociedade em que, vai chegar um momento, em que não precisa de premiações exclusivas para mulheres. O momento em que a sociedade seja igualitária suficiente para a gente não precisar fazer premiações que tratem as mulheres cientistas como minorias, mas a gente ainda está um pouco longe disso”, ressaltou Ribas.

Para a pesquisadora, uma carreira científica nunca é individual, apesar dos prêmios serem por natureza individuais. “Uma carreira se faz de uma construção antiga e, no meu caso, eu devo muito à comunidade acadêmica científica que atua na Amazônia. Muitas vezes com grandes dificuldades, pelas diferenças regionais do país e fazendo ciência de qualidade, com soberania, que ajuda a proteger uma das regiões mais importantes do planeta”, afirmou.

Ribas também declarou seu reconhecimento pela atuação fundamental das populações amazônicas, as populações tradicionais indígenas e ribeirinhas que têm um conhecimento profundo sobre a região e que, em geral, não é muito bem reconhecido pelo sistema de ciência e tecnologia do Brasil, ainda, e precisa ser trabalhado.

Ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, participou do evento (Ana Cláudia Leocádio/CENARIUM)

Fico muito feliz que parte dos resultados da minha pesquisa, em parceria com essas populações tradicionais, indígenas e ribeirinhas, ajudaram a ganhar esse prêmio. Porque nós temos produzido vários produtos de pesquisa juntos. (…) Que traga visibilidade para a importância, a força e o fornecimento das populações amazônicas para gerar ciência com grande excelência na região amazônica, trazendo soberania para essa região tão importante”, concluiu.

A premiação

Segundo a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, a proposta do prêmio foi lançada durante a 21ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (21ª SNCT), em novembro do ano passado, pelo CNPq, e conseguiu cumprir todas as etapas para realizar a entrega das premiações, neste mês de março, dedicado às mulheres.

Santos disse esperar que essa premiação inspire novas gerações a trilhar o caminho da ciência. “A história da ciência está repleta de contribuições femininas, embora sejam invisibilizadas”, afirmou

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, afirmou que premiações como estas são necessárias para trazer à sociedade brasileira e enorme valor das mulheres para o desenvolvimento científico do país. “Um prêmio como este serve de farol para outras meninas”, ressaltou.

De acordo com o CNPq, a premiação foi resultado de uma parceria realizada com o Ministério das Mulheres, o British Council e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF).

As cientistas vencedoras
  • Categoria: Estímulo

Ciências da Vida: Mariana Emerenciano Cavalcanti de Sá – Instituto Nacional de Câncer (INCA);

Ciências Exatas, da Terra e Engenharias: Patricia Takako Endo – Universidade de Pernambuco (UPE);

Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes: Marina Alves Amorim – Fundação João Pinheiro (FJP).

  • Categoria: Trajetória

Ciências da Vida: Camila Cherem Ribas – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA);

Ciências Exatas, da Terra e Engenharias: Mariangela Hungria da Cunha – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa);

Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes: Debora Diniz Rodrigues – Universidade de Brasília (UnB).

  • Categoria: Mérito Institucional

Universidade Federal Fluminense (UFF);

Universidade Federal do Ceará (UFC);

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).

Leia mais: Capes e CNPq debatem ampliação de indígenas em editais de pesquisa
Editado por Jadson Lima

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