Com 525 mil atingidos, cheia no AM escancara País que ignora sua própria gente
Por: Bianca Diniz
26 de junho de 2025
Por que os números que deveriam dimensionar a gravidade da cheia já não chocam mais? O que acontece com o Brasil, que não se importa com o sofrimento de 525 mil pessoas no Amazonas?
Segundo a Defesa Civil do Estado do Amazonas, 40 dos 62 municípios estão em situação de emergência por causa da cheia dos rios. Outros 18 estão em alerta. Apenas quatro seguem em condição de normalidade. E, ainda assim, o País assiste em silêncio.
A cheia de 2025 atinge todo o território estadual – das vias urbanas aos rios mais distantes –, impactando a vida das comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas, deixadas à própria sorte. A água não arrasta apenas casas e pertences: inunda também uma rede de proteção social cada vez mais frágil, desmontada pela ausência de políticas públicas estruturantes e agravada por anos de negligência, corrupção e desmonte ambiental.
Em municípios como Uarini, mais de 2.200 famílias estão isoladas, com fome, sem acesso à saúde ou à educação. Em Manaus, bairros como o Educandos convivem com lixo, ratos e esgoto a céu aberto. A distribuição de cestas básicas e pontes improvisadas se tornaram a “resposta-padrão de um Estado” que só aparece quando os impactos já estão consolidados e, mesmo assim, se limita a ações pontuais, não estruturais.

Os povos da floresta, que mantêm viva a Amazônia, são sempre os primeiros a sofrer e os últimos a serem ouvidos. Não há plano de adaptação climática. Não há investimento real em saneamento, infraestrutura ou segurança alimentar.
A cheia é um fenômeno natural, recorrente e previsível. O problema está na ausência de planejamento e na incapacidade do poder público de proteger os mais vulneráveis. O que se vê no Amazonas é a repetição de um colapso social e político, cada vez mais naturalizado.
