Coletivo ‘Soul do Monte’ leva cultura, educação e inclusão digital para moradores de comunidade no AM

Entre voluntários e alunos, o coletivo conta com mais de 130 pessoas envolvidas nos projetos audiovisuais, fotográficos, teatrais e na produção de podcasts, oficinas de gêneros textuais, escrita criativa e fanzines (Foto: Ricardo Oliveira/ Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS — O acesso à educação, lazer e esporte é um direito assegurado por lei para as crianças e adolescentes. Entretanto, a realidade de bairros periféricos é outra. A ociosidade na infância e adolescência, nesses locais, pode levar a caminhos diferentes dos educacionais. E é por isso que, em diversos bairros, os próprios comunitários criam os espaços de lazer e cultura para suprir a ausência de políticas públicas que possibilitem o acesso a esses direitos. E foi dessa forma que nasceu, há dois anos, o Coletivo Soul do Monte, localizado no bairro Monte das Oliveiras, Zona Norte de Manaus.

Segundo o coordenador do projeto, Rojefferson Moraes, a criação do coletivo partiu de uma vivência dele. Nascido e crescido no bairro, Rojefferson encarou de frente o problema vivido por outras famílias que moram no local.

“Quando eu pensei em fazer um trabalho aqui dentro do bairro, que é um bairro com 30 anos de existência e não tem nenhum tipo e trabalho nesse campo, partiu justamente do fato de eu ter perdido dois irmãos e uma prima aqui dentro para o tráfico. Então eu sei o que é ter a família atravessada por essa problemática”, afirma.

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Projeto nasceu da necessidade de levar lazer e educação para os jovens da periferia. (Foto: Ricardo Oliveira/Cenarium)

O Monte das Oliveiras nasceu da invasão de terrenos na década de 1980, liderada pela Irmã Helena Walcout, responsável também pela criação de outros oito bairros de Manaus, conhecidos pela violência e guerra do tráfico.

“Antigamente, para gente sair na rua era arriscado, a gente tinha medo de ser assaltado, de ser morto, antes nossa vida era cercada pela violência. O Rojefferson foi fazendo esse resgate das pessoas, tentando criar o espaço e nisso começou a agregar a comunidade, que tem agora bastante voluntários”, conta Alessandra Lopes, voluntária do projeto.

O Soul do Monte busca reparar vulnerabilidades, criando espaços tanto para crianças e adolescentes participarem de oficinas quanto para os pais acompanharem os filhos e procura acolher aqueles que perderam familiares para o tráfico, bem como mulheres em situação de vulnerabilidade social.

“A ideia é ocupar as crianças e tirar elas do ócio, mas também ser um espaço de amparo para essas mães e famílias que muitas vezes têm a vida marcada pelo preconceito, por perderem filhos para o tráfico. Só que o ‘moleque’ se envolveu com o tráfico porque o Estado falhou, ele não está aqui dentro fazendo o que deveria ter feito”, explica o coordenador.

Entre voluntários e alunos, o coletivo conta com mais de 130 pessoas envolvidas nos projetos audiovisuais, fotográficos, teatrais e na produção de podcasts, oficinas de gêneros textuais, escrita criativa e fanzines.

Crianças produziram conteúdos para jornal experimental sobre a história do bairro (Foto: Acervo Pessoal)

Segundo o coordenador do coletivo, a pandemia foi responsável por unir a comunidade. Durante o período mais crítico da Covid-19, o espaço passou a receber cestas básicas e era responsável pela distribuição. Essa ação contava com quatro pessoas inicialmente e acabou trazendo mais pessoas para dentro do galpão como voluntárias.

“Foram 400 famílias atendidas, mais de mil cestas básicas doadas, 500 kits de higiene, mais de 2 mil máscaras de proteção produzidas e mais de R$100 mil em alimentos doados por meio de cartão alimentação via Gerando Falcões“, contou Rojefferson.

Atualmente, o projeto recebe apoio do governo do Estado, por meio da Fundação Amazônia Sustentável e do Global Shapers, que possibilitou a construção do banheiro, fossa biológica e a sala multimídia do espaço.

Curso de informática é oferecido para a comunidade em três turmas de idades variadas (Foto: Ricardo Oliveira/Cenarium)

Dentre as oficinas e cursos ofertados no coletivo, as aulas de informática se destacam por proporcionar inclusão digital para a comunidade. Com três turmas e utilizando plataforma online de aprendizagem, o curso de informática básica já atendeu cerca de 60 alunos e tem como supervisora a voluntária Lyzandra Lopes, que recebeu treinamento e agora passa o aprendizado para a comunidade.

Lyzandra conta que dar esse suporte fez com que ela descobrisse a paixão por lecionar. “Primeiro, eu aceitei pela experiência, mas depois percebi que eu gosto de ensinar. Eu gosto de ensinar cada aluno até eu perceber que ele aprendeu. Antes de estar aqui eu não sabia o que queria fazer, mas acho que quero continuar sendo professora”, disse.

Coletivo conta com mais de 130 pessoas envolvidas (Foto: Ricardo Oliveira/Cenarium)

Na busca por garantir a inclusão das mulheres no mercado de trabalho, o Coletivo Soul do Monte oferece cursos de capacitação, e foi na criação de um desses que surgiu a necessidade da criação do curso de informática.

“Nós tínhamos ofertado um curso de operadora de caixa para mães aqui do bairro, porém, quando elas foram fazer a técnica, nós nos demos conta de que elas não tinham noção de informática. Então, foi por isso que passamos a ofertar o curso”, explica Rojefferson.

Atualmente, o coletivo já conseguiu empregar seis mulheres no Shopping Grande Circular, na Empresa Sodexo e no mercado local. Além das oficinas, o local oferta atividades permanentes, que incluem aulas de ginástica coletiva, com 30 mulheres, aulas de capoeira para 30 crianças e palestras de Prevenção dentária, orientação jurídica para mulheres, tipos de violência contra a mulher e atenção para a saúde da mulher.

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