Ciro Gomes diz que China possui artefatos militares na Venezuela apontados para Manaus por conta das ‘maluquices’ de Bolsonaro

O pré-candidato à Presidência do PDT, Ciro Gomes (Márcia Foletto/Foto de Arquivo)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O candidato à Presidência, Ciro Gomes (PDT), afirmou que a China teria artefatos militares na Venezuela apontados para Manaus, “mais eficazes do que qualquer estrutura dissuasória de defesa brasileira“. A declaração ocorreu durante o ‘Encontro de Candidatos à Presidência’, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na quinta-feira, 21.

Principal parceiro econômico brasileiro, a China possui relações financeiras nos setores de energia, mineração, siderurgia, petróleo e soja. Esse último, sendo o motivo do descontentamento chinês, de acordo com Ciro Gomes.

“A China está muito infeliz com a política externa brasileira, com as coisas que o Bolsonaro andou fazendo”, disse o presidenciável que completou afirmando que os chineses “estão com artefatos militares na Venezuela, aqui do lado, mais eficazes do que qualquer estrutura dissuasória de defesa brasileira, com mira em Manaus, porque começaram a desconfiar das ‘maluquices’ da nossa governança brasileira“, completou.

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Apesar do descontentamento do parceiro comercial, os dados econômicos mostram crescimento. No primeiro trimestre de 2021, em comparação com 2020, segundo dados do Ministério da Economia (ME), a corrente de comércio entre os países cresceu 19,5% e as exportações brasileiras para a China teve aumento de 28%. Enquanto o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou que o comércio bilateral Brasil-China cresceu 44% e alcançou US$ 125 bilhões em negociações no ano passado.

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No entanto, Ciro diz ter lido documentos chineses anunciando uma projeção de cinco anos para que o País consiga ter autonomia na produção de proteínas vegetais, atualmente, exportada, majoritariamente, pelo Brasil. “Eles fazem planos e cumprem“, declarou. A China já havia começado a buscar diversificação na originação de soja, tendo fechado, ainda em 2020, uma parceria de importação com a Tanzânia.

Apesar de não ter refletido, diretamente, na política econômica externa do Brasil, a má relação entre os países tem feito com que os chineses busquem, cada vez mais, outros parceiros econômicos. O País, inclusive, foi deixado de fora da reunião com embaixadores convocada por Bolsonaro para falar sobre a urna eletrônica e eleições.

Mesmo que a China esteja sem embaixadores efetivos em Brasília, como outros países, isso não justifica a ausência do convite, tendo em vista que os Estados Unidos está na mesma situação e recebeu o convite para a reunião no Palácio da Alvorada, realizada no último dia 18 de julho.

Neoprotecionismo e comércio internacional

De acordo com o presidenciável, a China pretende usar argumentos ambientalistas para procurar barrar, por meio da Organização Mundial do Comércio (OMC), as negociações brasileiras. “Há protecionismo sustentando argumento ambiental para restringir as exportações brasileiras em proteínas“, disse.

O protecionismo do qual Ciro fala se refere às políticas ambientais de Bolsonaro que, em apenas três anos de governo, causou um aumento no desmatamento em todos os biomas brasileiros, perdendo 42 mil km² de vegetação nativa total. Só na Amazônia, a perda foi de 59% do território, segundo relatório do MapBiomas.

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A pergunta feita por João Carlos Basilio da Silva, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), que resultou na resposta polêmica de Ciro, era justamente sobre a sustentabilidade econômica durante a crise climática e as possibilidades de articulações pautadas em inovação.

Migração na Amazônia

Ciro parte contextualizando sobre o embate ideológico de sustentabilidade da extração e posse de terras, que de acordo com ele, existe uma resistência “hostil” por parte de quem vive na Amazônia. O presidenciável explica que essa hostilidade está na raiz dos migrantes nordestinos e gaúchos, convidados a morar na Amazônia, há 30 anos, com a condição de comprovarem o desmatamento para ganharem o título de terra.

Então, eu ía, ganhava um lote do Incra, mas o Incra só me dava o papel se eu provasse com um atestado que eu desmatei um pedaço. De repente, ainda na mesma geração, ou do filho, a condição para ter acesso à terra para remunerar a migração, virou crime inafiançável, que matar uma pessoa não é“. Segundo Ciro, essas condições de migração resultaram em uma cultura enraizada de extrativismo e desmatamento que os amazônidas carregam até os dias atuais.

Ciro ainda tece críticas a respeito da falta de efetivo policial para cuidar do Estado do Amazonas. “O Amazonas é maior que Espanha e Portugal juntos e mais um pedaço da Itália e só tem duas delegacias da Polícia Federal, com dois delegados. […] ali em Tabatinga não existe mais governo, quem manda ali é a rede do crime, isso, ao redor dos quartéis do Exército brasileiro. Uma desmoralização absoluta“, declarou.

Ele justifica que toda essa falta de políticas, na Região Norte, partem de uma visão centrista no eixo Rio-São Paulo-Brasília que não corresponde ao elemento humano, social e cultural da Amazônia”.

Por que o Bolsonaro ganhou as eleições na Amazônia? Porque ele destruiu todas as estruturas de comando e controle na área. Acabou com o ICMBio, com a Funai, com o Ibama e desmontou o Exército, a Polícia Federal, a Marinha, ninguém pode fazer nada […] isto é uma imprudência porque, de verdade, a humanidade está se preocupando com as mudanças climáticas“, completa.

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