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Cientistas recomendam afastamento de Bolsonaro por genocídio
Mulher indígena protesta contra Bolsonaro em Brasília, em junho de 2021 (Eraldo Peres/AP)
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29 de agosto de 2021
Marcela Leiros – Da Cenarium
MANAUS – Um artigo de cientistas do Brasil publicado na revista científica Journal of PublicHealth Policy na quinta-feira, 27, dá respaldo à Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) da Covid, apontando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está contribuindo para o genocídio de povos indígenas e transformou o Brasil no epicentro global da Covid-19. Os cientistas também dão recomendações para que Bolsonaro seja afastado do cargo e para que seja denunciado no Tribunal de Haia por crimes contra a humanidade.
O artigo “How Brazil’s President turnedthe country intoa global epicenter of COVID‑19” ainda indica que o governo federal tem empreendido uma agenda política que contribuiu para a propagação da Covid-19 e representa um risco para os esforços mundiais de contenção da doença.
No documento, os cientistas apontam que a mortalidade elevada de populações vulneráveis, como indígenas e negras, por Covid-19, é um “reflexo das políticas governamentais relacionadas com a chamada ‘agenda da morte’ que afeta os povos indígenas e quilombolas, juntamente com a vulnerabilidade social que estes povos enfrentam e a vulnerabilidade genética dos povos indígenas”.
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Os pontos desta “agenda da morte” são indicados como a distribuição, pelo exército, de hidroxicloroquina aos povos indígenas, e a sanção, por Bolsonaro, de expulsões dos povos tradicionais dos territórios que historicamente ocuparam, assim como o veto a medidas para fornecer água potável e camas hospitalares aos povos indígenas durante a pandemia. “Os filhos do presidente e as autoridades federais visitaram mesmo aldeias indígenas perto de Manaus sem usar máscaras, colocando as comunidades em risco”, destaca o documento.
Epicentro global
Os cientistas pontuam três indicadores que transformaram o País no epicentro global da Covid-19, levando ao registro de 559 mil mortes e taxas de mortalidade diárias de mais de 2 mil mortes nas últimas semanas. O primeiro seria o número de casos diários e de mortes superior aos valores médios globais e o atraso na vacinação e lacunas no plano nacional de vacinação, que “aumentou a transmissão comunitária no País apesar do avanço da vacinação”. Por último, é pontuado o surgimento de um grande número de novas variantes.
“Isto faz do Brasil um viveiro de novas variantes e traz consigo o potencial para o surgimento de uma variante que resiste às vacinas”, destacaram.
Manaus
Manaus ainda aparece no artigo como modelo de negligência na contenção da pandemia, o que ocasionou a segunda onda da doença, “que poderia ter sido evitada, uma vez que os modelos epidemiológicos apresentados às autoridades de saúde pública tinham alertado para um segundo colapso do sistema de saúde com meses de antecedência”.
Os cientistas indicam que esta negligência em conter a pandemia na capital amazonense deu origem à cepa P.1 do SRA-CoV-2, com o dobro da taxa de transmissão da cepa que iniciou a pandemia. Entre as causas desta negligência estaria, principalmente, o regresso às aulas presenciais na capital, em setembro de 2020. “Três semanas após a reabertura das escolas, o número de hospitalizações duplicou, seguido de um aumento mais gradual desde o colapso da saúde em dezembro de 2020”, destacaram.
A cidade ainda é considerada um modelo consagrado da resposta inadequada do governo brasileiro quando foi a primeira a enterrar os seus mortos em valas comuns durante a primeira onda e tornou-se o local de “muitas mortes evitáveis quando os abastecimentos de oxigénio foram permitidos durante a segunda onda, e a fonte da variante gama “brasileira””.
Os cientistas
O artigo foi assinado pelo doutorando em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante, os doutores em Matemática, Luiz Duczmal e Wilhelm Alexander Steinmetz, o doutor em Engenharia Elétrica, Alexandre Celestino Leite Almeida, o doutor em Estatística, Jeremias Leão, a doutora em Imunologia, Ruth Camargo Vassão, o doutor em Medicina, Unaí Tupinambás, e pelo doutor em Ciências Biológicas e pesquisador titular do Inpa, Philip Martin Fearnside.
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